74 - He's my brother.

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   Harry continuava observando a pequena criança de olhos grandes e castanhos. Ele gostou dela desde o primeiro momento, ao contrário de seu irmão, que desde o início a desprezou.

- Eu tenho certeza que vocês três vão se dar muito muito bem. - Por trás de Robert, Roselee sorria gentilmente enquanto falava.

  Ninguém imaginava os acontecimentos que viriam após aquele momento.

Os meses passaram e assim como as estações, os sentimentos dos moradores da pequena casa na rua Hill também mudavam gradualmente.
 
Robert raramente estava em casa, seu trabalho na fábrica exigia muito tempo, o que resultava em deixar a mulher e as três crianças sozinhas, durante todo o dia.

  Roselee preocupava-se principalmente em cuidar da filha, embora se esforça-se para deixar os meninos confortáveis na casa. Ela queria uma família, uma vez que havia perdido seu namorado e pai da sua filha em um acidente, quando Skye tinha apenas dois meses de vida.
   Menos de um ano depois ela conheceu Robert, um belo e gentil rapaz de Londres. Ele nunca falou sobre seu passado, Roselee havia descoberto a existência dos gêmeos apenas quando recebeu em sua casa a ligação da polícia, segundo eles procuravam o "ex-namorado de Anna Styles, pai de Harry e James". Foi uma surpresa para ela. Eles discutiram durante horas seguidas, mas, por fim, ela se acalmou. Era uma mulher compreensiva que já enxergava Robert como pai de sua filha, e estava determinada a mantê-lo neste posto.

Apesar do trauma causado pela perda precose da mãe, Harry continuava gentil e cuidadoso. Ele nunca deixava de estar perto de Skye. Mesmo quando ele estava fazendo trabalhos da escola, ou nos fins de semana em que as crianças brincavam na calçada de casa, Harry sempre convencia Roselee a deixá-lo segurar a pequena no colo e mantê-la por perto.
  Desde o início sua afeição por Skye era notável para todos, principalmente para James que odiava ver o irmão dar tanta atenção para outra pessoa, e com o passar do tempo, apenas tornou-se mais ciumento.

- Harry, quando a mamãe vai voltar? - James tinha seus olhos azuis fixos no rosto do irmão, em baixo das cobertas finas, enquanto ouvia o vento frio uivar verozmente de lado de fora. Os meninos dividiam uma cama no pequeno sótão da casa, mas não se incomodavam do lugar ser húmido e frio, contanto que estivessem juntos, estaria tudo bem.

- Eu... - Harry suspira, fechando os olhos - eu não sei.

- Espero que ela volte logo.

(...)

Certa noite, James vagueia cautelosamente pelos corredores, enquanto Harry ainda dormia. Com as tábuas de madeira rangendo sob seus pés, ele pousa a mão sobre uma maçaneta, empurrando a porta devagar.
  Lá dentro, em um pequeno berço branco, Skye se encontrava adormecida, abraçado um urso de pelúcia.

  James apoia as mãos na borda do berço, ficando na ponta dos pés podendo assim olhar lá para dentro. Seus olhos frios e inexpressivos encaravam Skye, que começa a despertar.

Abrindo os olhos devagar, a menina encontra o rosto de James e sorrir, afinal, ele era exatamente igual a Harry.

- Por que você está sorrindo? - O menino sussurra.

Skye apenas ergue as mãos e os pés, fazendo barulhos inteligíveis e gargalhando.

- Eu não sou o meu irmão. Você gosta dele, não de mim.

Ele pousa a mão sobre a barriga da bebê, que agarra seus dedos e leva até a boca, brincando.

- Você quer brincar? Vamos brincar, brinque comigo e deixe o Harry em paz. - Ele desvencilha os dedos, pousando sua mão sobre a boca e o nariz de Skye. - Ele é meu irmão, entendeu? Você não é irmã dele. Ele não gosta de você. - A pressão fica cada vez maior, a menina já não conseguia respirar sob o olhar fixo do garoto.

A porta é aberta rapidamente e a luz acesa.

- James! O que você está fazendo? - Roselee adentra o quarto.

  Ela empurra a mão de James para longe do rosto da filha, tomando-a nos braços. A menina tinha as marcas dos dedos de James sobre metade do pequeno rosto avermelhado e chorava a plenos pulmões.

- Você estava sufocando ela?! Por que você fez isso?! - A mulher gritava, horrorizada.

  Ele deveria sentir remorso. Ele realmente deveria. Mas ele não sentia absolutamente nada...

(...)

Conforme os anos passavam, James mostrava-se cada vez mais distante de todos, preso em seu próprio mundo. O garoto não sentia-se parte daquela família. Harry também não, porém, ao menos ele tinha alguém à quem se prender, a mesma pessoa a quem seu irmão odiava: Skye.

  Até que, certa noite, James planejou algo que mudaria completamente o futuro daquela família.

Não Abra A Porta Para Estranhos [H.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora