Acho que eu tinha razão desde o momento em que minha mãe me disse que íamos morar aqui.Desde esse dia quente de junho, minha vida tem sido miserável. Sofro bullying a sete meses, meus pais brigam pela minha guarda, porém atualmente estou morando com minha mãe, tentando ignorar as brigas diárias e todos os papéis de divórcio que descansam sobre a mesa da sala de jantar. Meu irmão morreu em um acidente de carro quando estava a caminho de seu trabalho a um mês. Não pude me despedir, nem dizer quanto o amava. A pouco tempo minha vó foi diagnosticada com câncer gástrico, talvez com a cirurgia caríssima e com as incontáveis máquinas que estão conectadas em seu corpo, ela consiga sair dessa situação. Depois que meu irmão Ricardo morreu, minha mãe começou a namorar e três meses depois já estava grávida. Tenho uma irmã. Meia-Irmã, desculpa. Ela não é tão insuportável como esperei que fosse, com o tempo ela se converteu e uma das pessoas mais importantes para mim, pois todos os outros falharam e me decepcionaram muitas vezes.
Não quero continuar lembrando de todas as desgraças que aconteceram comigo aqui. Imagino que já é o suficiente para que fique claro como eu sou azarada.
Hoje uma das minhas colegas jogou comida e refrigerante no meu cabelo. Pelo menos a diretora reagiu e suspendeu ela, e me deixou usar um dos chuveiros.
Estou caminhando para minha casa, faz frio e só estou usando um casaco preto que não é nada quente, que estava em meu armário. O céu ameaça com fortes trovões, relâmpagos e algumas gotas de chuva que caem sobre o cimento cinza da rua. Coloco minhas mãos nos bolsos e caminho um pouco mais rápido para poder chegar em minha casa. Preciso pegar o ônibus que me deixa apenas algumas quadras longe.
Nesse horário está acontecendo uma marcha pela igualdade. As ruas estão um desastre. O som dos tambores e os gritos das pessoas inundam meus ouvidos. O céu está coberto por cartazes com slogans reflexivos para chamar a atenção das autoridades. Atravesso a rua para me livrar de todas essas pessoas que estão passando. Consigo escapar e caminho mais três ruas, deixando a marcha para trás. Sento no ponto e avisto o ônibus. Balanço meus pés até que o ônibus chega e jorra água em minha calça, que fica encharcada.
-Merda- Sussurro
Subo no ônibus e pago a passagem com a pequena quantia de dinheiro que encontrei em minha mochila. O veículo está vazio. Subo no assento mais alto, no último lugar. Sozinha. Como sempre.
Sobe um casal de anciãos que sentam no assento da primeira fila. Ambos conversam e sorriem com tanta vontade que minha boca quis se curvar de alegria, mas os pensamentos ruins voltaram a minha mente levando uma corrente de energia para minha boca para que ela volte a se tornar seria.
Quinze minutos de trajeto. Peço ao motorista parar e desço pela porta de entrada para não caminhar tanto, pois o ônibus é comprido e eu estava no último assento. As portas se abrem e coloco um pé sobre o chão da rua.
-Tenha uma boa noite, senhorita- Diz o motorista. Me viro com os olhos abertos
- Para você também- respondo com um suave sussurro. O simpático senhor se despede com a mão e fecha as portas no momento em que meu outro pé pisa no duro concreto do chão.
Gostaria que me dissessem isso todos os dias, pelo menos um cavalheiro que não conheço se preocupa por mim.
Isso é uma coisa boa.
Caminho por uma rua cheia de adolescentes reunidos em um grande círculo no final da rua. Todos estão muito felizes e irradiam energia e despreocupação. Parece um encontro de algum grupo de rede social.
Todos estão se presenteando e tem muitas placas. Leio algumas que estão por perto. "Camisetas Grátis", "Quer alguém para te fazer sorrir? Se aproxime e vamos conversar! ", "Fome? Vamos dividir uma pizza", "Se junte há este lindo grupo onde você conhecerá novos amigos! ", "Beijos grátis", "Pulseiras de amizade grátis", "Tatuagens? Aqui! " e muito mais que davam a volta em todo o quarteirão. Continuo caminhando observando como muitos garotos e garotas param para ver as placas e se juntam a aqueles grupos, se sentindo queridos em algum momento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Abraços Grátis - Isulio (Adaptada)
Romance"Muitas vezes não encontramos as palavras adequadas para expressar o que sentimos, seja por timidez ou porque os sentimentos nos dominam, e é em um abraço que encontramos a solução, no idioma dos abraços. Eles nos fazem se sentir bem, aliviam a dor...