You broke me first

4 - the ugly truth

Nick ficou estarrecido. Entendia o porquê de ter dito aquilo, afinal sonhara há anos em poder dizer como realmente a via em sua vida, mas o sentimento era tão velado que guardara para si. O que lhe entristeceu foi perceber que ela custava a entender a verdadeira conotação da frase.

Queria poder gritar a verdade a ela. Mas a mágoa parecia superar toda e qualquer coisa que ele tivesse para dizer. Mais uma vez, guardaria tudo para si.

Ao menos, era o que ele pretendia.

- Desculpe... se é que isso serve de alguma coisa à essa altura. Realmente não lembrava disso. E se serve de consolo, acordar e saber que você não estava mais lá me destruiu.

- Não mais do que você destruiu aqui dentro.

Então ele se encheu de coragem e voltou a tocar seu nariz no dela, aumentando a proximidade em que ambos podiam ouvir a respiração um do outro.

- Se eu fosse você, não acharia tanto, se soubesse o que se passa aqui dentro - Suas mãos foram em direção a uma das dela e a colocou em seu coração, para que pudesse sentir o quanto suas batidas estavam aceleradas.

Grace arregalou os olhos e respirava rapidamente. Aquele toque lhe trazia sensações antigas, que vinha negando por anos. Por um segundo, fechou os olhos para voltar à própria órbita.

Nesse curto espaço de tempo, ele finalmente a beijou.

Como em um bom filme clichê, algumas nuvens carregadas começaram a derramar sua chuva sobre os dois, que sentiram a pele arrepiar em dobro.

Foram os segundos mais preciosos para Nick. Mas aparentemente não para Grace.

Ainda chocada, ela o empurrou para longe dela, com toda a força que tinha. Ele arfava e tinha a voz rouca pelo momento. Mas, assim como ela, permitiu que a frustração tomasse a frente.

- O QUE VOCÊ FEZ? POR UM ACASO ESQUECEU A NOÇÃO DE QUE ISSO É ERRADO?? - gritou.

- POR QUE VOCÊ INSISTE EM MENTIR PARA SI MESMA? - retrucou ele, incrédulo.

- NÃO SEI QUE VIAGEM É ESSA SUA. NOSSOS PAIS SÃO CASADOS, ESQUECEU?

- MAS ISSO NÃO FAZ DE NÓS IRMÃOS!

- Olha só, tá fazendo de novo. Você é um mentiroso e não sente remorso nenhum.

- NÃO, NÃO SINTO. SABE POR QUÊ?

- Não, não quero escutar mais nada que venha de você.

A chuva já os havia ensopado e muito provavelmente ambos já estariam resfriados no dia seguinte. Mas Nick já tinha ido longe demais para voltar atrás.

- Mas vai ter de escutar. Sabe por quê? POR QUE EU ESTOU SIMPLESMENTE CANSADO DE FAZER O QUE É CERTO! DO QUE É MORAL!

- Meu Deus. Pirou de vez. Eu vou embora.

- VAI, PODE IR. MAS NÃO ANTES DE SABER QUE EU ACHEI O CASAMENTO DOS NOSSOS PAIS UMA PÉSSIMA IDEIA.

Grace se ofendeu de uma maneira nunca antes vista. Ela o considerava demais para perceber que tudo o que construíram juntos como irmãos se tornou uma completa mentira.

Se aproximou novamente dele para lhe dar outro tapa antes de ir embora, mas em vez disso, ele a segurou pelos dois braços, imobilizando-a.

- Me solta! Quem você está pensando que é? - vociferou.

- Sou aquele que se apaixonou primeiro. Pronto, falei.

- Hã? Isso não faz o menor sentido!

- Abre os olhos, Grace. Eu estou apaixonado por você, que inferno! Eu sempre estive. Mas como falar isso se você namorou meu melhor amigo? Se nossos pais se casaram? Se você foi pra faculdade e nunca mais olhou na minha cara? VOCÊ PODE NÃO SABER, MAS EU ACABEI ME CONDENANDO A ESSA VIDA DE MERDA, PORQUE NÃO CONSIGO SUPERAR VOCÊ!!!!

E então a soltou.

- Era isso o que eu tinha pra falar. Até algum dia, senhorita Russell.

Nick virou as costas e se dirigiu para o carro, que estava há poucos metros dali. Já Grace ficou imóvel ali mesmo, absorvendo tudo o que ouvira.

Cada um, em seus respectivos lugares, se permitiram chorar sozinhos, como há muito não faziam. Aquele encontro serviu para provar que a verdade, dita em voz alta, tira a carga do peito, mas também abre feridas profundas.

Mas a maior ferida dos dois se resume a uma simples pergunta.

E se...?