1.1|•Coelho de duas cores•

17 1 0
                                    

  Na sala era possível de se escutar a doce melodia do piano de calda. A cada nota era uma parte do seu coração que era quebrada. Ele não sentia mais nada, não tinha mais vida. Ela era sua vida.
  Ele percebia a chuva cair do lado de fora, deixando o clima cada vez mais melancólico. Quando a música chegou ao final, apenas fechara o piano, se apoiando no mesmo com as mãos na cabeça, soltando o pesado suspiro. Olhava aos aredores vendo o cômodo totalmente vazio, sentido-se sozinho novamente. Quando seu olhar chegou na velha sala de jantar se deparou com seus varios coelhos feito de papel, e o mais especial para o senhor. Sob a janela se via um coelho de duas cores, elas sendo amarelo e azul, feito de papel. Ele sabia que seria impossível esquece-la afinal havia um pouco dela em cada canto sa casa.

  Ele encarava o obsoleto guarda-chuva azul – já bem desbotado – apoiado no corrimão da velha escadaria de sua casa. De frente a porta e com a sombrinha em mãos, ele se encontrava, repensando a sua ideia sobre o que iria fazer era certo. E por fim, tomara coragem girando a maçaneta vendo a porta a sua frente abrir aos poucos, liberando um cenário feio, com o céu nublado e a chuva fina caindo. Abrindo o guarda-chuva, ele enfim saia da casa ao encontro dela, havia tanto tempo que ele não conseguia vê-la, porém ele sentia que precisava. O barulho do mar batendo nas pedras era como música para seus ouvidos.

  A velha montanha do farol. Um ótimo lugar para se aposentar, não era? Eles pensaram nisso. Ali foi o lugar mais importante na vida dos dois, eles queriam apenas eternizar o lindo amor construído por anos, e aquele foi o melhor lugar imaginado. Nada melhor do que eternizar onde tudo começou, pelo menos era o que ela sempre pensava, mas mal ele sabia sobre a verdade.

– Olá Anya. – Disse fraco. – Sou eu de novo.

[. . .]

– Onde estamos? – Perguntou o doutor.

– Neil, continuamos no farol.

– Quando se trata de chuva caindo "em mim" é melhor do que "sobre mim". – Watts reclamava vendo as gotas de chuva atingirem seu cliente na lembrança.

– Eu não tenho preferência. – Dizia Rosalene, enquanto observava tudo ao seu redor. – Parece que o pulo de memória só cobriu um curto período. Não foi tão longe quanto eu imaginei que estariamos. Precisamos encontrar uma recordação que salte mais, ou demoraremos uma eternidade.

– Ah, aproveita para curtir o cenário. – Respondeu tranquilamente. – Tenho certeza que não veremos um tão belo quanto esse em outro trabalho.

"Em memória de Heyoon J. Beauchamp."

– Creio que era sua esposa. – Comentava Neil, olhando a lápide.

– Acredito que sim. – Confirmou Eva.

– Eww. Que criaturinha horrenda. – Disse ao observar um velho ornitorrinco de pelúcia próximo ao senhor. – Sinceramente, acho que este animal não tem o direito de existir.

– O mundo não é grande o bastante para dois de você. – Eva dizia zombando do colega que a encarava irritado.

  Os dois seguiam ao grande farol que ficava na ponta da montanha. Enquanto Neil se preparava para subir as escadas, A Dr. Rosalene dava uma olhada no local, conferindo se não haviam deixado nada para trás.

Ficou pronta, Yoon. – Disse o senhor, fazendo com que Eva se assustasse, logo percebendo que havia acionado a memória. – Assim como você, poderei cuidar dela todos os dias. Ela não ficará mais sozinha. – Disse, fazendo com que a moça prestasse cada vez mais atenção no tal diálogo. – Talvez eu nunca compreenda o porquê dele, mas mantive-me fiel ao seu desejo. Anya também está agradecida, certamente. Mas quando eu morrer, quem vai cuidar da gente? – Disse por fim soltando o ar que tanto segurava, enquanto as lagrimas quentes rolavam pelo seu rosto.

– ... Quem é você? – Perguntava quando a doutora ativava a interação. 

– Meu nome ê Eva... Só estava de passagem. – Disse meio nervosa. – Ela era sua esposa?

– Sim, ela se chamava Heyoon.

– É um nome muito bonito. – Disse com um sorriso melancólico.

– Não precisava ter acontecido assim. – Disse com a voz trêmula.

– Hum?

– Ela... Ela não precisava ter feito o que fez. Mas ela... – Suspirou pesadamente. – Você não entenderia... Nem mesmo eu entendo.

  A memória logo chegou ao seu fim, fazendo com que a doutora voltasse ao farol derrotada por não conseguir saber a história por completo. Subia as escadarias velhas do antigo farol, ouvindo-as rangerem a cada passo que dava.

Anotação: Anya adicionada

  Por fim ela subia o último degrau encontrando seu companheiro de trabalho sentado em uma velha caixa que possuía dentro do farol.

– Já não era sem tempo. Pensei que tinha caído do penhasco. – Zombou da moça. – O que estava fazendo?

– Curtindo o cenário,o que mais? – Devolveu a piadinha que o garoto havia feito mais cedo. – E você, teve sorte por aqui?

– Grande sorte. Imensa. Dinossáuristica! – Respondeu fazendo sua companheira soltar uma leve risada.

– Hum, esse lugar me parece bem vazio.

– É um farol, o quê você esperava? – Disse seguindo até o proximo intem de travessia. – De todo modo, te vejo do outro lado. Divirta-se quebrando a barreira por conta própria. – Disse acionando a memória e desaparecendo de sua frente.

  Eva andava pelo farol, a procura dos conectores de memória que faltavam. Acabara encontrando um conector em uma lâmpada do farol quebrada, que ativara uma nova memória do vosso paciente.

  Ele estava sentado, observando a vista. Era um dia lindo e ensolarado, um dia que todos amam. Mas ele sentia que nem o dia mais feliz da terra traria a sua alegria de volta. Ele suspirava, olhando o mar, e logo em seguida encarando o coelho de papel, em sua mão.

  Após já ter em mãos todos os conectores necessários, Eva começava a preparar a lembrança para a travessia de memória, esperando para que fossem levados para uma recordação mais distante.

"Recordação ativada para a travessia de memória."

E lá vamos nós, de novo.
 

To The Moon|•Heyosh•Onde histórias criam vida. Descubra agora