O Perfeito Amor Verdadeiro

Bela Surpresa

Passaram-se dias desde a folga de Ana e a sua súbita mudança. Eu não entendi muito bem o aconteceu, mas depois que vi o tamanho da dívida e de todos os ultimatos do banco naquele dia na loja, eu entendi sua preocupação. O dinheiro do Leilão não daria nem para as reformas. Depois de ver aquelas declarações, sai decido a arrumar uma forma de ajudá-la. E eu conhecia uma pessoa que podia.

Estou com o Email aberto faz uns trinta minutos. Estava sendo mais difícil do que eu imaginava. Cada palavra parecia um pesadelo para escrever. Não era de menos, já que fazia anos que não mandava nenhum "Oi" para meu pai. Nos últimos anos houve algumas tentativas da parte dele, que eu obviamente ignorei. Mas agora era eu que precisa.

- Pai...- Digito mas apago logo em seguida. Não me sentia a vontade.- Sr. Connor....- Olho bem para mensagem, mas ela me parece formal demais. Vamos lá Eduardo, precisa escrever esse e-mail. Pensa em como vai ajudar a Ana. Respiro fundo e decido não perder mais tempo com nomenclaturas.- Sei que não nos falamos, mas preciso de ajuda. Na verdade, uma amiga minha precisa, e é importante. Preciso ganhar tempo com o banco local, se puder conversar com eles para renegociar a divida da Loja de Discos da cidade será um bom inicio. Se não for interferir na sua vida ocupada, me faria um grande favor. Mando mais detalhes assim que responder. Atenciosamente, Eduardo.

Escrevo o e-mail e aperto em enviar. Espero que ele tenha o mínimo de decência em responder. Mas nem eu mesmo garanto que serei amigável com ele. Isso era pedir demais. Quanto menos contato, melhor.

Fecho o notebook e deito na cama, me ocupando com meus próprios pensamentos. Vai ser engraçado passar o dia do eu aniversário na loja, diria no mínimo inusitado. Mas o que eu queria mesmo saber era quanto tempo iria durar essa mudança de Ana. Não queria admitir mas ja estava acostumado com nossas conversas e sentia uma falta absurda delas. Outra coisa que de vez em quando brotava em minha mente era a ida constante de Danilo ( demorei anos para decorar o nome) à loja. Ele e Ana pareciam se dar muito bem, bem até demais para um par de amigos. Todas as vezes que eu pensava nisso, eu me corrigia. Afinal, não tinha porquê me intrometer. Eles eram só amigos.

No dia seguinte, chego na loja com uma pontada de esperança. Talvez, no decorrer dos dias, eu tenha dado um série de dicas de que hoje seria meu aniversário. Eu não esperava uma festa nem coisa do tipo, mas no meu interior eu achava que seria recebido com um ''Parabéns para você''. Abro a porta com um sorriso e encontro Sr. Carlos na bancada no lugar de Ana. Ele levanta os olhos e me recepciona de maneira agradável.

--- Bom dia Garoto.--- Ele coloca etiqueta em alguns produtos.--- Meus parabéns! Soube que hoje é seu aniversário.

--- Obrigada senhor Carlos!--- Deixo a mochila de lado, procurando pela ruiva.--- A Ana saiu?

--- Sim, daqui a pouco ela volta. Parece que teremos um evento importante hoje.--- Ele pega os produtos para distribuir nas prateleiras.

Fico me perguntando se tem algo a ver a comigo. E só esse pensamento me deixa incrivelmente feliz.

Me ocupo com os últimos detalhes antes da grande carga. Demos esse nome pois foi a maior compra que fizemos depois do leilão. Os produtos demoram alguns dias para chegar, mas essa espera acaba hoje.

Depois de perder a noção do tempo, escuto o assobio da porta. Olho por cima dos ombros e vejo Ana entrando na loja. Ela esta de fone, me impedindo de chama-la, mas consigo capturar um olhar rápido em minha direção. Está acontecendo de novo. A distância ainda estava lá. Deixo a vassoura de lado e vou até ela.

— Oi!— Me encosto na bancada, enquanto ela esconde umas sacolas em baixo do balcão.— Tudo bom?

Tento soar simpático, mas só ganho mais um olhar rápido.