nine

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Quando exposto a um trauma, o corpo implanta seu próprio sistema de defesa. Desde o primeiro segundo em que o cérebro recebe o sinal de que uma catástrofe aconteceu, o sangue corre para os órgãos que precisam de mais ajuda. Há um dilúvio de sangue nos músculos. Nos pulmões. No coração. No cérebro. O cérebro toma uma decisão pelo resto do corpo. Encarar o perigo ou fugir. É um mecanismo designado para proteger o corpo de danos, de saber que o que aconteceu pode ser irreparável. Nós chamamos isso de choque. Quando o choque acaba, quando o corpo pode aceitar que um trauma aconteceu, quando pode abaixar suas defesas, é um momento assustador. É vulnerável. O choque nos protegeu e pode ter nos salvado.

// HAYDEN //

Alondra havia me dado permissão pra chamar Zayn pra participar da conversa. Ele deixou nossa filha com os meus pais e assim que chegou, quase desmoronou de tão chocado. Eu sabia que ali tinha muita coisa, principalmente raiva, afinal, Dave era seu colega de trabalho, mas não foi isso que ele deixou transparecer. Zayn foi completamente amigo e ouvia cada palavra da garota com atenção e deixava claro que sentia muito por ela estar passando por isso.

- Eu sei que isso é errado, eu sei que ele está errado. Eu sempre soube. Eu tenho informação, eu sei o que é isso que ele faz, mas... Eu nunca imaginei que aconteceria comigo. Eu sempre via isso na internet ou pessoas por aí falando sobre isso, mas comigo? Eu nunca nem tive pesadelos que isso poderia me acontecer. E é... sufocante. Eu me sinto tão mais leve por poder falar sobre isso agora e por principalmente ter a segurança em falar. Sei que muitas meninas não tem isso. Eu consigo falar. Eu finalmente consigo! - nem mesmo a própria Alondra parecia acreditar no que estava falando. Dava pra ver que ela estava aliviada de verdade, aquilo era um passo enorme a se dar, mas não deixou o clima menos tenso e fúnebre.

- Ninguém deveria fazer disso um segredo. Nenhuma mulher deveria pensar que precisa. Você não precisa ter vergonha disso, mas ele sim. - Zayn comentou com os olhos fechados, completamente tomado por uma raiva que eu sabia que ele sentia. Ele mal respirava.

- Eu não sei o que fazer! - Alondra disse baixinho, como se outra realidade tivesse a atingido.

- Podemos chamar Sienna, ela é advogada, vai saber como te orientar em tudo e...

- O que? - a garota me interrompeu de imediato, se levantando do sofá com os olhos arregalados.

- Alondra, eu imagino que seja difícil, mas isso é mais do que sério. Isso é um crime, uma violência, precisa acabar! Estamos aqui pra você no que você precisar, mas também precisamos falar com seus pais. Eles são essenciais nisso. - Zayn tentou, mas isso pareceu aterrorizar a garota ainda mais.

- NÃO!

- Alondra...

- NÃO!!! Eu não quero fazer nada! Nada nunca funciona, vocês sabem! A justiça é falha. Ele não vai ser preso, não vai pagar por nada, e ainda vou ser cobrada de provas, como se fosse possível, e vou ter que ouvir pessoas duvidando de mim! Eu não vou me submeter a isso! Eu sei como funciona!

- Aconteceu uma coisa horrível com você, Alo, e isso...

- Coisas horríveis acontecem todos os dias. Eu não vou mexer com a vida da minha família desse jeito, ainda mais com a minha mãe grávida e minha avó doente! Eu não posso! - ela interrompeu Zayn mais uma vez, completamente alterada.

- Você foi atacada na sua própria escola! A menos que seus pais sejam monstros, eles vão te ajudar e te apoiar nessa luta! - eu tentei me aproximar, mas ela ia cada vez mais pra trás. Alaia estava brincando sozinha em seu cercadinho como sempre e eu olhei de longe ela em pé nos encarando, provavelmente por conta do barulho. Ela não chorou, na verdade, voltou a brincar, mas a situação de Alondra fazia meu coração acelerar no pior dos sentidos.

Interlude • Zayn MalikOnde histórias criam vida. Descubra agora