[DEGUSTAÇÃO] Razões para nunca esquecer - SÉRIE HERÓIS #3

PRÓLOGO

VINTE ANOS ATRÁS

— Mãe!

— Filha, por favor. Faça o que eu estou te pedindo.

O desespero não me permitia parar de chorar, mas fiz o que minha mãe pediu e permaneci calada enquanto era levada para a biblioteca. O barulho de vidros sendo estilhaçados causou dentro de mim um pânico ainda maior e dei um salto para trás quando minha mãe abriu o compartimento secreto do armário que sempre tinha me fascinado na infância.

— Mãe, você e o papai cabem aqui comigo. Por favor, não me deixe. — Tentei ser mais silenciosa, mas os soluços escapavam antes que eu pudesse contê-los.

— Meu amor, eles sabem que seu pai e eu estamos aqui.

— Eles quem, mãe?

— Os irmãos do assassino que eu e o seu pai colocamos atrás das grades. Nós dois não temos chance, mas você tem, e faremos tudo ao nosso alcance para que você continue viva.

— Não!

— Por favor, Rachel. Se você me ama, ficará caladinha e escondida aqui dentro. Ligue para a polícia, mas não faça barulho.

Agarrei o celular que era colocado em minhas mãos e ouvi outro barulho ao mesmo tempo em que era empurrada para dentro do armário. Todo o meu corpo tremia e sentia como se os meus olhos estivessem queimando.

— Mãe...

— Ligue agora para a polícia e me faça um favor, meu amor. Não abra os olhos...

A espessa porta de madeira foi fechada antes que eu implorasse novamente para que minha mãe permanecesse comigo e a única claridade vinha da fresta e da tela do celular.

Disquei o número da polícia vendo os meus dedos vacilarem e sentindo dificuldades para respirar. Bastaram dois toques para que eu fosse atendida, mas esses poucos segundos nunca demoraram tanto para passar.

— Departamento de Polícia de San Paolo, policial Gordon Campos falando. Em que posso ajudar?

— Por favor, ajuda a gente... — as lágrimas caíram sem parar, uma atrás da outra, e me encolhi no canto esperando que um milagre acontecesse e tudo não passasse de um pesadelo.

— Com quem estou falando?

— Rachel. Rachel Cole. Tem homens tentando invadir a minha casa. Meus pais estão lá fora e me pediram para ligar para a polícia. Me ajuda...

— Me passe o seu endereço, Rachel. Estamos indo para a sua casa.

— Porto Hilton, 214. Ao lado... ao lado do colégio Branenze.

— Rachel, eu quero que você fique calma e permaneça na linha comigo. Prometo que nós não vamos demorar a chegar. — O policial pedia que eu ficasse calma, mas meu medo era tão grande que só pude seguir as ordens da minha mãe.

Fechei meus olhos e me encolhi ainda mais, segurando firme o telefone e ouvindo o meu próprio coração bater dolorosamente. As lágrimas não cessavam, alimentadas pela angústia que parecia nunca parar de crescer.

Eu sabia que o policial permanecia do outro lado da linha tentando me manter alheia a tudo o que acontecia, e, por um momento, achei que ele havia conseguido, mas quando ouvi o som de tiros, soltei o aparelho e me apertei contra a porta, chorando baixinho e rezando para que o meu pai tivesse conseguido pegar a sua arma no cofre do quarto.

Por longos minutos, o silêncio passou a ser tudo o que eu escutava, até que a voz rouca da minha mãe chegasse aos meus ouvidos. A pequena chama de esperança que havia me atingido rapidamente se apagou, e eu soube que o meu pesadelo era real.

— Onde está a garota?

— Ela não está aqui!

— É uma pena. Daria uma bonita foto de família.

Um... dois... três tiros...

Silêncio.

O esforço para manter os olhos fechados deixou de existir quando a minha mente parou de funcionar e me senti sendo levada para outro lugar, um ambiente escuro, frio e onde não havia dor.

Tudo ao meu redor pareceu me repelir e acabei quase desfalecida, abraçando os meus joelhos. Uma dormência estranha se apossou do meu corpo, me tornando ignorante a tudo, inclusive ao tempo decorrido desde que a minha realidade se transformara em um universo ficcional.

Nada parecia fazer sentido, nem mesmo os sons incômodos abafados pelo meu estado torpe, por isso não reagi quando braços fortes me seguraram e me apertaram junto a um corpo quente e trêmulo.

— Eu estou com você, Rachel Cole. Fique calma, eu estou com você.

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E FOI DADA A LARGADA EM RAZÕES PARA NUNCA ESQUECER!!!!

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