Capítulo 32

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Corri depressa para o andar de baixo e enquanto descia as escadas, vi meu filho correr em direção a porta com os braços abertos e gritando:

— Tio Tyler, você veio!!! — Ele o abraçou e o colocou no colo.

O convidei para entrar e assim ele fez, fechou a porta atrás de si e ainda com meu filho no colo, seguiu para a sala. Meu coração estava acelerado, mas tentei agir o mais natural possível, eu não fazia a menor ideia de como eu iria fazer para tirar Tyler da minha casa sem parecer que estava escondendo algo.

— Aceita algo para beber? O almoço ainda não está pronto — tentei puxar assunto.

Ele pediu uma água e eu fui buscar na cozinha. Quando voltei, vi o homem sentado no sofá e meu filho estava acomodado em seu colo. Aquilo estava me incomodando, por algum motivo ele não soltava aquela criança.

— Lucy, docinho, está tudo bem? — Perguntou desconfiado.

Fiz que sim balançando a cabeça e caminhei em direção a cozinha para fingir que estava fazendo o almoço. Eu não gostava nada da ideia de deixar meu filho sozinho com aquele homem, enquanto cortava os legumes tive a brilhante ideia para afastar os dois.

— Filho, vai brincar no quintal, eu e o tio Ty precisamos ter uma conversa de adultos.

Tyler arregalou os olhos e meu filho obedeceu, finalmente os dois estavam longes um do outro. Chamei o homem para a cozinha, assim poderia disfarçar meu olhar enquanto cozinhava.

— Tyler... talvez você esteja me achando estranha, mas é que eu não consigo mais te olhar do jeito de antes. Aquele beijo... mudou muita coisa.

— Lucy eu sei que errei no passado, mas eu tentei mudar, dei meu melhor... eu salvei você daquele incêndio, eu estava lá quando Chris nasceu, durante esses cinco anos você viu que pode contar comigo. Nas noites que ele chorava ou quando estava doente, eu criei ele como se fosse meu filho e eu trato vocês como se fossem minha família, custa me dar uma chance? — Perguntou Tyler quase que implorando.

— Você nunca vai me deixar esquecer dessas coisas, não é? Mais uma vez eu te digo, eu nunca pedi nada disso a você, parece que só fez tudo isso para conseguir algo em troca!

— Eu só queria que você me amasse... — Ele fez uma longa pausa e depois de refletir um pouco, seu semblante mudou completamente — Bom, não quero mais falar disso.

Tyler saiu rumo ao quintal em busca de meu filho, ele o pegou no colo e adentrou a casa novamente com passos largos. O homem parecia estar com raiva e descontava isso nas palavras.

— Sabe Lucy, eu sempre achei que se me livrasse daquele idiota do Léo, você voltaria a gostar de mim de novo, mas eu tava completamente enganado — Disse ele subindo as escadas depressa.

— O que você tá fazendo? Põe meu filho no chão! Aonde você está indo seu maluco? — Gritei correndo atrás dele.

— Estou indo apresentar ao pequeno Chris o pai dele, tenho certeza que ele adoraria conhecê-lo.

Tyler começou a abrir todas as portas e procurar por Léo em todos os lugares, como ele sabia? Não é fácil de acreditar, Léo podia ter razão e Tyler monitorava cada passo meu desde muito tempo.

— Inclusive Lucy, tenho que te parabenizar, você tentou disfarçar muito bem, seu cinismo me comove — continuou sua fala.

Tyler deu de cara com Léo ao entrar em meu quarto, Léo ouviu todas as palavras de Tyler e era perceptível que ele estava bravo, senti seu sangue ferver ao ver Tyler com nosso menino. Em um instante, todos nós estávamos dentro daquele quarto. O homem trancou a porta e lançou a chave pela janela, colocou Christian no chão e ainda segurando seu pequeno bracinho, ousou dizer.

— Léo... meus parabéns, não achava que você conseguiria sumir por tanto tempo, aliás, adorei a ideia de mandar cartinha, pareciam duas crianças. Olhem bem para seu filho, vim garantir que essa seja a última vez que o verá.

Tyler colocou a mão no bolso esquerdo e alcançou um isqueiro que estava lá. Chris correu para onde eu e Léo estávamos e nos abraçou com medo. O homem louco começou a atiçar fogo pela cortina, as brasas se alastraram rapidamente pelo ambiente, aos poucos os móveis ali perto da janela começaram a queimar, a fumaça acinzentada tomava conta de nossos pulmões e cada vez ficava mais difícil respirar.

— Vamos acabar hoje o que era pra ter terminado há muito tempo , aquele incêndio da escola era pra todos nós termos morrido ali mesmo, mas de hoje não vamos escapar. Que belo final trágico vamos ter — ele jogou as palavras em meio a risadas maliciosas, era perceptível que aquele cara estava completamente fora de si.

Léo estava furioso, e já não suportando mais aquela situação, partiu para cima de Tyler. Eu não queria que meu filho presenciasse aquilo, então o abracei pondo seu rosto contra meu peito e comecei a tentar acalmá-lo. Ele tremia e seu semblante parecia confuso. Eu não sabia o que fazer, olhei para um canto do quarto e vi Léo espancando Tyler. O maluco estava no chão sendo esmurrado e sangrando, mesmo assim estava sorrindo como um psicopata masoquista. O fogo e a fumaça estavam cada vez pior, todos tossiam a procura de oxigênio, desesperada comecei a gritar.

— Léo deixa esse babaca de lado e me ajuda a pensar em alguma coisa pra parar esse fogo!

O homem de olhos verdes virou-se rapidamente, nossos olhares desesperados se encontraram e se tornaram refúgio um para o outro. Uma onda de coragem e adrenalina subiu pelo corpo forte de Léo e ele começou a espancar a porta, depois de muitos chutes, finalmente ele conseguiu fazer com que ela fosse violentamente derrubada. Tyler vendo isso, mudou seu semblante sorridente para enfurecido. Ele tentou se levantar e correr atrás de nós, mas um pilar em chamas que sustentava a estrutura daquele cômodo, caiu drasticamente em cima de sua perna esquerda.

Saímos correndo dali, ouvi os gritos de Tyler pegando fogo e olhei para trás, até pensei em ajudá-lo, mas era impossível. As chamas já o consumiam e a última coisa que pude ver foi o olhar de vingança e consumido pelo ódio daquele lunático.

Saímos da casa, tossindo fortemente, os vizinhos chamaram bombeiros e médicos para nos socorrer. Depois de todo aquele sufoco, tivemos ainda que conversar com a polícia sobre o ocorrido.

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