Capítulo Quinze

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Sherlock não se lembrava da última vez que teve uma dor de cabeça tão grande e, considerando o número de lesões que ele havia recebido ao longo dos anos, isso era muito. Ao abrir os olhos, percebeu que o ambiente ao redor era tão escuro quanto o interior de suas pálpebras. Sua tentativa de se mexer também foi inútil. Havia algo restringindo o movimento de seus braços e pernas.

O detetive podia sentir seus olhos pesarem, tentando levá-lo de volta à inconsciência, mas ele não permitiu. Havia algo acontecendo, algo importante. Era apenas difícil lembrar com todo o cansaço que sentia. Fazendo um esforço maior para se mexer, sentiu uma dor forte queimar em seu ombro.

A dor arrastou consigo a lembrança de uma arma disparando e as outras lembranças acompanharam a primeira, penetrando em sua mente apesar do estado letárgico e do raciocínio mais lento causado por qualquer que fosse a droga que Mycroft tivesse lhe dado.

- John - A secura em sua boca fez com quem a palavra saísse baixa e rouca. - John - Ele tentou novamente, dessa vez um pouco mais alto.

Mesmo com os olhos se acostumando à escuridão, era difícil saber se a falta de resposta era porque John estava inconsciente ou não estava com ele nesse lugar, que supunha ser um porão. A terceira possibilidade era horrível demais para aceitar e, mesmo com a lembrança daquele último tiro, Sherlock se recusava a acreditar que seu amigo estivesse morto.

Sherlock não sabia dizer quanto tempo ele permaneceu ali, apenas tentando se livrar das restrições que o prendiam e, ocasionalmente, chamando pelo amigo. Quando sua pouca energia estava se esgotando, um barulho vindo de cima atraiu sua atenção.

Sua dedução de estar em um porão se mostrou correta quando um alçapão se abriu no teto e um pequeno rastro de luz penetrou no lugar. A iluminação não fazia muita diferença, mas era o suficiente para distinguir o contorno de uma escada próxima a entrada e de outros objetos ao redor.

Um momento se passou antes que alguém começasse a descer as escadas. A pouca luz não permitia ver o rosto, mas o contorno feminino da figura era suficiente para deduzir sua identidade.

- Molly?

Não houve uma resposta verbal, ao invés disso o alçapão foi fechado e o porão mergulhou na escuridão outra vez. No momento seguinte, no entanto,  uma lâmpada foi acesa e Sherlock teve que que fechar os olhos para fugir da claridão repentina.

- Finalmente acordado - Molly parecia exultante com isso. Sherlock forçou os olhos a abrir e se viu encarando o rosto sorridente da mulher. - Eu pensei que você ia dormir o tempo todo, não seria divertido.

O detetive piscou para o tom infantil da mulher. Chegava a ser mais assustador que ter uma arma apontadada para a própria cabeça. Parecia um daqueles psicóticos que apareciam vez ou outra nos seriados policiais ruins que John gostava de assistir.

- Então, você vai me contar? - O detetive manteve seu tom calmo e nivelado, sabendo que negar a atenção que Molly queria e perguntar sobre John que, como suspeitara, não estava com ele, só pioraria a situação.

- O que você quer saber? - A expressão no rosto da mulher se tornou mais séria.

Apesar da preocupação com John, Sherlock não podia negar a sua curiosidade a respeito de como a mulher havia chegado a isso. A lógica dizia que uma vez que ouvisse toda a história, ele estaria morto, mas o fato de estar preso em uma cadeira no porão indicava que ele não sairia vivo mesmo se não soubesse, então, ouvir a história também poderia comprar tempo para pensar em uma saída.

- Tudo. Eu quero saber tudo. - Respondeu finalmente.

Molly riu.

- Sem deduções? Acho Ketamina pode fazer isso com você. - A falta de reação de Sherlock fez seu sorriso aumentar - Espero que esteja confortável. A história é um pouco longa.

The Devil's Game (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora