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[Aviso] Esse capítulo tem cenas muito fortes e delicadas. Se não estiverem se sentindo bem, melhor lerem em outro momento. Motivo: mutilação.

Acordo no meio da madrugada e, tomando o máximo de cuidado saio da cama sem o acordar

Minha cabeça dói absurdamente... Mesmo que eu nem me lembre do porquê.

Mas nem me importo mais, é sempre assim, sempre dói. Sempre dói muito.

Caminho lentamente até a cozinha, minha mente atordoada... Daejun não poderia descobrir que saí da cama.

Abro a gaveta da pia no escuro, tateando os talheres com cuidado para não fazer barulho.

- Cadê?

Estranho não encontrar a faca azul de sempre. Foram tantas vezes que eu já sei exatamente como é seu formato e como encontrá-la sem fazer barulho.

Ele bateu no Hobi e depois me trancou em seu quarto, fez tudo que queria, prometendo que realizaria seus desejos por completo em meu aniversário.

Um calafrio de medo percorre minha espinha.

Eu não vou deixar isso acontecer.

Finalmente encontro uma faca qualquer para substituir a minha.

Narrador on

S/N se sentia vazia, ao mesmo tempo que sentia o coração afundado dentro do próprio peito. Agonizante.

Suas veias pulsavam, como se cada uma delas estivesse contando à garota onde, precisamente, estavam localizadas. Os pensamentos eram rápidos e confusos, faziam sua cabeça doer.

No meio da madrugada fria, S/N não tinha clareza sobre o local em que estava, sobre quem estava ao seu lado na cama ou até mesmo sobre qual era a data do dia que se findava.

Às 23:51, S/N estava na cozinha de Jung Daejun, havia fugido do quarto assim que o homem pegou no sono e tentava não acordar o irmão com o barulho dos talheres na gaveta.

Ela sentia suas mãos trêmulas, o coração batendo forte e pesado. Sentiu uma onda de eletricidade percorrendo suas veias, órgãos e entranhas quando envolveu com seus dedos o cabo da faca grande e afiada.

Hobi havia escondido grande parte dos objetos com que poderia se cortar. Mas por sorte, ou por ironia do destino, havia ainda aquela de coloração azul.

Eles haviam usado para cortar o bolo de aniversário de Hoseok em uma cerimônia simples de poucos convidados e durante a qual Daejun avisou S/N sobre querer que ela fosse para seu quarto e o esperasse assim que todos fossem embora e Hobi e os empregados dormissem.

Sorrateiramente, a garota adotada fui até a cozinha e pegou a faca, a escondendo em uma espécie de fundo falso da gaveta de talheres. Ela sabia que Hoseok nunca iria sequer imaginar que ali poderia ter algo escondido.

A partir daquele dia, todas as noites em que era obrigada a dormir junto a Daejun, ainda que eles não fizessem nada... Ou melhor, ainda que de todas as coisas que Daejun lhe fazia, ela mantinha sua virgindade, S/N levantava em silêncio na madrugada, pegava o objeto sob os talheres inofensivos da cozinha e rumava ao banheiro.

Às 23:54, meses mais tarde e a quilômetros de distância, a garota rumou para o banheiro sem nem mesmo pensar no quanto os cômodos e móveis eram diferentes dos da casa em que crescera.

Acendeu as luzes, procurou por faixas no armarinho abaixo da pia, mas apenas encontrou papel higiênico e fitas para curativo. Aquilo serviria.

Com um nó entalado na garganta, o estômago revirado e as veias saltando a ponto de quase poder ouvi-las, S/N retornava para Seoul, revivia as experiências com Jung Daejun, lembrava-se de sua mãe chorando na última vez que se viram.

- Por que você me deixou aqui? O que foi que eu te fiz para você me abandonar? - ela questiona a mãe através do próprio reflexo no espelho.

A garota fecha a porta e se certifica de trancá-la, abre a torneira e respira profundamente.

A cabeça tão zonza que a própria respiração parece equivaler a sons alucinadamente altos, causando estrondos e pontadas dolorosas dentro de sua mente conturbada.

Para por fim às tantas pulsões de suas veias, ela finalmente encosta a lâmina em sua pele clara, aplicando um bocado de força cada vez maior, até ver o sangue surgindo em pequenas gotas avermelhadas.

Gotas que logo se reúnem, formando uma pequena linha gotejante, como um traço que aos poucos se vai encorpando e aprofundando.

Já é tão comum noites como essa que S/N sequer consegue sentir a pele sendo corrompida, perfurada e violada dessa forma. Nada mais era sentido.

A única coisa que lembrava à garota adotada e abusada por Jung de que ainda estava viva é a ardência em seus olhos e as lágrimas incapazes de conter que rolavam por seu rosto em uma intensidade quase que comparável à torneira aberta.

Após alguns segundos olhando para a formação líquida em vermelho vivo presente em seu pulso, S/N começa a lavar os braços.

Deixar que a água caísse sobre a região causava pequenos e constantes choques em sua pele, lembrando que ela ainda era de carne e osso.

De súbito, como um choque de realidade, S/N volta ao tempo presente e finalmente percebe que não está na casa dos Jung, lembra-se que a pessoa ao seu lado na cama é Min Yoongi e que ela está a quilômetros de distância de Seoul.

A salvo.

A salvo e com pulsos cortados.

Em desespero, ela começa a lavar a região, tentando fazer com que o sangue pare e quando finalmente parece que diminui, ela desliga a água e pega o rolo de papel.

Suas mãos tremem e ficam úmidas pela água e pela tensão, como iria esconder isso de Yoongi? Ou melhor, como iria explicar?

Enquanto passa o papel para tirar a umidade da região, S/N se lembra dos momentos em que Yoongi havia sido tão compreensivo e lhe ajudado.

Ela havia dito que não fazia mais isso. Ela havia ficado meses sem pensar nisso. E agora estava enrolando papel nos pulsos, torcendo para que aquilo fosse suficiente.

Prendeu o mais firme possível com as fitas para curativo, limpou a pia e a faca até que nada lembrasse a coloração vermelha de antes. Secou tudo, destrancou a porta e saiu.

Chegando ao seu quarto, viu Yoongi dormindo profundamente.

- Sinto muito... - sussurrou sentindo o peito afundar em culpa.

Foi até o armário, procurou por uma blusa de mangas longas e a vestiu por cima da outra mesmo.

Sua mente girava com os pensamentos... Era difícil aceitar sua situação naquele momento.

00:00 a garota com os pulsos cortados se deitou ao lado de um garoto de gelo e se lembrou...

Porque te amo, meu anjo.

My Unexpected Host - Min YoongiOnde histórias criam vida. Descubra agora