S21122020

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- Bom dia. - ela ouviu, e virou a cabeça a tempo de ver um rapaz ocupando o lugar ao seu lado.

- Bom dia. - respondeu, ajeitando a postura e se voltando para o celular outra vez.

Os dois permaneceram em silêncio depois disso. Não era nada de mais, tinham uma viagem de duas horas e meia pela frente ao lado de um desconhecido, mas nada que os dois já não tivessem feito.

Consciente da presença ao seu lado, a moça manteve sua postura e ficou à certa distância. Pôde ver o rapaz afastar as pernas, de modo a não invadir o espaço pessoal dela. Ambos pareciam preocupados em não incomodar.

Alguns minutos depois, entretanto, as costas dela doíam. Lentamente, sua postura foi se desfazendo.

Mais alguns minutos depois, as pernas do rapaz se espalhavam um pouco para os lados, provavelmente devido ao desconforto.

Não precisou de muito mais: dentro de 30 minutos, os dois estavam dividindo o encosto de braço entre os assentos, com as pernas e os ombros se encostando, ouvindo suas músicas em seus devidos fones de ouvido.

A moça se deu conta de seus comportamentos e riu internamente. Era engraçado perceber o acordo mútuo entre pessoas dividindo ônibus de viagens. Os dois precisavam encontrar o equilíbrio entre seu próprio conforto e o conforto do outro, e isso sempre incluía contato físico, de alguma forma.

Interessante como dois desconhecidos podiam conviver como se soubessem exatamente quem são numa situação específica como dividir o assento no ônibus.

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