12 - Sonho ou realidade?

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Parte 1

O coração de Kori havia parado e ele, definitivamente, estava morto.

O sangue tinha entrado em seu pulmão e e também impedia o ar de passar. Ele havia morrido asfixiado.

.....

Herca se levantou e levou as mãos à cabeça, Mex olhava para o corpo frio aterrorizada. Nunca tinha visto uma pessoa morrer desse jeito.

Enquanto lamentavam, Hetho entrou no quarto. Olhou para Herca que estava em um canto da sala e para Mex que tentava parar os soluços levando a mão a boca e logo em seguida para o corpo imóvel de Kori. Não precisou de nenhuma palavra para entender o que estava acontecendo ali.

......

Quando Kori deu o seu último suspiro, Mine estava tendo um sonho tranquilo e calmo, mas que apenas se revelaria mais tarde.

Ela caminhava por uma estrada de terra que sempre ia em linha reta, flores delimitavam o caminho. Os animais a viam passando e a cumprimentavam, ela acenava de volta, feliz. O canto dos pássaros, o som do vento na copa das árvores, não tinha como tudo ficar melhor.

Ela se deitou debaixo de uma árvore, sentindo o cheiro das flores, o vento levando os seus cabelos vermelhos como fogo, o vestido rosa espaçoso cobrindo o corpo e mais do que isso, a protegendo.

Tinha a sensação de estar vivendo um paraíso, um paraíso impossível de alcançar.

Quando abriu os olhos, ela estava em um inferno. O caminho que antes trilhava tinha se transformado em pedras negras que brilhavam por causa das fendas vermelhas entre as rochas. Lava, ela pensou, era como se estivesse dentro de um vulcão.

Ela se levantou sem compreender onde estava, o calor era insuportável e agourento. Ela queria ir embora, voltar para casa, para debaixo daquela árvore, ir para junto de seus pais mais uma vez, para junto de Gueni.

Ela se sentou e ficou pelo que pareceu horas, mas nada aconteceu, nada mudou.

— Venha! Eu preciso de ajuda! — a voz de seu pai soou em seus ouvidos, calma e prazerosa.

Ela se levantou com medo, mas com uma esperança de que poderia ver o seu pai mais uma vez. Ela nunca o esqueceu, todas as noites antes de dormir, sua mãe e seu pai vinham em seus sonhos, cumprimentá-la por se tornar forte, por ter encontrado alguém que cuidasse dela, por ter encontrado alguém que pudesse amar.

A voz de seu pai a chamou mais uma vez e agora, ela a seguiu, querendo vê-lo pelo menos mais uma vez. Mas foi levada a um penhasco que dava vista para uma cidade em chamas, o
fogo banhava as casas lá embaixo e plantações, gritos das pessoas sendo mortas chegavam ao seus ouvidos, mas naquele momento, ela só tinha olhos para a pessoa sentada na beira do penhasco, não era o seu pai como ela supôs no início e sim, Kori.

Já tinha tido sonhos parecidos com esse, mas a cidade sempre estava intacta, com as suas plantações crescendo e com crianças brincando.

— Sabe o que Gueni esconde? — ele perguntou do penhasco, contemplando a cidade queimando embaixo.

— O que... o que quer dizer? — ela perguntou de volta, sentindo as suas forças irem embora.

Ele sorriu enquanto olhava para a cidade embaixo.

— O seu segredo, o segredo que esconde de você a muito tempo. Kori disse. Que ela foi o responsável pela morte dos...

— Cale a boca! — gritou. — Você não sabe de nada!— Kori voltou-se para ela.

—Quem não sabe de nada é você. Nunca passou pela sua cabeça que ela pode estar a manipulando? — ele deu uma pausa enquanto a observava. — Por que ela resolveu cuidar de você depois que os seus pais morreram?

— Ela cuida de todos os membros da família, ela é a segunda em comando na... — ela disse.

— Será mesmo?

