Capitulo 3
Não sei onde estou há dias. Bom, parecem ter se passado dias. Semanas. Meses. Eu não sei.
Me sinto perdida. Não tenho dor ou qualquer outro sentimento. Não me lembro o que houve antes de me encontrar vagando em absolutamente nada. O que houve?
Como se meus pensamentos tivessem vida própria, algo surge em meio à escuridão na qual navego infinitamente. Uma imagem. É uma senhora pequena já na casa dos 40. Ela é pequena e há beleza e simplicidade em seu rosto cansado e sofrido. Ela sorri para mim e me sinto estranhamente aquecida nesse sorriso.
Me sinto acolhida e amada.
-Saori, meu amor. Acorde. Acorde.
Meus olhos enchem de lágrimas e a reconheço. Mamãe.
Seu rosto tão doce e amável é vagarosamente substituído por um que jamais diria que lhe pertencia. A pele se escurece, há veias saltando de seus olhos, garras em suas mãos que escorriam sangue e presas em sua boca escancarada, pronta para me devorar.
Seus olhos, antes tão doces e amáveis, estão enegrecidos e sedentos. Famintos.Essa não é minha mãe.
De repente me lembro de tudo. Esse monstro a minha frente matou meus irmãos. Lembro-me perfeitamente de Mariko caindo por cima de mim, já ferida por tal besta. Lembro-me dos corpos de meus irmãos imóveis e ensanguentados. Mortos.
Lembro-me também de Sanemi empurrando o monstro janela a fora e Genya indo atrás de si. Não quero pensar o pior, mas depois de tantos ocorridos é impossível. Eu perdi todos meus irmãos e minha mãe. Perdi minha única família. Estou sozinha aqui.
Me deixei flutuar pela escuridão infinita, sentindo meu corpo leve, como meus cabelos esvoaçantes, por um instante. No outro, eu já estava piscando para acordar.
Diferente da sensação entorpecente do vazio me levando, agora eu sentia leves pontadas de dor no corpo. Tentei abrir meus olhos, mas foi pouquíssimo meu progresso. Minha visão estava embaçada e meu olho direito coberto por algo.
-M-Mariko...- chamei por minha irmã, mas estava fraca e não consegui chamar mais alto. Minha voz saiu rasgando minha garganta, o que me fez tossir um pouco e gemer por conta da leve ardência nas cordas vocais e na dor de meus músculos.
Senti passos no chão, já que estava deitada em uma esteira confortavelmente coberta por peles de algum animal. Logo uma silhueta grande apareceu em meu campo de visão e pousou sua grande mão em minha testa, provavelmente medindo minha temperatura. Ergueu-me com facilidade em um dos braços e colocou um copo em minha boca, virando um líquido sem gosto que aliviou a dor em minhas cordas vocais. Não conseguia enxerga-lo tão bem, mas me pareceria que seus olhos eram brancos.
-Descanse um pouco mais, criança.- me disse com sua voz grave, mas estranhamente doce. A sensação que me causava era de reconhecimento. Minha mãe usava o mesmo tom de voz quando queria me confortar. Ele voltou a me deitar cuidadosamente e me cobriu melhor com uma manta quente.- está se recuperando bem, pequena guerreira.
-Mariko...- consegui sussurrar o nome de minha irmã, esperando que ele entendesse e me dissesse se, pelo menos ela, estava a salvo.
-Ela está bem, acalme-se.- respirei fundo, aliviada. Mas senti um leve formigamento na minha costela, o que me fez resmungar um pouco. - Você ainda não está recuperada dos seus ferimentos. Descanse mais um pouco. Quanto melhor você dormir, mais rápido seus ferimentos irão se curar.
Senti meus olhos pesando com o carinho leve que recebia na cabeça e me permitir descansar sabendo que minha irmã estava bem e louca para encontrá-la e abraça-la até não poder mais. Mas tive que guardar minha euforia para mim mesma e fazer o que esse homem pediu, se quisesse rever minha irmãzinha.
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As Irmãs Shinazugawa
FanfictionGenya e Sanemi não são os únicos sobreviventes da misteriosa família Shinazugawa. Após o massacre de seus irmãos, ambos partiram da Vila deixando tudo para trás. Mas eles não contavam que haveriam sobreviventes. Saori e Mariko despertam de semana...