Capítulo 15

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Naquela manhã cheguei no banheiro e vi meu reflexo em pior estado, meus cabelos além de embaraçado estava também assanhado, mas não dei importância aquilo, muito menos aos meus olhos inchados, não lembro a hora que parei de chorar na noite anterior, acho que adormeci quando não havia mais lágrimas a por pra fora.

Desci pra tomar café ainda de pijama, avistei minha mãe lendo o jornal pelo computador como fazia geralmente, não falei nada e preparei um expresso para mim. Quando ela finalmente desgrudou os olhos das notícias e reparou em mim, levou um susto por minha aparência desleixada 

-Filha? Um caminhão passou por cima de você? Tá se sentindo bem?

Neguei com a cabeça, ela começou a verificar se eu tinha sintomas de febre e perguntar o que eu estava sentindo. Inventei uma doença como desculpa para não ir à escola, até que funcionou. Minha lógica não fazia sentido, eu estava daquele jeito por causa do meu possível pai biológico estar na cidade e cabisbaixa por minha própria mãe não ter me falado nada sobre isso, eu deveria sair de casa pra esquecer isso tudo, mas eu queria só ficar no conforto do meu quarto digerindo tudo aquilo.

Minha mãe beijou minha testa e me abraçou dizendo que tudo ficaria bem e que ia pedir folga hoje pra cuidar de mim, em todos esses anos, desde quando vim morar aqui devo ter ter ficado uma ou duas vezes doente a ponto de pedir pra faltar aula, subi para o quarto e me deitei devagar na cama, pus a coberta sobre mim e enviei mensagem para Léo e Tyler dizendo que faltaria aula.

Léo me desejou melhoras mesmo sem saber o porquê de eu não ir, já Tyler começou a puxar assunto e conversamos coisas bem fofas, até eu perguntar por que ele não me enviou tantas mensagens no fim de semana. Tivemos uma pequena discussão, não se tornou algo mais sério pois ele tinha que ir à escola. Minha relação com Tyler era diferente, nunca vi alguém expor tanto um namoro como ele, talvez aquilo fosse bonitinho pra algumas pessoas, mas eu nunca gostei da ideia se ser conhecida demais. 

Lembro que não via quase nada quando ele namorava Megan, talvez eu fosse especial pra ele já que ele queria me mostrar para o mundo inteiro. Comecei a olhar os storys dele e vi o print da nossa conversa com a legenda "vou sentir sua falta hoje, melhore rápido". Aquilo era doentio demais, eu não podia dar um passo sem que todos soubessem.

Me desliguei dali e comecei a pensar sobre os assuntos pendentes em minha família, estava prestes a me entregar novamente as lágrimas quando ouço minha mãe bater na porta, engoli o choro e gritei permitindo sua entrada. Senti ela se aproximar de onde eu estava, sentou ao meu lado e tocou meu ombro, ao ouvi-la chamar por meu nome virei-me e me pus a escutar o que ela tinha a dizer.

-O que aconteceu pra você ficar assim? Eu sei que não está doente e também percebi seus olhos inchados, passou a noite chorando? - perguntou preocupada

Engoli em seco, sei que ela é minha mãe e me conhece bem, mas não a ponto de saber quando estou mentindo.

-Na verdade eu só estou doente e indisposta mesmo, nada aconteceu comigo, você tem algo pra me contar? - pressionei 

- Eu tenho sim - forçou um sorriso - sei quando você mente para mim e leio expressão corporal, pode falar o que aconteceu filha, foi aquele moleque do time de futebol?

Meus olhos começaram a encher de lágrimas, uma pontada de rancor chegou ao meu coração, como ela conseguia esconder a verdade assim na cara dura? decidi contar então que eu sabia de tudo.

-Por que você tá fazendo isso? Eu não sou mais uma criança, sinto lhe dizer isso, mas eu cresci! E não sou mais aquela bobinha que era comprada com doces. - esbravejei

-Do que você tá falando? - perguntou desentendida

-Eu ouvi sua conversa no telefone ontem, ouvi também com a mãe de Jesse, eu sei que meu pai está aqui e sei também que ele é o cara que esbarramos no shopping - Expliquei 

-Filha eu posso exp… 

-Não precisa - interrompi - já sei de tudo e só o que peço é que me deixe falar com ele, eu tenho esse direito e preciso falar muitas coisas

-Não gosto dessa ideia, mas tudo bem eu deixo com uma condição… que seja aqui em casa.

