Os Peña

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Odeio quando minha mãe faz isso. Sério, me incomoda.

Solto uma risada sem graça e tento não ficar vermelha. Olho para Julio e ele sorri, movendo a perna desconfortável.

- Vou ir tomar banho, mãe. Ele é Julio, um amigo.

Subo as escadas correndo. Tomo um banho, me visto e passo um pouco de maquiagem. Centenas de nuvens cobrem o céu e começa a ficar frio. Procuro um casaco no meu guarda-roupa, pois tenho certeza de que em alguns minutos vai ficar ainda mais frio do que já está. Desço as escadas e escuto a voz de Julio e de minha mãe, conversando. Espero que minha mãe goste de Julio, na maioria das vezes, dos poucos amigos que eu tive, minha mãe me proibia de falar com eles porque eles não "passavam confiança". Nunca entendi o porquê desse ódio dela com as pessoas que eu me aproximava.

Vejo os dois sentados no sofá conversando animadamente. É muito estranho, minha mãe nunca falava com meus amigos antigos. Faço um sinal para Julio, dizendo que já quero ir. Ele sorri e se levanta do sofá, se despede da minha mãe e saímos juntos pela porta que nos leva para a rua, sem fazer a menor ideia de para onde iriamos.

- Sobre o que você estava falando com a minha mãe? - Pergunto. Ele dá de ombros, e umedece os lábios.

- Ela me perguntou algumas coisas e eu respondi, nada importante. - Responde. Beleza, isso é ruim. Talvez as perguntas que minha mãe fez tenham sido incomodas. Coloco minhas mãos em meus bolsos.

- Perguntas incomodas?

- Não. Perguntas normais. Mas não se preocupe, foi tudo bem.

Não trocamos mais nenhuma palavra enquanto sigo os passos de Julio.

- Para aonde vamos? - Pergunto após algumas quadras.

- Se ontem eu conheci a sua casa e hoje conheci sua mãe, quero que você faça o mesmo - Os cantos de sua boca se levantam e sinto um formigamento no estômago.

Eu?

Conhecer a casa e a família dele?

Meu Deus... será que estou apresentável? Nem me lembro mais de como estou vestida, olho para baixo para me analisar: estou com um jeans rasgado, all star preto e um casaco por cima. Como minha cara deve estar? Será que a minha maquiagem escorreu? Isso é muito incômodo.

- Isabela, para de se olhar, você tá linda. Ninguém vai te dizer nada.

Caminhamos mais umas duas quadras e entramos em um bairro com lindas casas; bem maiores que a minha. A cama está cortada perfeitamente, é de um verde vivo e vejo algumas gotas de orvalho que ainda não secaram. Entramos e Julio cumprimenta com um lindo sorriso o guarda que está parado com um celular na mão e tomando café. O ancião sorri e nos dá as bem vidas. Isso chamou minha atenção, pois o guarda do meu condomínio é muito sério, acho que a única vez que o vi sorrir foi ontem, quando Julio o cumprimentou. Acredito que as pessoas do meu condomínio devem ser mais reservadas e não o cumprimentam quando chegam. Por isso, sempre quando chego, ele está com uma cara séria.

- Onde que é? - Digo confusa pela quantidade de casas. Devem ser muito maiores do que as do meu condomínio.

- Consegue ver a praça? - Respondo que sim com a cabeça, olhando a grande praça repleta de crianças brincando no parquinho que tem ali. - Na rua à esquerda.

Sinto um vento gelado e Julio me abraça de lado, rodeando minha cintura com seu braço. De repente vem uma pergunta em minha cabeça. Será que Julio é carinhoso desse jeito com suas outras amigas? Eu só o vi com Guido, um garoto chamado Rhener, Alan, Giulia, uma tal de Valen e eu. Não vi mais ninguém tão próximo a ele. Estou com vontade de perguntar a ele... mas acho que é uma pergunta muito constrangedora. Acho melhor eu ficar com a boca fechada até chegar lá. Eu só quero que a família dele goste de mim.

Abraços Grátis - Isulio (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora