Finalmente aquela linda manhã de sábado chegou, depois do dia tenso que tive ontem, tudo o que precisava era de um pouco de paz, sossego e vários nadas para fazer. Estava tomando café enquanto rolava o feed do Instagram, quando de repente minha mãe me chamou atenção jogando uma migalha de pão em direção ao celular. Assustei-me e fiz cara de tédio.
Quando lhe dei atenção, ela sugeriu que fizéssemos algo diferente para o almoço, nenhuma ocasião especial, apenas queríamos comer algo que não comemos todos os dias. Tive a ideia de procuramos na internet, passamos por várias receitas diferentes e com cara deliciosa, mas decidimos fazer uma simples lasanha, não aquelas congeladas que encontramos no supermercado e sim uma caseira, começando do zero, era algo fácil e rápido de fazer, daria certinho para nós duas. Comecei a procurar os ingredientes pela cozinha e não encontrei todos, minha mãe disse que iria ao mercado enquanto eu ficava em casa limpando tudo e preparando a cozinha.
Eu odiava ter que ficar em casa fazendo tarefas domésticas, principalmente sozinha, então sugeri uma troca e ela concordou, eu daria tudo pra sair de casa, preferia mil vezes o ar fresco, talvez poluído, da cidade. Fui ao meu quarto, troquei de roupa e saí em direção ao mercado, estava caminhando alegremente quando me aproximei da casa de Léo, pensei em passar por lá e o cumprimentar, quando estava prestes a chamar por seu nome, avistei o garoto em sua varanda com um violão na mão, então hesitei.
Me surpreendi, Léo nunca me disse que tocava instrumentos, ele era realmente uma caixinha de surpresas. Fiquei o observando de longe e pude ouvir uma bela melodia, o menino estava tão distraído que não percebeu minha presença ali, senti meu queixo ir ao chão quando ouvi o garoto soltar a voz, não prestei atenção na letra da música, pois estava ocupada demais admirando seu talento ao dedilhar o instrumento.
Sabe aquele instante em que você esquece do mundo ao seu redor e foca somente em uma coisa como se ela fosse a única do planeta? Naquele momento aquilo aconteceu, parecia que só existia eu e Léo, como se fossemos os últimos na terra com direito a uma bela melodia de fundo tocada pelo menino talentoso que eu chamava de melhor amigo, até que consegui enxergar coraçõezinhos voando ao seu redor, como nos filmes de romance e aquilo foi suficiente para perceber que talvez eu estivesse apaixonada por ele, mas sou tão tapada que nem tinha percebido isso antes.
Senti como se uma faca ultrapassasse o lado esquerdo de meu peito ao lembrar que já perdi tantas chances de me deixar livre para enxergar garotos bem mais interessantes que Tyler, eu realmente estava cega. Léo fez uma pequena pausa, parecia ter esquecido a letra da canção, ele encarou o horizonte e assim percebeu minha presença, eu deveria ter aproveitado o momento para ter dito algo, mas lá estava eu paralisada e boquiaberta diante de seus olhos. Ambos começamos a trocar olhares em silêncio, o de Léo era confuso e envergonhado, o meu era encantada e talvez, quem sabe, apaixonada.
- Há quanto tempo você está aí? - Perguntou ele me fazendo voltar à realidade.
- Não muito - disfarcei não demonstrando interesse - Eu não sabia que você tinha um violão e nem que tocava.
- Estou tentando algo novo... mas o que você veio fazer aqui?
- Só passando mesmo, na verdade eu estava indo ao mercado, minha mãe e eu vamos preparar uma lasanha pro jantar, que tal você aparecer por lá mais tarde?
- Adorei o convite, você sabe que lasanha é meu prato favorito!
Sim, eu sabia disso, a vida de Léo para mim é como um livro aberto e eu estava disposta a ler cada capítulo, parágrafo ou palavra dele. Me despedi do garoto com um sorriso e um "te vejo mais tarde" acompanhado de um high five.