Mine desviou o olhar.

— Você sabe que ela a trata como especial. Mas não é do jeito que está imaginando. Gueni, desde o começo está manipulando você. Ela quer a sua força, ela quer você. — ele se levantou e foi até ela. — Existe pessoas melhores do que você, Mine. Com mais personalidade, com mais carinho, com mais vida.

Ele tocou os seus cabelos e em seguida a sua bochecha.

— Culpa. — ele disse no seu ouvido. Ela se sentia culpada pela morte dos seus pais, ela cuidou de você para que pudesse se sentir melhor consigo mesma. Mas agora, tudo mudou. Ela não parece estar sentindo, ela nunca falou nada disso com você. Por quê? Porque tem medo de você odiá-la e se odiar, como ela vai poder usa-la? Não poderá. É isso que passa em sua cabeça.

— Não! Você está mentindo! — ela gritou com toda a força de seus pulmões e tudo escureceu.

Os seus olhos se abriram. Mine estava deitada em sua cama, era noite e o seu quarto estava quase todo breu, salvo pela janela que ainda emitia um pouco de luz.

Minutos se passaram, a imagem ainda presa em seus olhos, tudo foi muito vivido, muito... real.

Tendo se acalmada um pouco, pensou em dar uma volta, precisava se livrar desse sonho, precisava esquece-lo.

Talvez conversar com Gueni me ajude um pouco. Ela pensou. Mas o sonho voltou a suamente. E se for verdade? Não, não é. Eu sei, ela cuidou de mim e nunca faria isso. Kori está
mentindo.

Sabia que as palavras do garoto eram mentira, mas a sua mente dizia ser verdade, que tudo está certo.

Não, não está, ela pensou.

Foi só nesse momento que percebeu que o seu corpo não se mexia. Era como se ela tivesse perdido todos os movimentos. Os seus olhos iam de um lado para outro, mas o corpo não obedecia suas ordens.

— Você sabe que é verdade. — alguém caminhava até ela. Uma mulher loira e com os olhos negros como o breu do quarto. Os lábios carnudos estavam pintados de preto assim como as unhas, a diferença era que essa última tinha desenhos de caveiras.

Ela tentou responder, mas a sua boca não se movia.

— Não vai falar, ou não pode. ela seguiu a mulher com os olhos quando esta caminhou até a cadeira que Gueni sentara semanas atrás. — Gueni foi o motivo de seus pais terem saído mortos daquela missão no Pilar. Sempre soube disso, não é? Kori não mentiu, já que tudo que viu está dentro de si.

— Quem é você? — a boca de Mine se mexeu, ela engolia em seco, sentindo a garganta arranhar.

— Apenas aquilo que está em sua mente, pequena. — a mulher gargalhou. — Leo, agora!

A escuridão se transformou em um homem de cabelos e olhos negros, ele sorria meio tímido mas caminhou até a beirada da cama.

Leo — Mine sussurrou quando ele tocou a sua barriga.

— Prometo que não vai demorar. — sua boca se escancarou e começou a crescer, a crescer e a crescer até que se tornou do tamanho do corpo de Mine.

Dentes pontiagudos começaram a se fechar em torno do seu corpo, a saliva cobrindo o seu corpo. Ela arregalava os olhos, mas não conseguia se mexer, era como aquelas peças de teatro de terror, onde todas as pessoas morriam de forma brutal, era isso que a esperava.

Ela gritou com toda a força e tudo desapareceu em um instante, restando apenas ela e o seu quarto escuro.

Gueni entrou no quarto acompanhada de Guenaia e Venay. A garota estava deitada, ainda sem saber que o corpo voltara a funcionar. Ela suava frio e olhava para o teto, lembrando-se dos dentes que estavam prestes a abocanhá-la.

Ainda tremendo, a urina escapou por entre as pernas.

Mais tarde sai a parte 2 do capítulo

Os filhos de Mägur: Despertar | Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora