Capítulo 1

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RACHEL


O meu dia estava sendo um daqueles dignos de ser destacado como "o dia em que eu não deveria sequer ter me levantado da cama". O jornal estava passando por um período estranho de demissões, mesmo sendo um dos maiores jornais do país, conhecido mundialmente como um dos principais veículos de difusão da informação e da cultura. Nem sempre sonhei em ser jornalista, mas a vida me deu razões para escolher essa profissão, e eu aprendi a amá-la.

E era por isso que eu estava aflita, mesmo tendo um chefe que me tratava como se fosse sua filha; mesmo sendo muito boa no que eu fazia.

— Rachel, pode vir à minha sala?

Quase dei um pulo da cadeira quando ouvi a voz de Richard Jones, meu chefe e o grande responsável por mandar qualquer funcionário embora. Afinal, ele era simplesmente o dono de tudo.

— É claro, senhor Jones. Só vou salvar o meu trabalho. — Ele assentiu e voltou para dentro do escritório, me permitindo recuperar o fôlego ao mesmo tempo em que fazia uma oração silenciosa para não perder o emprego que era a minha vida.

— Rachel, será que você também será demitida? Ouvi que Joe foi mandado embora durante o intervalo do almoço.

Olhei para Dora, que tentava inutilmente esconder um sorrisinho idiota ante a chance de me ver na rua, e dei de ombros, sabendo que argumentar com uma jornalista falsa que tinha se feito de amiga enquanto tentava me prejudicar não me ajudaria em nada.

Como em todo ambiente de trabalho, eu tinha os meus amigos, os meros colegas e alguns invejosos que se sentiam ameaçados pela minha autoconfiança. Dora fazia parte do grupo de ambiciosos que sonhavam estar no meu lugar, pois eu era reconhecida pelo meu esforço e havia me tornado uma das queridinhas de Richard. Seu maior desejo era ocupar o meu lugar, ser amiga de Maggie — filha do nosso chefe — e poder sugerir pautas que achasse interessante, não apenas escrever o que lhe era exigido.

— Não sei, Dora, mas espero que não. Se eu for mandada embora, quem irá ignorar as suas tentativas de ser uma megera sem coração?

— Rachelzinha, não seja tão mal-humorada. Só porque você está solteira desde que Greg te deixou para ficar comigo, não significa que você precisa descontar sua rabugice na gente.

Ah, eu mencionei que Dora também estava transando com o meu ex?

— Não se iluda, Dorinha. Você pode até acreditar nessa história que não passa de uma invenção da sua mente pouco criativa, mas já planejava terminar com Greg muito antes de você se oferecer a ele durante a festa de confraternização do jornal. Aliás, sabia que ele ligou na semana passada, me chamando para tomar um drinque e dizendo que sente a minha falta? Cuidado para não ser deixada também, querida. Poucas aceitariam ficar com os restos de outra mulher e, ainda assim, não ser suficiente para despertar o seu total interesse.

Forcei uma risada e dei as costas para Dora, que parecia prestes a espumar de raiva. Alguns colegas tentaram esconder a diversão, mas muitos falharam, principalmente Ashton, um jornalista que tinha começado há pouco tempo, mas que rapidamente se tornara meu amigo. Assim como eu, poucos gostavam da jornalista que se achava melhor do que todos somente por ter um pai famoso.

Quanto mais me aproximava da sala de Richard, mais meu coração batia descompassado, mas me fiz de forte e engoli o medo, pois ele não me ajudaria em nada.

— Senhor Jones? — Bati à porta e fui surpreendida quando Maggie a abriu.

— Rachel, entre. Papai está terminando uma ligação.

[DEGUSTAÇÃO] Razões para nunca esquecer - SÉRIE HERÓIS #3Onde histórias criam vida. Descubra agora