Uma chance

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Eu já tive medo de tantas coisas.

Principalmente quando eu era criança.

Me lembro de morrer de medo do escuro. Sempre que apagava a luz do quarto corria para debaixo das cobertas, tentando me proteger de algo, ou de alguém.

Mas eu não sabia ao certo o que me assustava ali. Era só um espaço com pouca luz, onde eu não conseguia ver nada. Era isso que me assustava? Não saber o que viria na minha frente? O desconhecido do escuridão? Essa incerteza de onde colocar as mãos ou os pés, para não causar um estrago avassalador?

No entanto, os anos foram passando. Eu fui crescendo e eu acabei por perceber que há algo muito bonito nas sombras. Há algo grandioso por entre os batimentos cardíacos acelerados e as pupilas retraídas, que só consegue ver quem se permite dar uma chance de verdade.

Só consegue ver a beleza do assustador quando se dá uma chance para ele.

E naqueles tempos foi isso que eu acabei por fazer.

Cinza • Catradora Onde histórias criam vida. Descubra agora