Princesinha Sophia.

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Harry podia sentir seu coração batendo alto contra seu peito, em menos de dois dias sua vida antes fria e sombria estava um caos, mas nada como aquilo era o esperado, em sua mão havia um relatório preliminar da polícia sobre o acidente e em detalh...

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Harry podia sentir seu coração batendo alto contra seu peito, em menos de dois dias sua vida antes fria e sombria estava um caos, mas nada como aquilo era o esperado, em sua mão havia um relatório preliminar da polícia sobre o acidente e em detalhes ele podia saber que no carro além da fita também foi encontrado uma boneca parcialmente queimada.

-Maldição! Xingou pela décima vez, não conseguia acreditar que no primeiro relatório nada disso tenha aparecido, mesmo que o resgate tenha sido difícil era de se esperar uma investigação mais detalhada!

Quanto ao carro nada de novo, ele explodiu logo após Edgar/Louis ser resgatado e já estava bem danificado pela queda e pelo desmoronamento de pedras a seguir, pensando assim era um milagre que seu marido estivesse ainda vivo. Um calafrio lhe subiu a espinha ao pensar nisso.

-Harry? Você voltou?

O homem guardou o relatório na gaveta e se dirigiu a sala onde a cadeira de rodas estava parada perto de uma mesinha, Louis não costumava ir ao escritório ou mesmo a nenhuma parte da casa antes de pedir permissão.

-Voltei...Você tinha razão, a polícia acha mesmo que tinha uma criança dentro do carro mas que saiu bem antes da explosão, estão procurando em todos os lugares, hospitais, clínicas e orfanatos, até mesmo em abrigos de sem teto, eles vão encontra-la.

Louis suspirou nervoso, mas conseguia respirar com o medo dentro de si, mas mesmo assim não se lembrava de nada além do que disse antes, era frustante.

-Obrigado por ter me ouvido, pra ser sincero eu não achei que me daria atenção, pensei que iria me internar em um sanatório.

Harry revirou os olhos para o jovem que sorriu pequeno, um sorriso finalmente.

-Não sou um monstro...Ou não pretendia ser, posso ter sido duro com você quando acordou e aqui em casa também, mas eu vou ser mais gentil, prometo.

Louis sorriu de novo, timidamente, o sorriso combinava com ele muito mais do que as lágrimas.

-Acho que eu mereci tudo isso, mas eu queria tanto lembrar!! Especialmente de minha mãe, em como eu a achei e como fiquei com a Sophia, eu chego tão perto e depois tudo se apaga, nunca vejo o rosto dela...Só os cabelos encaracolados.

Harry se aproximou e tocou o rosto bonito, ainda meio escovado pela magreza, mas sem deixar de ser tão belo, aqueles olhos eram tão bonitos que o faziam se perder, um mar parado, calmo e sem ondas.

-Louis...Eu gosto deste nome, é bonito, suave, doce como você...

Louis corou visivelmente, mas não afastou a mão que o tocava, era reconfortante, macia e firme e ele precisava disso, de conforto e carinho quase como precisava de ar para respirar.

-Onde está minha avó?

-Vovó se recolheu a pouco, eu pedi um chá de camomila, mas não sei se a empregada o fará, ela me olha de um jeito estranho e nunca me responde.

Harry sentiu um nó na garganta ao imaginar Louis sendo maltratado e uma sensação quente ao perceber como ele chamava sua avó carinhosamente.

-Vou fazer o chá e vou leva-lo para a cama, deve descansar porque anda muito abatido, tem que confiar na polícia meu querido, eles tem tudo sob controle. Mas lógico que nem Harry acreditava nisso, era complicado buscar uma menina somente com uma descrição de uma pessoa com amnésia e presa a uma cadeira de rodas devido a um acidente traumático.

-Você sabe fazer chá?

Harry fingiu indignação.

-Oras! Sei sim!! E ainda sou capaz de passar geleia em torradas!

Louis o olhou com um leve divertimento, entendia que Harry o estava distraindo e ficava grato por isso, o dia havia sido muito longo, uma sessão com o psicólogo, uma com o psiquiatra e uma de fisioterapia, estava exausto e claro que em nenhum momento deixou de pensar na sua irmãzinha, era mesmo complicado.

Alguns minutos depois os dois tomavam chá de camomila em silêncio na sala, um vento forte rugia pelas janelas fechadas e o som era agourento e sinistro, logo uma chuva caiu e se tornou uma tempestade violenta com raios e trovões.

Harry empurrou a cadeira de rodas para o quarto e ajudou Louis a deitar na cama grande, depois fechou as cortinhas para que a luz dos raios não inundasse o quarto todo, no mesmo instante a energia cedeu e caiu diante a grande tempestade e Louis tremeu de medo na cama.

-Pode ficar comigo hoje, só até eu dormir? Acho que não gosto de tempestades assim.

Harry concordou e se deitou ao lado dele, tinha perguntas que o deixavam curioso mas não sabia se podia faze-las, eram pessoais e até invasivas, mas eram casados afinal de contas.

-Louis? Consegue sentir algo nas pernas? 

O jovem que estava de barriga para cima se virou com certa dificuldade e encarou os olhos verdes que mesmo no escuro pareciam iluminados antes de responder.

-Sinto, mas não como antes, eu me arrepio e sinto coceira, frio e calor, mas não posso move-las, é frustante e enervante, eu acordo e me esqueço que não posso me levantar como antes, me esqueço o tempo todo e então ao tentar faze-lo me lembro...Sempre é dolorido, todas as vezes, como a primeira foi.

Harry suspirou.

-Desculpe...

-Não precisa se desculpar, eu imagino que esteja curioso...Mas eu estou preocupado com outra coisa, onde minha irmã pode estar com este tempo? Aquecida? Amparada ou sozinha? Viva?

Harry o abraçou, não porque estivesse com frio, mas porque sentia a dor dele como sendo sua, era como antes e ainda sim totalmente diferente, com Edgar era um amor exigente e traiçoeiro, egoísta, mas com Louis, essa versão diferente era boa, ele o sentia delicado em seus braços, calmo e gentil...Talvez sua avó tivesse razão, esse não era Edgar.

Isso não era realmente importante no momento...Importante é que Harry sentia que estava se apaixonando por essa versão nova de seu marido, tão serenamente como uma brisa, mas de um modo intenso como nunca achou possível.

-Ela está bem...Acredite meu amor, sua irmã está bem...

Mas Louis já não ouvia, ele dormia amparado nos braços fortes que o seguravam com todo carinho enquanto o mundo desabava lá fora e os segredos continuavam escondidos entre o silêncio e o esquecimento.

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