°•°•
Chegando em casa me dirigi a cozinha com as compras, minha mãe me recebeu com um avental na mão, ela estava usando um igual, ambas começamos a preparação do prato em silêncio, até surgir um rápido assunto sobre algum conhecido nosso. Em meio às nossas conversas, disse a ela que havia convidado Léo para nos acompanhar a mesa, naquele momento ela parou o que estava fazendo e me encarou surpresa com tal atitude.
- Mãe é só o Léo, ele é praticamente da família - Expliquei.
- Eu não falei nada, só estranhei você chamar alguém por livre e espontânea vontade para um jantar - Rebateu.
Minha mãe tinha razão, eu odiava chamar alguém, até mesmo conhecidos próximos, para comer a comida que eu fazia, sempre tive receio de não ser boa na cozinha e a pessoa odiar ou até mesmo passar mal com a refeição. Agora pensando melhor, foi uma péssima ideia convidar Leonardo para isso. Uma onda de nervosismo e ansiedade começou a mexer comigo, soltei a grande colher de madeira que estava na mão, me dirigi até uma das cadeiras da mesa de jantar e fiquei ali encarando o centro com os pensamentos voltados para possíveis desastres que poderiam acontecer nesse jantar de hoje.
O mundo ao meu redor estava silencioso e eu só conseguia ouvir meus pensamentos ruins. Respirei fundo e finalmente voltei a realidade, escutei minha mãe reclamar da cozinha sobre eu não ter ouvido ela chamar por mim, segui até lá, ignorei seus comentários negativos e voltei ao trabalho.
Estava quase tudo pronto, colocamos a lasanha no fogo e vi minha mãe meio distraída ao mexer no celular, decidi chamar a atenção dela com alguma coisa, olhei ao redor e avistei pela porta de vidro do armário um saco de farinha, segui até lá, peguei um pouco e joguei para o alto dela.
- Veja mãe, está nevando - eu disse vendo os pequenos grãos pousarem em seus longos cabelos.
Ela me olhou rapidamente e percebeu depois que estava suja com o branco da farinha.
- Lucy Peterson, onde você está com a cabeça garota?
Ela logo tomou o saco das minhas mãos, juntou um punhado da mesma e atirou em minha direção, sem perceber abri a boca espantada com tal ato, fui atrás de pegar mais farinha, mas ela me repreendeu levando a substância para longe.
- Você acha que nadamos em dinheiro? Não podemos desperdiçar comida assim! - disse ela.
- Desculpa mamãe - baixei a cabeça.
Aos poucos fui levantando o olhar lentamente, meus olhos chegaram ao encontro dos dela e ambas começamos a rir da bagunça feita. Começamos a limpar a cozinha e quase esquecemos da lasanha no forno, por sorte o temporizador não deixou isso acontecer. Demoramos quase duas horas limpando a cozinha e organizando a mesa para o jantar, quando finalmente acabamos, fomos para fora do cômodo e encaramos o sucesso do nosso trabalho.
- Falta tirar o lixo, lá fora tá meio frio e não quero sair, então dessa vez você vai - disse minha mãe já se distanciando.
- Ah não mãe, ainda temos que ficar apresentáveis e também não estou afim de sair nesse frio, proponho um desafio - sugeri.
Minha mãe virou-se e me encarou atentamente para escutar a ideia.
- Quem terminar o banho por último ficará responsável pelo lixo - eu disse enquanto corria em direção a escada, ela fez o mesmo logo atrás de mim.
Me refugiei no banheiro do meu quarto e me aprontei o mais rápido possível, mas falhei, todos os meus esforços tinham sido em vão, a mulher bateu em minha porta no momento em que comecei a vestir o roupão, anunciando assim que eu teria de levar o lixo.
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Destino Inesperado
Roman pour Adolescents+15 "E se um dia tudo mudar entre nós, eu espero que nunca esqueça... o quanto eu te amei, o quanto eu corri atrás e lutei por nós. Você pode até tentar fugir, mas sabe que meu coração está interligado ao seu por um fio vermelho que nos entrelaça ap...