Capítulo 2

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WILLIAM


— Traumatismo craniano, fratura na tíbia. Darla, cuide do tubo para aspiração leve. Laila, traga mais gazes. Saturação caindo e batimentos cardíacos baixando para 50.

— Epinefrina, William?

— Por favor. Rápido, Paul. Ravi, vou precisar de outro par de mãos aqui comigo.

Um terrível acidente de moto tinha deixado esse homem em péssimo estado. Assim que deram entrada com ele no Pronto-Socorro, um dos paramédicos me mostrou fotos do acidente e fiquei surpreso pela vítima não ter morrido na hora, pois não era possível identificar absolutamente nada da frente do carro e, muito menos, da sua moto.

Toda a equipe estava empenhada em salvar essa vida, principalmente quando a família do homem chegou e seu filho, que não devia ter mais de cinco anos, chorava copiosamente no colo da mãe. Eu os vi de relance antes de entrar na sala de cirurgia, mas foi o suficiente para me dar ainda mais motivação. A vida desse pai de família estava em minhas mãos, e eu faria o possível e o impossível para salvá-lo.

— Vamos precisar trabalhar rápido, irmão. A quantidade de sangue que ele está perdendo...

— Sim, mas estou torcendo para que o dano cardíaco não seja muito grande. Vamos precisar de mais bolsas de O negativo.

— Deixe comigo, doutor. — Georgina se apressou, atravessando a sala de cirurgia num piscar de olhos.

Pelas duas horas seguintes, Ravi e eu tentamos de todas as formas controlar a hemorragia e estabilizar o paciente, mas nada parecia funcionar. A paciência sempre tinha sido uma das minhas maiores virtudes, ainda mais durante cirurgias de risco como essa, onde a família da vítima contava com o meu total empenho para salvar a vida de um ente querido, e dessa vez não seria diferente.

Eu tinha orgulho por ter uma equipe tão empenhada trabalhando comigo, pois um médico sozinho não era capaz de fazer a diferença. Todos os funcionários do San George eram dedicados, mas os médicos e enfermeiros que sempre me auxiliavam durante cirurgias eram os melhores e mais esforçados que poderia haver.

— Doutor Belmonte, perdi o pulso!

— Porra! Pás em 200.

Posicionei as pás do desfibrilador no peito do paciente e deixei que a descarga elétrica agisse em seu corpo, olhando para o monitor cardíaco e não vendo alterações.

— Nada.

— 280! Afastem-se!

— Sem mudanças, William.

— Droga, vamos lá, cara! Hoje não será o seu dia de partir! 360, choque!

O corpo do paciente novamente foi elevado pela potência do choque disparado em seu peito, mas, dessa vez, vi uma mudança no monitor que me ajudou a respirar com mais facilidade.

— Conseguimos um ritmo pessoal. — Ravi anunciou, aliviando a apreensão de todos. Tanto ele quanto Zion tinham a incrível habilidade de manter o controle total de suas emoções, algo que infelizmente me faltava.

— Pulso subindo.

— Continue assim, cara! Aguente firme que vamos salvar você.

Uma enfermeira secou o suor que descia pela minha testa e sussurrei uma oração enquanto continuava trabalhando ao lado de Ravi. Era algo que eu fazia sempre, uma forma de me conectar e pedir a Deus que Ele permitisse que minhas mãos operassem um novo milagre.

Saí da sala de cirurgia com o corpo protestando, mas com o alívio de ter dado o meu melhor para salvar mais uma vida. Sem a ajuda do meu amigo, talvez não tivesse sido capaz de reverter o quadro crítico do paciente. Conseguimos remover um estilhaço de metal que se alojara bem próximo ao coração e que, por muita sorte, não atingira uma artéria que o levaria à morte em segundos.

[DEGUSTAÇÃO] Razões para nunca esquecer - SÉRIE HERÓIS #3Onde histórias criam vida. Descubra agora