D11102020

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A água ia e voltava. Calmamente, mas imponente. Não tinha quem lhe fizesse mudar de curso. O barulho era reconfortante, mas para ela era quase um desafio.

- Olha, você não pode controlar o mar. O mar é sagrado, uma entidade, uma força que merece respeito. Para dominar suas águas, você precisa entender isso. Você não vai controlá-lo. Você vai guiá-lo por um curso novo.

Sua mestra a observava enquanto estava parada, os dois pés na água.

- Sinta as ondas, e o movimento de vai e vem. Sinta, converse com o mar, e peça permissão à ele.

- Pedir permissão? - questiona, com um ar de riso. Sua mestra, entretanto, estava muito séria.

- Claro. Ou você achou que ia conseguir fazer alguma coisa sem pedir?

Foi quando sentiu profundamente as águas que entendeu o que sua mestra queria dizer. Havia uma fúria mascarada naquele lugar. O oceano sabia criar e destruir, proteger e esconder, dar vida e matar. Sentiu medo. Não queria tentar. Parecia que o mar ria dela, e de quão patética e pequena ela era.

- Você não precisa ter medo. Um manipulador que guia o mar é temido pois não tem medo do mar. Vocês não são diferentes, são duas partes de um todo, nós viemos dele, nossa força também está nele. Ele é sua fúria, seu ódio, seu choro e seu grito. Se deixe falar pelo mar.

Ela respirou fundo e fechou os olhos. Quando cavava bem, podia sentir que, no fundo, o mar era gentil. Queria estar conectado e nutria afeição por sua mestra e por ela. Não precisava temer.

Finalmente, afastou os pés e se posicionou. Estava pronta para tentar.

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