Cap 3 - Rafaella

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Pov Rafaella

flash back

Me despertei com meu celular vibrando no chão ao lado da cama, olhei para a minha esquerda e vi uma Gizelly adormecida apenas com suas roupas íntimas e o lençol na altura de seu quadril. Sorri ao me lembrar da noite passada, mas logo senti um aperto no peito: preocupações sobre o que viria nos próximos dias, sobre surto que foi em minha casa no dia anterior antes de ir pra festa de formatura. 

Levantei da cama cuidadosamente no intuito de evitar que a morena acordasse, apesar de ela ter um sono bem profundo. Peguei o aparelho no chão e fui em direção ao banheiro me deparando com várias ligações perdidas de casa. Me sentei discando o número. 

- Que droga, Rafa! Olha a hora. Seu pai tava puto aqui te esperando. - Disse a voz de Manu do outro lado da linha 

- Ele já dormiu? - perguntei com voz de sono

- Finalmente, mas quase foi na casa da Gizelly te procurar. Você precisa voltar agora, antes que ele acorde de novo. Mãe conseguiu acalmar ele antes, mas não acho que vá conseguir de novo.

- Tá bom… Daqui a pouco eu tô aí. Deixa a porta dos fundos destrancada pra mim. 

- Tá, não demora. 

Me vesti rapidamente e desci as escadas com meus saltos em mãos cuidando para não fazer nenhum barulho quando dou de cara com a irmã da Gi entrando na casa. 

- Ê, manguaça… Já vi que não fui a única a curtir o fim de semana. - disse ao notar minha cara de derrota. 

- Oi, Bianca. - disse ao pedir passagem pela porta - Tchau, Bianca. 

[...] 

Ao chegar em casa encontrei Manu sentada em minha cama. 

- Bom dia. Toma. - disse me estendendo a xícara de café que tinha em mãos 

- Obrigada. - falei me sentando ao lado da mesma recebendo a xícara 

- E aí? Contou pra ela? 

- Não consegui, Manu. - respondi sentindo meus olhos se enchendo d'água - Não quero me despedir. Era pra gente ir pro Rio no domingo, como eu viro do nada e falo "então, não vai rolar. A idiota aqui resolveu se assumir pro pai achando que seria aceita, mas só conseguiu fazer a família inteira se mudar pra outro estado…" - comecei sentindo as lágrimas escorrerem enquanto minha irmã colocava a mão sobre meu ombro - Não dá, Manu. Você não sabe como foi incrível a noite com ela. Eu não queria estragar. Não vou me despedir. Eu a conheço. Ela ia se sentir culpada. Desde que descobri que o que eu estava sentindo era recíproco, eu só queria fazer as coisas direito. Mas por minha culpa, tá tudo… Droga! Eu odeio isso. - parei enquanto a pequena tirava a xícara de mim a colocando em cima da cômoda e me puxando para um abraço 

- Vai ficar tudo bem, mana. 

- Ai, Manu, por que a mãe teve que voltar com ele? Por que ela não ficou com o seu pai? 

O pai de Manu era incrível, um hippie super animado, engraçado e carinhoso. Eu a invejava por isso. No início eu não gostava muito dele, tinha uma visão de o cara que engravidou minha mãe e tomou o lugar do meu pai na mesa, mas com o tempo eu fui notando o tanto que ele fazia minha mãe feliz. Eu era muito nova, mas conseguia ver a diferença que era entre como meu pai tratava minha mãe e como o José a tratava. Com o tempo, eu e Manu fomos crescendo e vendo as piadas e brincadeiras entre eles diminuindo. Eles nunca se maltrataram, nem brigavam na frente de nós duas, mas eu sabia que não estavam mais felizes como antes e aos meus 9 anos ele saiu de casa.
Aos meus 10 o meu pai voltou pra vida da minha mãe e se reinstalou na nossa casa. Ele era muito rígido, sempre dando ordens pra minha mãe e, por mais que eu o amasse -afinal de contas, era meu pai- eu via o brilho da mulher indo embora aos poucos. Não entendia o motivo de ela ter escolhido ficar com ele. Enquanto o Zé a tratava como rainha e nós como princesas, meu pai só sabia reclamar da comida, nos chamar de burras quando tirávamos notas baixas e exigir que minha mãe trocasse de roupa dizendo coisas como "mulher minha tem que se respeitar, isso é roupa de puta".
Estocolmo? 

Passamos a manhã encaixotando nossas coisas e colocando as roupas em malas. Almoçamos entre os berros de meu pai. 

- Eu te criei bem! Levei vocês na igreja todos os domingos, nunca deixei de faltar nada dentro de casa. Dei meu melhor na educação de vocês pra você me vir com essa, Rafaella? Debaixo do meu teto não! - dizia ele

- Quem me criou foi o Zé, você nem tava aqui! A gente tava muito bem sem você… sem a sua ignorância. 

- Não fala assim comigo, garota! - disse ele batendo na mesa - É por isso que vamos pra Goiânia, longe dessas influências. Você nunca foi de levantar a voz pra mim e agora, além disso, ainda anda com essas ideias de homossexualismo. Chega! 

Eu estava no quarto com a Manu terminando de arrumar as coisas para sairmos na tarde seguinte quando meu celular sinalizou uma mensagem da Gi:

"Rafa, espero que tenha chegado bem em casa. Me avisa se for querer ir com a gente amanhã" 

Decidi não responder. Era melhor assim. 

[...] 

Na manhã seguinte meu celular não parava de tocar, era a Gizelly. 

- Atende logo, Rafa. - Manu disse me entregando o aparelho

- Atende você, Manu. Por favor, só fala que eu tô doente, inventa alguma coisa. Ela não pode saber que eu tô indo ainda. - a pedi quase implorando e então ela pegou o celular de volta 

Ela passou a ligação me olhando sem humor. 

- Isso não tá certo, Rafa. Era até melhor ter ignorado do que mentido. Não é justo com ela. - me disse ao encerrar a ligação 

- Eu não sei o que fazer, mana. Só espero que ela me perdoe um dia. 

Flash back off

[13:50]

- Rafa, - chamou a pequena me fazendo virar para a mesma enquanto terminava de arrumar o guarda-roupa - Você vai comigo na festa, né? Eu confirmei com a Bianca por nós duas, não dá pra eu chegar lá sozinha. 

- Vou sim, Manu. Eu tô um pouco apreensiva, mas você tem razão. Não posso fugir dela, afinal de contas, escolhi essa casa por um motivo. E quer saber? - me viro animada com uma das mãos na cintura - Já acabei aqui, o resto eu arrumo amanhã. Você liga se eu for ao salão? Pesquisei e achei um ótimo aqui perto. 

- O que você vai aprontar agora, mulher? - disse Manu 

- Quero dar uma mudada no visual. Acho que já deu do loiro. 

- Doida… Vai lá. Aproveita e traz o vinho pra gente poder levar. - riu

- Tá bom, vou só tomar um banho rápido. Te amo! - falei dando um beijo na cabeça da menor indo em direção ao banheiro. 

[...] 

Retornei em casa e fui deixando as garrafas de vinho sobre a bancada da cozinha. Não olhei as horas, mas pela música vindo da casa de Gizelly e a claridade do sol que já não havia, supus que estava atrasada. Subi correndo para o meu quarto e avistei Manu procurando algo no meio das minhas coisas. 

- O que você tá fazendo? - perguntei

- Eu só vim pegar aquele seu brinco empres… - a pequena parou a fala com um semblante surpreso ao me ver - Rafa! Você tá MA-RA-VI-LHO-SA - disse dando ênfase ao separar as sílabas, o que me fez soltar um riso alto - Quanto você pagou nesse cabelo? Deve ter custado uma fortuna! 

- Não importa. Pelo seu elogio, valeu a pena. Obrigada. - respondi a abraçando de lado e depositando um beijo em sua cabeça - E eu também combinei com o dono do salão de fazer uns stories marcando ele, então tive desconto. Vou só trocar de roupa, retocar a maquiagem e a gente vai. 

- Não se produz muito porque eu vi as meninas pela janela e estão todas casuais. Aliás, você pegou o quarto maior, mas eu peguei o que tem a janela com vista pro quarto da sua amada… - disse rindo me provocando e saindo do cômodo 

- É o quê?! Espera. Volta aqui, criatura! 

- Perdeu, meu bem! - soltou em meio a risadas antes de descer para me esperar na sala

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