Porcelana

S31072020

O mercado estava silencioso. O sol ia alto lá fora, mas a não ser pelo moço solitário na caixa registradora, eu estava só. Caminhar sozinho por um mercado tão gigantesco me deixava com uma sensação de pequenez palpável que eu tentava com todas as forças ignorar.

Eu já tinha sido julgado pelo moço no caixa mesmo...

Há uma espécie de energia esmagadora que os corredores cheios de comida e vazios de gente emanam, como se cada embalagem sussurrasse enquanto eu passava.

"Qual o problema dele?"

Faz tempo que ninguém sai para fazer as próprias compras na cidade grande, e honestamente eu também não o faria se não fosse de extrema necessidade.

Meus passos ecoam nos corredores enquanto busco pelos itens da lista, tentando não olhar para os lados no processo, tentando ignorar os olhos mecânicos que me observavam.

Vez ou outra não consegui conter o instinto, e meus olhos saltaram para o fim do corredor, quase a tempo de perceber a massa preta que se moveu para fora do meu campo de visão.

Finalmente, com todos os itens da lista em mãos, me dirigi ao moço no caixa, medindo o passo para não correr. Com tudo pago, mochila nas costas, deixei o estabelecimento. Senti os olhos mecânicos seguindo meus passos enquanto eu caminhava rapidamente para casa.

Desse jeito, não tinha quem viesse ao mercado mesmo...