Cinza • Catradora

Energia

— Três meses?! — eu odiava quando Glimmer falava assim.

— É. Tenta ser mais discreta por favor. — retruquei, olhando a minha volta as carteiras enfileiradas na horizontal de forma qual fizesse os alunos ficarem uns na frente dos outros. Já era de costume vivenciar a bagunça constante daquela sala.

O professor qual tinha que dar aula naquele período estava atrasado. Então esse tempo estava sendo usado pelos alunos para conversar sobre o que desse na telha ou revisar alguma matéria. No entanto, as pessoas quase sempre optavam pela primeira opção.

Os adolescentes de uma faixa etária próxima a minha pareciam ter uma energia a qual eu não entendia muito bem de onde vinha ou por que vinha. Eu sempre me encontrava me sentindo tão exausta a qualquer momento, as vezes sem disposição nem mesmo para falar com outras pessoas.

Eu me sentia meio sozinha por esse motivo.

O fato de ver todos crescendo e se entendendo consigo mesmos me machucava. Me machucava pois eu duvidava bastante se isso aconteceria comigo algum dia.

No entanto, algo ainda mantinha vivo o calor especial que meu coração emanava. Esse algo não anulava minhas insatisfações, minhas partes que eu odeio, nem as mágoas quais eu ainda guardo com tanto apego, mas pelo menos me esquecer um pouco o quão mal eu me sentia comigo mesma naqueles tempos.

E, talvez aquele fosse um dos motivos de eu ter começado a gostar ainda mais dela.

— Vocês precisam passar de fase! — a garota continuou, colocando um dos fios rosa de seu cabelo atrás da orelha. Deu na cabeça dela ha algumas semanas atrás querer deixa-lo crescer e pintar as pontas de roxo.

Eu não tinha tanta coragem de fazer esse tipo de coisa com o meu cabelo como ela. Achava maravilhoso, porém meu medo de estragar minha aparência era maior.

Parte do meu tronco estava virado em direção a minha amiga qual se sentava atrás de mim. Alguns momentos depois, senti dois tapinhas serem proferidos em minhas costas. Já sabia que era o Bow tentando corrigir minha postura, ele vive falando que eu vou desenvolver algum problema caso não trate de mudar isso em mim, mas eu realmente não me importava com aquilo.

O que eu fiz foi abraçar um dos meus joelhos, apoiando o queixo nele com os olhos inquietos e o coração também. Eu estava tão perdida.

— O problema é que eu não sei como fazer isso. — respondi. — Essa ideia ainda me assusta um pouco, da gente ter que se ver, mas ao mesmo tempo eu quero isso tanto.

Minhas mãos foram em direção ao rosto, escondendo-o, pois minhas bochechas queimavam demais aquela altura. Só o fato de me imaginar ao lado dela já me fazia ficar completamente arrepiada. Sua intensidade poderia ser demais pra mim.

— Vocês têm alguma aula em comum? — Bow indagou, sentando-se na minha mesa.

Tínhamos.

— Química.

O olhar do meu amigo se iluminou, enquanto o direcionava para mim.

— Melhor ainda! Ela já tem uma dupla de bancada? Provavelmente não, os novatos sempre ficam sozinhos.

De qualquer forma não era a melhor das ideias.

— Não, ela não tem. — respondi. — Mas ela pode não querer uma dupla, ela sempre tá sozinha, não quero incomodar.

— O que te assusta tanto? — a menina de cabelos rosa indagou, tentando me olhar nos olhos.

— Acho que a possibilidade de eu levar um "não" como resposta.

— Bom...você só vai saber da resposta perguntando a ela. — Bow acrescentou, logo saindo de cima de minha mesa e caminhando em direção ao lugar qual usualmente se sentava, pois o professor havia entrado na sala.

É... ele estava certo.

Eu iria tentar, pelo menos.