3- Mine Vandsfurg

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Iris estava sentada em seu habitual banquinho no segundo andar da agência. Em mãos, trazia um livro, seu título: Os filhos do Inverno.

Em sua frente, na mesa redonda onde estava, uma xícara de café estava posicionada. Ela pegou a xícara e levou aos lábios cheios e vermelhos do batom que tinha passado aquela manhã. Tudo estava bem!

Seu corpo foi preenchido pelo calor do café, ela deu um suspiro de felicidade.

Voltou ao livro sentindo-se bem consigo mesma. O que poderia arruinar o seu dia? Nada! A resposta veio de imediato.

Na rua lá embaixo, pessoas passavam vindas de lojas ou indo até elas. Mas hoje estava diferente. Não só humanos vagavam por ali, outras raças também.

Colomar era uma das cidades do Norte, isso significava que era terra de humanos, outras raças: elfos, anões, dríades e outras criaturas pacíficas  viviam em suas próprias cidades ao Sul. O tratado de paz entre as raças dizia que eles não poderiam vim até Colomar, a não ser que estivesse acontecendo alguma coisa grave em suas terras. E pelo número de elfos e anões, devia ter acontecido algo realmente sério.

Mas isso não era um problema para uma atendente da agência. Seu trabalho era apenas aconselhar aventureiros assim como registrar essas novas pessoas que por algum motivo acham que entrar em uma construção de pedra com milhares de monstros que podem te  destrocar é uma boa idéia.

Se querem saber, Iris queria estar bem longe dali, vivendo em uma zona rural, com um homem para chamar de marido e pelo menos uns 7 filhos. Ela estaria feliz lavando roupas enquanto seu mui amado esposo saia para caçar, voltando no final da tarde com um gordo cervo que duraria uma semana para devorarem. Essa era a vida que Iris escolheria.

Mas já estava com 21 anos, passando da idade de se casar, e seus pais queriam urgentemente um genro. Mas se era fácil no tempo deles, não estava sendo nesses dias.

Iris também não era a pessoa que poderíamos chamar de beldade, até hoje, nesses 4 anos em que trabalhava como atendente, nunca um homem olhou duas vezes para ela.

— Que vida terrível! — Ela sorriu de nervosa. Pousou a xícara nos lábios e bebeu mais um gole.

Seus pensamentos foram levados ao passado. Quando ainda era nova, lá com seus 13-14 anos. Ela ainda deixava os cabelos crescerem e não usava óculos.

Ela achava que logo encontraria um namorado, que ele seria o único e que mais tarde, quando tivessem a idade certa, se casariam. Bem, ela encontrou sim o namorado. Mas ele não foi o único que teve.  Cinco namorados, todos a rejeitaram depois de um tempo. Afirmavam que ela era "sem-sal", seja lá o que isso significa.

Quando começou a cortar os cabelos e não deixou mais que passassem dos ombros, todos caçoaram dela e a chamaram de feia, e piorou ainda mais quando começou a usar óculos, os garotos jogavam coisas nela e falavam palavras que ela preferia não pensar a respeito.

Foi nesse tempo que tentou tirar a própria vida.

Ela e seus pais moravam em uma área não muito povoada de Colomar, era toda rural e por lá tinha um rio, não era muito fundo, mas não era raso. Foi lá onde ela se jogou.

A água entrou em sua boca e teve a sensação estranha estar inchando. Os seus olhos doíam e ela estava afundando mais e mais. Queria sorrir, dizer a si mesma que nunca mais falariam nada de sua aparência. Mas na hora, nada disso passou por sua cabeça. Um medo devastou o seu ser e começou a lutar para sobreviver. Tentava subir, mas a correnteza estava a levando cada vez mais longe.

Em algum lugar as suas costas. Algo  estava entrando na água, devia ser uma pessoa  que a viu e pensou estar se afogando.

Mas não adiantava, os dois morreriam, sendo levados pela água.

Os filhos de Mägur: Despertar | Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora