Capítulo 1

59 1 0
                                    


Sebastian aprendera uma coisa ao ser transportado como uma caixa de presente para diversos lares adotivos ao longo da infância e da adolescência: mentir. Não era algo difícil, bastava manter os olhos intensamente presos aos da pessoa e a postura relaxada como se estivesse contando à sua mãe que comera apenas uma bala do pote vazio no balcão.

Observou o prédio de quatro andares na Quinta Avenida que se erguia à sua frente. Empurrou os óculos de aro preto para a ponte do nariz a fim de inspecionar melhor o seio da família Greenwood, mesmo que o mapa daquele prédio reluzente estivesse gravado em sua mente. Devia valer milhões de dólares, então não seria difícil tirar uma parte do dinheiro da família.

— Você tem três minutos para atravessar o hall de entrada antes das câmaras voltarem para a posição inicial — disse West pelo intercomunicador, ao fundo o som incessante das teclas dos teclados em que ele digitava.

Sebastian tocou a orelha de leve e com cuidado para não tirar o pequeno intercomunicador do lugar.

— Eu sei o tempo, rato, apenas faça o seu trabalho — Sebastian sussurrou, abotoando seu terno ao entrar no hall do prédio.

Seus olhos percorreram o local decorado em estilo vintage com tons de dourado, branco e negro, registrando todas as câmeras viradas para o lado contrário à porta, e, por fim, parando no lustre de cristal acima da sua cabeça. O canto de seus lábios se levantou levemente ao ver o brilho pequeno e quase imperceptível de uma câmera escondida. Ele continuou andando e parou a alguns passos do elevador ao escutar:

— Sr. Benedict Campbell?

Abrindo um sorriso que sabia ter efeito nas mulheres, virou-se para a recepcionista, que estava vestida com um terninho vermelho e os cabelos escuros presos em um coque firme, e respondeu:

— Sim?

Ela caminhou em sua direção, passando direto por ele e entrando no elevador, sua sobrancelha arqueada ao encará-lo.

— O Sr. Greenwood o espera.

— Claro — ronronou, acompanhando-a no elevador.

A "recepcionista" não tinha mais que vinte anos, e estava rija o suficiente para Sebastian duvidar que fosse o que aparentava ser.

Levando um dedo à têmpora ao encostar-se na parede fria do elevador, seu dedo indicador tocou levemente um botão diminuto no aro dos óculos, um pequeno clique soando ao capturar uma foto da mulher. Suas informações surgiram na lente no mesmo instante: Diana Greenwood, 18 anos, filha adotiva de Elizabeth Greenwood, presidente da empresa da família e mais informações que não eram importantes o suficiente para lidar no momento.

Sebastian poderia rir com a ironia de se encontrar com a filha adotiva do seu alvo na entrada do prédio.

— Edward está esperando-o nas portas do elevador, esteja preparado — West avisou, fazendo com que Sebastian estalasse a língua em reconhecimento.

As portas se abriram segundos depois e um homem mediano com cabelos loiros grisalhos e olhos castanhos esperava-o com um sorriso estampado no rosto com bronzeamento artificial em excesso.

— Benedict, meu amigo! Como foram as férias na Itália? — perguntou ao apertar a mão de Sebastian, ignorando completamente a sobrinha que havia paralisado na entrada da sala de estar. — Muitas italianas atraentes? — sussurrou.

— Encontrei muitas que eram tão dóceis quanto uma cadela.

As palavras saíram amargas de sua boca, mas sabia dos gostos de Edward. Diana resmungou algo ao sair de sua pose de estátua e caminhou a passos duros para outra sala.

— Prazer em conhecê-la, srta. Greenwood — disse alto, fazendo-a franzir as sobrancelhas, a confusão em seus olhos estava clara: ela não havia dito seu nome. Sebastian piscou para ela, que bufou e virou no corredor.

Edward olhou para o terno cinza de Sebastian e por fim para seus sapatos, sua cabeça acenando em aprovação silenciosa.

— Você tem bom gosto.

Sebastian acenou para a sala à frente, escutando vozes femininas.

— Não irá me apresentar?

— Claro, claro.

Era fácil enganar Edward. Era fácil dizer o que ele queria ouvir.

Seus óculos fotografaram sucessivamente quadros que pareciam caros o suficiente para serem roubados e vasos antigos, mas é claro que Sebastian não era um ladrão, era apenas um simpatizante.

— Cada quadro vale uma pequena casa no Brooklyn — West disse, as informações aparecendo e desaparecendo das lentes dos óculos por tempo suficiente para Sebastian saber que era verdade.

— Quem é o seu novo amigo, Edward?

Sebastian identificou o rosto da senhora de cabelos brancos finos e olhos azuis cristalinos como Lídia, a velha matriarca de 94 anos da família. Digamos que ela viveu por tempo até demais.

Ele deu um passo à frente, apertando a mão delicada da senhora.

— Benedict Campbell, senhora.

A velha pareceu olhar através de Sebastian ao devolver o cumprimento:

— Prazer em conhecê-lo, Sr. Campbell.

Estas pareciam ser as únicas palavras que ouviria de Lídia, pois esta voltou-se novamente para seu jornal, ignorando-os totalmente. Mas seu alvo estava na sala. E isso por si só já era um golpe de sorte.

Ele havia feito a tarefa de casa, por isso sabia exatamente quem era a mulher que, apesar da idade avançada, tinha o corpo e a aparência que uma mulher de 25 anos mataria para ter.

— O que o traz aqui, Benedict?

Seus lábios se repuxaram em um pequeno sorriso ao perceber a frieza e a falta de formalidade em Elizabeth.

— Seu irmão e eu temos assuntos a tratar.

Ela abaixou o livro, seus olhos castanho-esverdeados travando nos de Sebastian.

— Prostitutas?

Ouviu West rir pelo intercomunicador, e por dentro, segurou firmemente uma risada de deboche. Ao invés disso, adotou sua expressão avaliadora e intensa ao se aproximar da mulher e pegar sua mão mesmo sem permissão, seus lábios tocando a mão delicada de Elizabeth.

— Não me subestime, minha senhora. Eu posso discutir sobre tudo e qualquer coisa, se for o seu desejo.

Ela riu, puxando a mão para fora do seu alcance.

— Apenas mais um dos amigos de Edward, mamãe.

A senhora em questão ignorou a filha, sua atenção voltada para uma mulher minúscula com blusa branca, saia florida vermelha e sapatilhas pretas. Seu cabelo castanho escuro estava preso em uma trança embutida e os olhos redondos sensuais olhavam para tudo, menos para as pessoas presentes na sala.

Parecia uma corça assustada.

Com um movimento casual para ajeitar o cabelo, tirou uma foto da mulher de lábios rosados.

— As prostitutas podem ser providenciadas, se é o que pensa sobre a nossa futura conversa, irmã — Edward disse, seu tom seco, ao qual recebeu um aceno de mão indiferente.

O homem caminhou para uma porta escondida por trás das pesadas cortinas de tom claro, esticando o braço à frente.

— Você vem?

— Sim, só um instante.

Sebastian se virou para Elizabeth mais uma vez, deu uma piscadinha e lhe entregou um cartão.

— Se quiser posso ser mais que um amigo para você, me chame se precisar de qualquer coisa e em qualquer horário. — Em seguida se dirigiu à sala de Edward.

Durante o trajeto, Sebastian verificou as informações sobre a criaturinha assustada no canto, junto à matriarca da família Greenwood: Suzanna Wright, 27 anos, professora substituta e cuidadora de idosos. Nada de especial no currículo. Sebastian lançou um último olhar para a Srta. Wrigth. Não seria necessário muito esforço para chegar ao pote de ouro da família afinal.

Um Passo Atrás de Você (Conto 1 - Série Secrets)Onde histórias criam vida. Descubra agora