6 - Reunião

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Depois da conversa que teve com os anões e com a elfa, Venay havia corrido para a agência e só voltado por volta das 8:00 da noite, cansada e com uma dor de cabeça daquelas. Gueny não achou bom dizer nada, mas sabia que algo sério estava acontecendo.

E não deu outra, na manhã seguinte, Venay chamou todos os membros de sua família no hall da mansão, lugar grande o suficiente para acomodar todos os 75 membros da família. A anfitriã suava e não parava de andar de um  lado para o outro.

Gueny nunca a tinha visto desse jeito.

— Não quero me demorar muito, e espero que entendam: Velum e Zactos estão vindo na direção da nossa cidade... — Venay disse, sem rodeios. Ela esperou a reação, mas poucos conheciam essas criaturas. Gueny, naturalmente, conhecedora de história, sabia do perigo das criaturas. — São duas bestas ancestrais que, quase com certeza, vão matar a todos nós.

O uso das palavras: Bestas ancestrais, tinha deixado todos cientes do que acontecia. Alguns engoliram em seco, outros abaixaram a cabeça, orando aos seus deuses. Gueny apenas pode olhar para Mine, que estava do seu lado. Ela simplesmente não ligava para nada disso, o rosto impassível de sempre.

Não posso deixa-la morrer, Gueny pensou, assim como deixei os seus pais morrerem.

Naquele fatídico dia, três anos atrás, Gueny, ainda como uma nova aventureira, decidia que o melhor a se fazer era entrar para um grupo. Ela já fazia parte da família Vandsfurg, sua capacidade de cura e outras magias tinham chamado a atenção da anfitriã.

Ela havia entrado no Pilar com mais cinco pessoas, os pais de Mine incluso, e foram até o 20° Andar e lá se encontraram com monstros terríveis. Já tendo ido muitas vezes aquele andar, depois de tudo isso, ela podia dizer que aqueles monstros que atacaram o seu grupo não eram daquele andar, mas tinham migrado por algum motivo. Um motivo desconhecido até hoje.

O fato é que, para protege-la, os pais de Mine se sacrificaram, estavam todos feridos e Gueny não conseguia fazer nada, tamanho terror diante das criaturas.

Se não tivesse sido tão medrosa, Mine ainda teria os seus pais. A garota nunca soube que ela estava lá quando os seus pais faleceram. Ela ainda nutre o medo da garota não aceitá-la mais se descobrir tudo.

— Gueny? Gueny? Gueny?! — uma voz fez ela voltar a si. Todos a olhavam, incluindo Venay.

— S-Sim? — ela perguntou, tímida.

— Você vai liderar o flanco direito. —Venay disse, seu semblante demostrava raiva, ela não era uma das pessoas que gostava de ser ignorada.

— Eu? Flanco... de quê?

Uma veia cresceu na testa da anfitriã, que levou a mão a testa.

— Você só pode estar testando a minha paciência, garota. O flanco direito na luta contra as bestas. — a cada palavra, Venay se aproximava. — As famílias se juntarão para enfrentar as bestas, nós estaremos nos flancos. Droy lidera o flanco esquerdo.

— As famílias se juntarão? Não teremos muitas baixas? — Gueny ajeitou os óculos no nariz.

— Teríamos, se fossemos loucos o bastante para levar todos os membros. Sabemos que a maioria dos aventureiros hoje são de níveis baixos e isso, é preocupante. — Venay disse elevando a voz para todos escutarem. Muitos abaixaram a cabeça com vergonha, mas outros mostraram determinação.

Venay voltou ao seu posto na frente de todos.

— Quero que daqui a duas semanas, no portão Sul da cidade, todos aqueles do nível 5 para cima se apresentem. Serão esses que lutarão contra as bestas, lá, nós decidirmos quem fica em cada flanco. Certo?

Guenaia levantou o braço.

— Senhora, duas semanas é muito tempo, o que faremos durante esse tempo, sabendo que as bestas podem chegar a qualquer momento? E como sabemos que é duas semanas?

— Também tem o povo. — Koli disse. — Se eles souberem ficarão loucos.

— Pontos importantes. Não falem para ninguém sobre as bestas, nem para pessoas de outras famílias, eles sabem do que está acontecendo também. Faltando três dias para a chegada das bestas, a agência fará algo para esconder todos em locais seguros. Sobre as semanas, enviamos batedores para saberem a real localização das bestas, para ver se o que os anões falaram é verdade.

Ela virou-se para os anões e para elfa, que estavam em um canto da sala.

— Aproveitando que falei, esses quatro são nossos novos membros, tratem bem eles, mesmo que sejam de outras raças. — ela disse e todos assentiram com a cabeça. — Esses anões são ferreiros e usam as suas magias para criar armas e outras coisas. Peçam armas para eles, é isso que faremos nessas duas semanas, nós nos prepararemos.

— E quanto a nós? — alguém perguntou. — O que os aventureiros de nível três para baixo farão? — a voz trazia um pouco de alegria, Venay pareceu ter notado também.

— Não pensem que ficarão em casa, tomando vinho e dormindo. Vocês vão ter a missão de limpar a cidade, destroços com certeza vão inundar a cidade, vocês tem apenas que pará-los antes de atingirem a cidade. Ninguém quer perder a casa, não é? — Venay disse e aqueles com dúvidas assentiram.

Colomar era cercadas de espaços “vazios”, estradas de terras e sem muitas árvores por, pelo menos, cinco quilômetros. Um palco de luta perfeita considerando as irregularidades da região, mas se levarmos em conta que o inimigo é gigante e que o local onde a luta ocorrerá tem montes e pedregulhos grandes, o risco de destruir a cidade aumenta.

Eles haviam pensado em tudo mesmo, Gueny refletiu.

— Todas as famílias estão sabendo disso e espero que treinem e fiquem fortes nesses dias. Não tem porque se desesperarem e começarem a treinar feito uns loucos, isso só levantará suspeitas vindas do povo. — A anfitriã advertiu. Mesmo que sensato, quase impossível.

Todos tem medo da morte, inclusive os aventureiros. Gueny não se surpreenderia se muitos fossem embora para o norte, fugindo das terríveis criaturas. O povo com certeza ficará com medo e certamente descobrirão de tudo que está acontecendo. É apenas questão de tempo. Gueny mordeu a unha do polegar, remoendo mais uma vez. A cidade mudaria depois da batalha, de um jeito ou de outro.

Havia dois finais que ela conseguia pensar no momento, nenhuma das dois eram felizes.

Primeiro: Eles poderiam perder, nesse caso, as bestas, atrás de seu objetivo entrariam no Pilar,
mas o Pilar é uma construção e ela não conseguiria acomodar as bestas (levando em conta as histórias que dizem que elas são monstruosas de grande), destroços voariam e no pior dos casos, Mägur fugia junto de seus filhos, começavam uma nova guerra por seja lá quais são os seus objetivos. Não tendo mais ninguém que se equipare aos Aventureiros Originais, ele acabam com país.

Segundo: Eles ganham e as bestas morrem ou fogem feridas o suficiente para não mais voltarem. A luta é grande e um terço da cidade é destruída, levando em conta que lutam contra duas bestas. Muitas pessoas morrem incluindo alguns aventureiros de nível alto e quem sabe um mestre aventureiro. Nesse caso, levaria alguns poucos anos para a cidade ser reconstruída, mas em termos de aventureiros, a cidade nunca mais seria a mesma.

Se tinha mais alguma hipótese, ela não conseguia pensar. Suas ideias haviam acabado.

Algo quente tocou a sua mão, uma pele lisa e muita branca, Mine. Ela olhava intensamente para os olhos de Gueny.

— Não se preocupe, não deixarei que nenhum de nós morra. — Ela disse.

Gueny sentiu os olhos lacrimejarem. Será que mais uma vez aquela família irá protege-la?

Não, ela pensou, Isso não se repetirá. Tinha uma dívida com os pais de Mine e se preciso, morreria para proteger a garota. Algo dizia a ela que era exatamente isso que aconteceria.

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Os filhos de Mägur: Despertar | Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora