Capítulo 30

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O papel estava selado em minhas mãos, o que me intrigava era a frase que estava escrita em seu verso, somente uma pessoa me chamava de cabelos de fogo e essa pessoa estava morta a anos, se aquilo fosse uma brincadeira, era de muito mal gosto. Respirei fundo e tomei coragem, rasguei o lacre e retirei a folha A4 dobrada em diversas partes de dentro do envelope, nela estava escrito;

“Minha querida e amada Lucy Peterson, você estava prestes a ser chamada de Sra Jordan, mas aquele dia, aquele maldito dia estragou tudo. Para te deixar mais aliviada, não se assuste com o que vou dizer agora, mas eu estou vivo, seu amado Leo que está escrevendo esta carta. Durante todos esses anos eu venho acompanhando você de longe e nosso filho também, você não sabe o tamanho da vontade que eu tô de poder escutar a voz de nosso menininho, aliás ele é muito lindo, puxou os belos cabelos de fogo da mãe. Esse tempo todo muita coisa aconteceu, e quero te alertar: cuidado nas pessoas que você confia. Tenho muito pra te falar meu amor, me encontre na praça amanhã, atrás da árvore que deixamos nossas iniciais, no mesmo horário que te pedi em namoro oficialmente. Rasgue essa carta assim que ler, você está correndo perigo portanto tome muito cuidado por onde anda, estou ansioso para ver você de novo e esclarecer todas suas dúvidas. 

Com amor, o garoto apaixonado
por você desde o dia que te conheceu!"

Fiquei em choque, paralisada processando tudo aquilo que acabara de ler, as dúvidas tomaram conta dos meus pensamentos, seria mesmo Léo que havia enviado aquilo? Só haveria um jeito de descobrir.

Saí às pressas do trabalho e dirigi até o parque, passei o caminho pensando na probabilidade daquela carta ter mesmo sido escrita por Leo e que ele estava mesmo vivo, era muita informação e eu teria que processar até chegar naquele local. Estacionei o carro e desci, bati a porta e arrumei minha saia, respirei fundo e comecei a caminhar. O barulho de meus saltos estava mais alto que o normal, ou talvez minha ansiedade para vê-lo que estava fazendo eu escutar coisas demais.

Cheguei próximo a árvore onde há muito tempo havíamos gravado nossas iniciais, toquei o tronco áspero e irregular, o que me fez lembrar daquele lindo dia. Ouvi um barulho vindo detrás dos arbustos ali perto, assustei-me e curiosa olhei naquela direção, quando de repente vejo uma silhueta masculina alta e esbelta, vestindo um casaco longo azul marinho, quase que preto, camisa de gola alta e boné. O que mais me intrigava é que apesar do frio, a pessoa estava de óculos escuros, andando em minha direção.

O homem chegou próximo de mim e baixou os óculos para que eu pudesse ver seus olhos, meu coração acelerou, aqueles profundos olhos verdes… os mesmos olhos que eu olhei profundamente enquanto dizia que o amava, sim era ele, sem sombras de dúvidas Léo estava vivo e em pé na minha frente. Sem pensar duas vezes, o abracei pelo pescoço e uma corrente elétrica percorreu por todo meu corpo fazendo minha pele sentir arrepios. Meus olhos já ameaçavam marejar quando o garoto começou a falar.

— Lucy  meu amor, presta atenção — Disse ele sussurrando e se afastando de mim — Você não imagina como estou feliz em poder te ver e te sentir, mas temos que ser cautelosos, podemos estar sendo vigiados.

— O que!? Por quem? — perguntei confusa.

— Tyler, ele é um maluco!!

— Impossível, ele mudou! Durante o tempo em que você estava por aí fugindo, ele me ajudou a criar o Chris! — Falei incrédula.

— Então o nome dele é Chris… — Ficou em silêncio. Vi seus olhos brilharem, provavelmente ele estava lembrando da conversa que tivemos naquele quarto na noite de Natal, fizemos muitos planos naquele dia e um deles era sobre os nomes de nossos filhos.

— Sim meu amor, nosso pequeno Christian, assim como combinamos aquele dia, e nosso menino tem seus belos olhos — Falei emocionada.

Eu o vi sorrir e uma lágrima escorrer por baixo dos óculos escuros, sem pensar duas vezes, levei meu polegar até seu rosto e expulsei aquela gotinha salgada de seu rosto.

— Eu quero voltar para vocês, você nem imagina o quanto esses dias têm sido difíceis longe de tudo que eu mais queria, mas foi a única maneira de proteger você e também nosso filho.

— Me proteger? Como se protege alguém se afastando? — um nó se formou em minha garganta e minha mente estava muito confusa, eu tinha muito o que processar e entender.

— Vou te contar a história toda, você merece saber minha querida. Tudo começou naquele dia do incêndio, eu entrei para procurar por você, ouvi seus gritos e os segui, eles ficavam cada vez mais distantes e foi aí que percebi que você estava saindo da escola, foi aí que te vi sendo levada por Tyler até a ambulância, eu corri até vocês, mas a ambulância já tinha te levado. Passei alguns dias te visitando no hospital sempre mantendo a esperança de que um dia você acordaria. Em uma dessas visitas, tive a má sorte de encontrar aquele psicopata, a gente discutiu e ele começou a falar: "Olha o que você fez com ela seu imbecil, era pra ser você nessa cama, o armário que ela abriu foi o seu, eu tinha colocado aquela bomba lá de brincadeira, mas era somente para você abrir aquele armário." Eu rebati com certeza, até que ele respondeu com: "Ela vai ficar bem melhor sem você na vida dela, você sabe do que sou capaz de fazer, então vou te dar duas opções, some da vida dela, dessa cidade, deixa ela em paz ou eu irei atrás de vocês, vou destruir sua família e acabar com todas as pessoas que você ama, a começar por ela. Pense bem Jordan, um passo em falso e a Lucy morre hoje mesmo" depois disso eu parei de te visitar, mas continuava na cidade, estava sempre por perto, perguntava à sua mãe se você estava melhor e mandava flores com cartões pra você. Tyler foi até minha casa certo dia e continuou com as ameaças, foi então que ele teve a ideia de forjar minha morte para que eu pudesse fugir sem deixar rastros, até hoje não sei exatamente como ele conseguiu isso, mas foi o que aconteceu, depois daquele dia eu vivi escondido e quando soube que você tinha acordado fiquei muito feliz e planejei cada segundo para te encontrar de novo. Eu observava você de longe, vi sua barriga crescer e sabia que era nosso filho, vi Tyler te acompanhar até a maternidade e também o vi presente nos aniversários e toda vida de vocês, aquilo me destruía da pior forma possível, mas uma gota de esperança surgia sempre que via você visitando meu túmulo.

Eu estava em choque, era difícil acreditar que durante anos eu vivi com um psicopata em minha casa, o deixei participar da vida do meu filho e até mesmo da minha. Os jantares, as noites que ele passou comigo para ajudar com o bebê, só de pensar na possibilidade de que ele podia ter feito algo de ruim com a gente. Como eu pude ser tão burra a ponto de permitir isso? Eu o conhecia, sabia da ficha de idiota canalha dele e mesmo assim ele entrou na minha vida. Tudo que ele fez comigo no ensino médio eu deixei para trás, caí no papo dele como uma ovelha caminhando até o matadouro. Naquele momento eu não sabia se ficava mais desapontada comigo ou se me deixava levar pelo  ódio que sentia daquele garoto.

— Léo faz o seguinte, vai lá em casa amanhã, quero te apresentar nosso filho, não precisa mais ter medo dessas ameaças, vou agora mesmo na polícia ou talvez em um manicômio que é o lugar dele.

— Não, você não pode! Tyler tem pessoas lá, ele está em todos os lugares. A gente vai vencer isso juntos, só temos que ser cautelosos. Eu irei sim amanhã ver vocês.

Nos despedimos com gestos distantes e voltamos para nossas vidas cotidianas.

Destino InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora