Não Abra A Porta Para Estranhos [H.S]

75 - Last Christmas.

    A noite já havia caído algumas horas atrás. Com a mão esquerda, James segurava firme a pequena mão de Skye, enquanto na mão direta carregava uma lanterna.

  As duas  crianças adentravam sorrateiramente o bosque repleto de árvores e sons quase inaudíves de animais que aconchegavam-se em seus ninhos, prontos para dormir.

- Hazz - a voz sussurrada da criança menor corta o soar do vento que os cercava.

- O que foi? - o garoto responde, sem virar para encará-la.

- Eu tô com frio. - Skye esconde a mão livre no bolso da capa de chuva amarela que usava.

- Já estamos chegando, daqui a pouco você não vai sentir mais nada. - ele tinha um tom reconfortante e sombrio na voz.

- Promete? - a menina para de andar, afundando suas galochas rosadas na lama.

  Ele vira-se lentamente.
 
 Com o azul de seus olhos brilhando imensamente, ele se abaixa para ficar da mesma altura que ela. Então o menino, no auge de seus 12 anos, sorri gentilmente antes de falar:

- Eu prometo.

  Alguns metros a diante, estava a margem do grande lago...

ALGUMAS HORAS ANTES

A geada cobria a vidro das janelas da casa. O inverno já havia começado e todos na residência dos Daltton pareciam tão frios e distantes quanto a neve que cobria o grama do jardim.

  Já faziam três anos que os gêmeos haviam se tornado parte da família. O convivio tornou-se mais suportável ao longo do tempo, ao menos era isso que parecia.

  Há três anos o nome de Anna Styles não era mencionado. Sua morte havia sido deixada de lado, desde que o culpado fora encontrado morto na cadeia, poucas semanas depois de ter sido preso.

Robert escolheu não mencionar nada sobre Anna ou sobre seu passado, apesar dos meninos ainda chorarem baixinho todas as noites, sentindo falta da mãe amorosa que um dia tiveram.

Quando o relógio bateu meia noite, Rebert, Roselee e as três crianças encontravam-se sentados ao redor da mesa amadeirada, coberta por uma variedade de comidas apetitosas, que faziam o estômago dos pequenos clamar por um pequeno pedaço que fosse.

- Não antes da oração.  - advertiu Roselee, estendendo as mãos abertas sobre a mesa.

Robert segurou sua mão esquerda, a pequena Skye segurou a direta, tendo Harry ao seu lado e James logo após.

Uma oração baixa de ação de graças se seguiu, terminando com um "amém" quase em uníssono.

  Finalmente a ceia de Natal estava sendo devorada.

Os olhos azuis de James se esgueiravam discretamente, observando Harry cortar a carne no prato de Skye e colocar o garfo em sua mão, antes de colocar uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e receber um sorriso da pequena.

James bufa.

Há exatos três anos, ele havia deixado de ser a prioridade de seu irmão. Agora, esse lugar pertencia a Skye.

  Quando Harry não estava brincando com ela, estava contando histórias para ela dormir. Quando não era isso, ele estava segurando sua mão, enquanto a levava para a escolinha.

Cada um desses pequanos atos acendia uma chama no peito de James, um fogo que parecia consumi-lo por completo, restando nada além de raiva e ciúmes em seu jovem coração.

Mas, neste noite, tudo mudaria. Ele tinha certeza disso. Estava tudo planejado.

Assim que o jantar acabou, os adultos sairam da mesa levando a louça suja para a cozinha. As crianças levantaram-se e caminharam em direção a sala, onde o Pinheiro enfeitado brilhava com suas luzes coloridas e chamativas.

- Hazz - Skye chama, puxando a barra da camisa de James.

  Eles eram idênticos. Apenas a cor dos olhos ainda não era suficiente para que a menina de 5 anos conseguisse diferenciá-los - o que, futuramente, poderia acabar custando sua vida.

- Estou aqui, Skye - Harry, volta alguns passos, se ajoelhando na frente da menina, que logo solta a roupa de James e sorri.

- Feliz Natal! - ela oferece-lhe um sorriso largo e estende os braços abertos, fazendo Harry colocá-la em seu colo.

A menina aberta os pequenos braços ao redor do pescoço de Harry, enquanto ele sorri, deixando as covinhas que Skye adorava em evidência.

James apenas cruza os braços, revirando os olhos.

- Está na hora de dormir, meus bebês. Amanhã vocês precisam acordar cedo para abrir os presentes que o papai Noel trouxer. - Roselee afaga os cabelos de Harry,  apontando para as escadas.

Ainda tendo Skye nos braços, eles se encaminha na direção indicada, acompanhado por James e Roselee. Robert os acompanha alguns minutos depois.

- Boa noite, amor. - Harry sussurra, beijando a bochecha de Skye, após deixá-la na porta de seu quarto.

Oa meninos vão para o sótão, enquanto Roselee e Robert entram em seu quarto, após colocar a filha na cama e se despedir.

Skye encontrava-se em um estado de quase-sono. A menina estava coberta pelos grossos lençóis, enquanto acariciava as orelhas do coelhinho de pelúcia que tinha consigo.

  Um barulho repentino a faz despertar, assustada. A luz de seu abajur, havia repentinamente estourado, fazendo um eco seguido de um silêncio perturbador preencher o quarto, agora completamente escuro.

  A menina sente as lágrimas surgirem, o que a faz apertar os olhos. Ela sempre teve medo do escuro.

- Bunny... - ela sussura para seu amiguinho de pelúcia.  - o que faremos?

Suaa pequenas mãos tremiam, apertando firme o lençol.

Reunindo sua pouca coragem, ela coloca os pés no chão frio, caminhando em passos rápidos em direção a porta, abrindo-a em seguida.

Ao ver a luz da Lua preencher o corredor, elas suspira, aliviada.

Sem hesitar, a menina se dirige a porta do sótão, batendo devagar na madeira velha. Logo ela é atendida por um Harry sonolento de cabelos bagunçados.

- O que houve? Por que está aqui? - ele franze o cenho, preocupado.

- A luz apagou... - sua voz era baixa e suave.

Ela não precisava terminar a frase para que ele soubesse o que ela procurava.

Com um sorriso, ele segura em sua mão, levando-a para dentro do quarto e fechando a porta atrás de si.

  Ouvindo passos rangendo sobre o assoalho, James acorda, acendendo o abajur e encontrando os outros dois de pé.

- O que ela está fazendo aqui? - o menino coça os olhos,  sentando-se.

- Skye está com medo do escuro, ela vai ficar conosco está noite. - Harry responde, sussurrando. 

Ele deita-se na cama que dividia com James, colocando Skye ao seu lado e cobrindo-a com sua manta fina.

- Eu não acredito que você vai realmente... - James rebate, incrédulo.

- Eu vou ficar quietinha, Jamie. - a pequena abraça Harry, apoiando a cabeça em seu peito, enquanto encarava James. - Eu prometo.

Ele não podia acreditar que até ali ela se atrevia a estar. Para ele, tinha sido a gota d'água.

Sem mais uma palavra, James apaga a luz, deixando o quarto ser iluminado apenas pela Lua cheia que resplandecia através da claraboia.

(...)

- Skylar. - um sussurro preenche os ouvidos da menina, que abre os olhos lentamente.

- Hazz? - ela balbucia, sonolenta.

- Sim... sou eu. - James nunca sentiu-se tão satisfeito por ser comfundido com o irmão gêmeo, quanto sentiu-se naquele momento.

- O que foi?

- Vamos passear? Eu acho que vi o trenó do papai Noel entrar no bosque.