Querida mamãe, vá à merda!

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Ahhhh!!! Eu estava furiosa, minha chance de ligar para o Allan estava (literalmente) na minha mão e eu deixei escapar. Fingi estar de boa e fui até meu padrasto avisar que estava indo embora. Ele fez pouco caso e deixou eu ir sozinha. Grande responsável era ele.

Eu fui pra casa, afinal, eu não tinha nada pra fazer mesmo. Minha mãe não tava em casa, o que me deixou alegre. Me joguei na minha cama e fiquei pensando, pensando sobre a vida. E então eu lembrei que MINHA MÃE NÃO TÁ EM CASA! Então eu podia vasculhar a casa toda pra encontrar o celular. E foi isso que eu fiz, passei mais de uma hora procurando aquela merda de telefone e nada. Procurei em todos os lugares possíveis e impossíveis. Aquilo era uma missão impossível, e então eu me toquei que minha mãe não era burra e deve ter levado o meu celular junto com ela. 

– Que... – Eu estava prestes a xingar quando ouvi o barulho da porta da sala de casa se abrindo.

Eu me assustei e corri para o lugar mais próximo (o quarto da minha mãe), olhei em volta e eu tinha 2 opções, se esconder no guarda-roupa ou de baixo da cama. Ela estava voltando de algum lugar, então a chance dela trocar de roupa era grande. A opção mais sensata era de baixo da cama, e foi lá que eu me escondi.

– Eu não sei o que fazer com essa garota! – Pelo o que percebi, ela estava no telefone. – Não, Carlos, você não entende... – Ela colocou no viva-voz para trocar de roupa.

Eu criei ela, eu entendo muito bem! – Meu pai respondeu.

– Ela acha que é livre. Como se pudesse fazer qualquer coisa sem ter consequências! – Ouvi um objeto se chocar com alguma coisa. Acho que ela jogou o salto dela em algum lugar. – Minha paciência está se esgotando, ela não sabe o que é limites. – Ela enfatizou a palavra. – Estou me segurando pra não dar uma surra nela... – A voz dela se acalmou mas as palavras ainda tinham raiva.

Não podemos controlar ela – Meu pai disse. – Mas podemos segurar ela. Enquanto a surra... Acho melhor você se controlar, já é ruim você bater em uma criança, mas bater em Sofia... – Ele riu pelo nariz. – é bem capaz dela revidar sem arrependimento ou dó.

Do jeito que eles falaram, eu até parecia uma aberração, ainda bem que não são eles que estão contando essa história, ela estaria toda distorcida...

Ouvi a respiração da minha mãe mais pesada.

– Eu... Eu não consigo amar essa garota.

Ouvir aquelas palavras quebrou meu coração, eu sabia que minha mãe tinha certa raiva de mim, mas não sabia que ela não me amava... Até mesmo as pequenas palavras têm o poder de nos destruir por inteiro.

– Eu sei que parece meio insensível falar isso, mas é a verdade. – Ela disse firme. – Ela não é a garota que eu conhecia, e eu não gosto dessa nova Sofia.

E de novo as palavras quebraram o meu coração. Não podia piorar.

– Eu entendo. Mas temos que amar ela mesmo sentindo mais raiva do que amor.

Retiro o que disse. 

Eu já fiz muita merda, mas eu não era obrigada a ouvir aquelas coisas. Rolei para fora da cama e vi a cara assustada da minha mãe.

– Meu pai! – Ela gritou de susto.

– Está morto há 5 anos. – "Completei".

Nem olhei mais para a cara dela, só sai do quarto peguei meu skate e vazei. Pude ouvir ela gritando meu nome, mas eu não me importava mais, igual ela não se importava comigo. 

Eu comecei a andar de skate em direção reta, sem nem me importar se eu iria me perder, ser assaltada, ou sequestrada. E bom... acabei fazendo o que eu amava fazer nesses momentos. Roubar bebidas e ir em lugares que me faziam se sentir bem. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi aquela praia, aquela doce praia. 

– Ei cara – Me aproximei do balcão fingindo ser alguém importante nessa vida. –, me vê 3 latas.

– Você tem idade para isso? – Aquele gorducho de barba mal feita perguntou.

– Você se importa mais com a minha idade do que o seu dinheiro? É sério isso? – Perguntei debochadamente.

Ele parecia confuso se me dava o que eu pedi ou não. Mas ele acabou cedendo.

– É isso que eu chamo de amigo. – Mandei um sorrisinho em forma de agradecimento pra ele. – Ah, e antes que eu me esqueça... Eu acabei vendo um magrelo alto se gabando aqui na esquina, ele disse que roubou uma caixa de cerveja sua. – Falei simples e vi os olhos do cara se perderem. Essa história sempre funcionava.

Ouvi ele sussurrar algum nome. Ele estava quase saindo correndo para "achar" o cara, mas exitou ao perceber que eu ainda não tinha pagado.

– Não se preocupa, amigo. Vou estar batendo um bapo com aqueles manos ali. – Apontei para um grupo de velhos aleatórios e fui andando lentamente em direção a eles. Ouvi o gordinho sair correndo pelas portas do fundo e então eu fui embora também antes que ele voltasse.

Essa era uma merda que eu não tinha deixado pra trás, eu sempre fazia de novo em algum momento.

E então eu fui andando o mais rápido possível de skate para a direção que eu achava ser a praia para não perder o pôr do sol. Mas andar de skate com três latas de cerveja nas mãos não era coisa fácil. Felizmente, eu cheguei no meu destino sem nenhum arranhão, me sentei na areia.

– Que merda! – Xinguei a lata de cerveja após ela transbordar quando eu abri.

Dei um gole como se fosse água, tentando engolir todos os meus pensamentos junto. Eu só queria sentir aquela sensação de libertação de novo, mas estava sendo impossível.

Até que eu me inclinei pra trás e minhas costas se chocaram com as pernas de alguém. Eu nem tinha ouvido os passos da pessoa.

[...]

Quem será a tal pessoa? A mãe dela?! O cara do bar?! Ou... Alguém perigoso que ela tinha mexido no passado?

Descubram no próximo capítulo...






Grandes Merdas [Reescrevendo]Onde histórias criam vida. Descubra agora