- Está frio, mestre. Vista isso.
O rapaz se virou para ver Hina segurando um casaco grosso. Ele o pegou, mas não vestiu, abraçando o tecido.
- As vezes é bom sentir frio, Hina... - diz, se voltando para a janela novamente.
Ela pendeu a cabeça para o lado, observando. Quase dava para ver as engrenagens funcionando em sua cabeça através de seus olhos azuis.
- Eu não entendo, mestre.
- Você não consegue sentir, não é?
Ele sabia qual seria a resposta à sua pergunta, e nem sabia por que a fizera, afinal. Talvez só quisesse desesperadamente que alguém entendesse. Talvez só não quisesse se sentir tão sozinho. Parecia ingratidão à presença de Hina, mesmo que ela não sentisse.
- Está fora da minha programação, mestre. - quando o rapaz suspirou, ela prosseguiu: - Há algo o incomodando?
Demonstrando surpresa, seus olhos se dirigiram à ela.
- Por que a pergunta?
- Há muito tempo está me perguntando sobre coisas que estão fora da minha programação. O senhor me programou, mestre. Sabe o que posso sentir ou não. Há algo errado?
O rapaz suspirou. Ela tinha razão.
- Desculpe Hina. É uma sensação de vazio que não sei explicar... e sei que não pode sentir frio, ou entender o vazio, mas é como se me faltasse uma peça... Você também consegue sentir quando lhe falta uma peça?
- Desculpe mestre, mas está fora da minha programação...
Hina quase pareceu triste.
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Porcelana
Short StoryS31072020 "Desse jeito, não tinha quem viesse ao mercado mesmo..."