Já passaram duas semanas desde que eu me reconciliei com o Julio.
Para mim, as coisas ficaram ainda piores. A cada dia que passa, algo de ruim acontece. Não estou tendo mais tempo para ir nas reuniões, vou quase toda a semana para a diretoria, por "ser grossa" com os professores, por dormir na aula ou por não fazer as tarefas. Pelo menos minhas notas não baixaram. O diretor teve que chamar a minha mãe para terem uma pequena conversa sobre mim, onde discutiram meus problemas no colégio e alguns dos meus assuntos pessoais. Não saio do meu quarto porque sinto que não tenho vontade de fazer nada, durmo o dia inteiro, como muito pouco e sinto que a cada dia meu organismo está apodrecendo mais. Me vejo como uma sobra, que só ocupa espaço. Minha mãe percebeu isso, me levou ao hospital, estou com não sei quantos problemas de nutrição, pouca vitamina, proteína e mais umas coisas que eu não lembro. Minha mãe diz que é porque ela não presta muita atenção em mim, mas eu realmente não entendo o porquê de eu estar assim. Ela contratou um psicólogo, que eu visito nas terças, quintas e sextas. Clara já não conversa tanto comigo, só se for pra falar que ela está gostando cada vez mais de Julio ou para me pedir as respostas das provas. Julio se distanciou muito de mim e eu entendo. Quem vai querer andar com uma idiota que nem eu? Mas as pessoas estão com dó de mim e os jogadores de futebol e as líderes de torcida não me incomodam mais. Estão com tanta pena que até a minha ex melhor amiga, Agustina (sim, a capitã das líderes de torcida) me acompanhou ao banheiro para eu lavar meu rosto, porque ela me encontrou chorando sozinha no corredor. Conversamos um pouco e ela me contou todos os motivos do porque ela me machucava tanto, e entendi. Há muito tempo atrás nos desentendemos, e nossa amizade acabou, a culpa foi de nós duas. Nós duas sofremos muito e saímos machucadas na época, mas agora nós nos perdoamos e ela vai quase todos os dias na minha casa. Agustina saiu da equipe de líderes de torcida para poder estar com as pessoas que realmente se importam com ela, ela conversa comigo nos intervalos e se senta junto comigo nas aulas e no almoço. Acredito que ela foi uma das únicas pessoas que realmente me ajudou e serviu de apoio nesse período horrível que estou passando.
Hoje é sexta e estou saindo da consulta com a minha psicóloga. Agus está me esperando sentada em uma das poltronas que tem na sala de espera, folheando uma revista. Quando ela percebe que eu estava chorando de novo (desabafo muito nas consultas), se levanta e me abraça.
Quando seus delicados braços passam pelos meus ombros, lembro do dia que conheci Julio. De como ele me tratou, de como ele me ajudou com meus problemas, como ele me impulsionou a continuar. Será que ele ainda está indo nas reuniões? Deve ir. Faz semanas que eu não vou. Eu poderia levar Agus também.
- E como foi? – Me pergunta. Ela guarda a revista que ainda segurava em cima da pequena estante que tem ali.
- Bem, como sempre. – Faço uma careta. É agradável e ao mesmo tempo insuportável ir a um psicólogo. É bom porque você pode desabafar e tirar todo esse peso de cima de você, mas o insuportável é saber que esse professional só está te escutando para poder ganhar dinheiro, esse é seu trabalho e é frustrante saber que ele só está prestando atenção em você porque simplesmente estudou para isso. Ele não valoriza tudo o que você passou.
- Vamos? – Me diz Agus. Concordo com a cabeça e caminhamos até o estacionamento onde está seu carro. – Para aonde você quer ir? Quer que eu te leve para casa?
- Não - Respondo apoiando a cabeça na janela. – Você poderia me deixar na próxima estação do metrô? Tenho que fazer uma coisa.
- Não entendo. Por que você quer ir para lá? – Diz olhando para frente. Ela para em um sinal vermelho e me olha.
- Você quer ir comigo em uma reunião? Tenho certeza que você vai gostar.
- Pode ser...
Ela dá a volta e dirige para a estação de metrô mais próxima. Estaciona o carro e caminhamos lado a lado até o metrô. Vejo um grande grupo de adolescentes, todos com cartazes nas mãos, o que e faz reviver lindas lembranças. Agustina olha para todos os lados, lendo os cartazes e sorri. Me diz que vai ver um desses estandes de blusas grátis. Concordo e observo ela se afastar, caminhando até eles. Continuo caminhando e reconheço algumas pessoas, elas me recebem com um grande abraço e explico a elas o motivo de eu não ter ido nas últimas reuniões. Elas me respondem dizendo que sentiram a minha falta e que eu fiz falta no grupo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Abraços Grátis - Isulio (Adaptada)
Romance"Muitas vezes não encontramos as palavras adequadas para expressar o que sentimos, seja por timidez ou porque os sentimentos nos dominam, e é em um abraço que encontramos a solução, no idioma dos abraços. Eles nos fazem se sentir bem, aliviam a dor...