Concordei com a cabeça e lhe dei um abraço, tinha muito o que falar para aquele homem, muitas perguntas e coisas mal resolvidas. Minha mãe se levantou e foi até a saída, antes de sair ela hesitou e disse

-Você vai ser educada com ele né? - me olhou segurando uma risada

-Será que ele merece isso? - balançando a cabeça no mesmo momento e começamos a rir

Mais tarde no almoço minha mãe avisou que havia falado com a Senhora Miller e disse que ela iria liberar o homem por aquela tarde para ele vir falar comigo, eu estava um pouco nervosa, não sei se realmente estava preparada para aquilo, eu tinha que ser forte e enfrentar ele cara a cara.

Concordei com ela ainda um pouco nervosa, forcei um sorriso para disfarçar, ela me abraçou e seus lábios macios tocaram minha testa me passando a segurança necessária para enfrentar aquela situação de cabeça erguida.

Após almoçar fui para meu quarto e fiquei lendo um livro, a campainha então tocou e tirou minha atenção daquela belíssima história, já estava na metade da tarde e eu não percebi as horas correndo. Desci as pressas aquelas escadarias, deslizei as mãos pela minha blusa para desamassar e atendi a porta. Fiquei muito surpresa ao ver que se tratava de Jesse e Léo, os convidei para entrar e começamos a conversar enquanto caminhávamos até o sofá.

Eu e Jesse começamos a contar a história de meu pai para Léo, mas contamos de uma forma descontraída tirando assim alguns sorrisos dele e até meus, toda aquela tensão que estava em minhas costas tinha sumido e agora eu me sentia pronta para conversar com aquele homem.

Horas depois a campainha tocou, fui atender e lá estava ele, Bernardo Garner conhecido como Ben por minha mãe, o cara que a engravidou. O sorriso em meu rosto sumiu e apareceu no daquele homem, fiz um gesto para ele entrar e ele me seguiu até a sala.

-Acho que já vamos indo - disse Jesse se levantando do sofá 

-É… Claro - Léo a seguiu

Os dois me cumprimentaram com um abraço antes de sair, o homem então sentou-se no sofá e eu fui para o outro. Ele me olhou nos olhos tão profundamente como se conseguisse descobrir o que eu estava pensando só através do olhar. Eu desviei e comecei a falar 

-Então… eu acho que você não quer saber de mim, mas eu tenho umas coisinhas pra te falar

-Filha não diga isso, eu… estou muito feliz de te conhecer e de saber que quer falar comigo, eu também tenho tantas coisas pra te falar - disse com os olhos brilhando

-Eu não entendo porque você abandonou a mamãe e porque pediu pra ela se livrar de mim - meus olhos ameaçaram marejar

-Você não sabe da história toda, eu não abandonei sua mãe, eu queria ter uma vida com ela, queria ter continuado com ela quando fui para faculdade, pedi pra ela abortar, pois éramos jovens, apenas dois adolescentes… sou completamente apaixonado por sua mãe ainda hoje, nunca me casei, ela é a mulher da minha vida, nunca saiu dos meus pensamentos e fico feliz por ela não ter seguido meus conselhos, você se tornou uma menina maravilhosa.

-Isso não justifica o fato de ter feito isso, poderíamos estar juntos vivendo em Malibu como uma família feliz e normal agorinha mesmo - Gritei 

-Podemos recomeçar, ser essa família que você sempre quis ter, eu estou disposto a ter vocês duas comigo - levantou do sofá e suas mãos foram ao encontro das minhas

-Não pai, não dá pra recuperar esse tempo, já se passaram 16 anos - soltei minhas mãos da dele - Você está muito atrasado e não tem como apagar essa parte da minha vida, não dá pra apagar a dor que eu senti quando descobri que não era filha do John, a dor de quando eu descobri que nem meu próprio pai me quis, a insuficiência que senti ao pensar que eu poderia ter sido mais um feto jogado no lixo.

-Me perdoa, eu juro que se eu soubesse que você tava viva eu teria corrido atrás ainda quando era pequena - tentou me abraçar mas eu me esquivei

Comecei a chorar feito um bebê, como aquele homem tem a coragem de querer redenção depois de todo esse tempo? Aquilo era demais pra mim.

Destino InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora