1 - scars & possibilities

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- MERDA!

Nick Radford jogou violentamente sua cabeça contra o travesseiro enquanto bufava consigo mesmo. Estava suado, nervoso e frustrado.

Mas não estava sozinho.

- É sério isso? Justo agora?

Uma bela garota loira, que ele mal lembrava se cursava Física ou Relações Internacionais, o encarava seriamente na penumbra, se sentindo ofendida.

- Foi mal - respondeu ele, sem saber que desculpa dar a ela.

- A minha raiva é tanta que minha vontade é de gritar pra todo esse campus que você é broxa. Não acredito que vesti minha lingerie favorita pra acabar na cama de um cara que trava na hora H - revirou os olhos com intensidade.

- A culpa não é sua - virou-se para ela - O problema é comigo.

- Cala a boca - retrucou - Essa conversa é pra boi dormir, não caio.

- Você quem sabe - deu de ombros - Não vou te explicar o motivo. Mas se tem uma coisa que não vou deixar você fazer é me queimar. Ou seja, se sua intenção era mesmo me atiçar pra terminar o serviço, você conseguiu. Deita aí.

Ele a puxou para um beijo intenso, que foi retribuído por um tempo. Porém, pouco depois, ela se separou e observou cautelosamente o semblante do rapaz. Ao entender do que se tratava, levantou-se, pesarosa.

- Agora sei o que tá rolando com você.

- Sabe? - soltou um risinho irônico, sentando-se de frente para ela, que pegava suas roupas do chão do quarto escuro.

- Bem - começou a falar enquanto se vestia - Na verdade tenho duas alternativas e provavelmente sua reação vai me confirmar qual é.

Nick cruzou os braços e levantou uma das sobrancelhas, debochado.

- Você tem muita pegada com mulher pra ser gay, então... Ou você é virgem ou tá apaixonado.

Ele engoliu em seco.

- Não sei se você é a pessoa indicada pra eu falar sobre isso.

- Oh meu Deus, isso é um sim pras duas coisas? - levou as mãos à boca enquanto o observava revirar os olhos.

- É isso sim. Feliz agora?

- Na verdade, eu nem sei como me sinto. Digamos que ao menos minha raiva já passou um pouco depois disso - riu.

- Então quer dizer que você não tá mais afim de queimar um cara virgem de 21 anos?

Ela olhou pra ele com um misto de ternura e sátira e, alcançando-o, acariciou-lhe levemente o rosto.

- Digamos que agora você está com sorte. Tchauzinho, bebê.

A bela garota sai porta afora, deixando Nick sozinho no quarto, resmungando baixinho com seus pensamentos.

Começou a refletir no quão transparente estava para as pessoas ultimamente, afinal, uma mulher que mal conhecia pode praticamente lê-lo. Seus amigos também estavam notando e isso não era bom para ele.

- Se essa garota conseguiu ler isso na minha cara com essa facilidade, imagina a Cassie que tem aquela intuição aguçadíssima... deve saber faz tempo e está apenas esperando que eu dê o nome. Mas não posso - pensou.

A união em matrimônio de Sam Radford e Cassie Nightingale foi uma benção para toda Middelton e também para ele, afinal podia ver na madrasta a figura de uma verdadeira mãe e isso o deixava genuinamente feliz.

tinha um porém e o nome era Grace Russell, sua melhor amiga e meia-irmã postiça. Sua vida nunca mais foi a mesma depois de conhecê-la.

Os dois sempre foram muito amigos, até que quase se beijaram inconscientemente durante um trabalho de biologia. Naquele dia, ficou surpreso com o autocontrole que tinha. Talvez fosse o fato de que seus pais estavam namorando e isso tornava o avanço de sinal praticamente impossível, não por ele, mas por ela.

Algum tempo depois, ela começou a namorar um recém chegado à Middleton chamado Luke. Ele a tratava bem e a fazia feliz. Ao menos fez por um tempo.

Após a formatura, cada um iria pra uma faculdade em lados opostos do país, mas prometeram continuar o relacionamento à distância. Nick, como todo bom irmão e amigo, deu algum suporte ao casal, mesmo se remoendo por dentro. Mas na primeira oportunidade que Grace voltara à Massachusetts para um feriado, ela encontrou Luke apresentando outra garota aos amigos e não era uma amiga.

Aquilo a destruiu por dentro.

Naquela noite, ela se isolou no quarto, abrindo apenas para Nick depois de minutos de insistência por parte dele. Conversaram, beberam uma garrafa de vinho que ele pegara escondido da adega do pai, riram e dormiram juntos - nada além disso.

Até que, em sonho, Nick dizia a Grace que nunca quis ser seu irmão. O problema é que ele nunca soube que dissera aquilo em voz alta e ela ouvira tudo de olhos bem abertos, pois acordara repentinamente para sair de um pesadelo. Cada palavra atingiu-lhe como um punhal que entrava e saía do corpo incontáveis vezes.

Depois desse dia, ela se afastou gradativamente de praticamente todos os amigos e familiares. A mãe era a única exceção.

Foi arrancado de seus pensamentos quando ouviu a porta do quarto voltar a ser aberta.

- Nossa Nick, tu tá horrível. Cadê aquela gostosa que você tava pegando?

- Longa história. Ela percebeu logo que eu não tava afim - tentou desconversar.

- Qual é, tu amarelou?

Michael, seu amigo de curso e colega de quarto, jogou-se com tudo na própria cama, quase caindo de cabeça no chão. Mesmo sendo um dos garotos mais populares do campus e um ano mais velho, simpatizou rapidamente com Nick e constantemente tentava ajudá-lo na missão secreta de perder a virgindade, pois que, por mais que o Radford mais novo fosse bonito, não levava muito jeito com as mulheres.

Quando ele descobriu o segredo do amigo, bolava inúmeras estratégias. Até que um dia ele descobriu sobre Grace ao encontrar Nick escrevendo anotações aleatórias no computador enquanto olhava uma foto da garota no Instagram. Ele tentou desconversar, afirmando que eles eram meio-irmãos e melhores amigos, mas o mais velho desconfiou, afinal, a expressão do amigo dizia outra coisa. Então brincou que, quando fosse a Middelton, iria querer chamá-la pra sair. Nick ficou furioso, mas engoliu em seco.

Depois daquilo, ele não conseguia esconder mais nada de Michael.

- Quando eu achei que iria rolar, eu vi o rosto da Grace na menina. Aí eu travei. Ela ficou fula.

- Meu Deus, Nick - Michael levou uma das mãos à testa, incrédulo - Até quando você vai continuar virgem e apaixonado por essa menina? Segue a vida, meu mano. Olha o tanto de gata que tem em Princeton e você preocupado com essa, que tá naquela loucura que é New York e nem sabe o que você sente?

- Não tem problema nenhum em ser virgem.

- Pode até ser, mas essa sua paixão velada pela sua meia-irmã, se você não resolver, vai virar doença. É isso que você quer? Ficar condenado o resto da vida?

- Lógico que não.

- Então, meu chapa. Se eu fosse você, pensava em como dar um jeito nisso. Logo.

You broke me firstOnde histórias criam vida. Descubra agora