Elena
Estou sentada impacientemente, batendo os dedos contra a mesa da cozinha, enquanto Juan arruma nosso café. Confesso que estou adorando seu jeito protetor, mas estou ficando nervosa com todo esse silêncio e suspense. Depois de arrumar o café na mesa, Juan resolve abrir o bico.
— Vai ficar aí batendo os dedos na mesa e não vai comer?
— Claro que vou.
Respondo pegando a manteiga e o pão. Confesso que estou com fome, mas todo aquele papo de me explicar por que não vai rolar mais nada entre nós está acabando comigo. Droga! O que será que ele vai me dizer? Depois de preparar o pão e o Nescau, dou uma mordida e digo:
— Estou esperando uma explicação, gato. — Sorrio maliciosamente e ele reflete até que resolve dizer:
— Elena, o que aconteceu ontem foi um erro. Nunca me envolvi com mulher nenhuma e não sei o que deu em mim, mas não vai rolar.
— Ah, pelo amor de Deus! O que tem haver o fato de nunca ter se envolvido com nenhuma mulher? Pelo que pareceu ontem, você sabia muito bem como trepar com uma mulher. E mesmo que isso fosse verdade, pois quero que fique claro que eu não acredito nessa ladainha de que nunca se envolveu com mulher e blá blá blá, o que te impede de se envolver comigo? — Ele parece surpreso com minha resposta.
— Não sei por que não acredita em mim... Mas isso não faz diferença. Eu não posso ficar com você e ponto.
— Pra quem vai se formar em Direito, você está péssimo em argumentar, meu caro.
Sorrio ironicamente. Por que tanta resistência? O que tem de mais ficar comigo? Não quero casar nem nada... Só quero abusar daquele corpo delicioso.
— Na verdade... — Ele para e pensa um pouco. Percebo que está suando de nervoso.
— Na verdade...? — Questiono arqueando as sobrancelhas.
— Na verdade, não podemos ficar juntos porque tenho namorado.
Ele diz meio rápido e eu finjo não entender. Só pode estar de sacanagem comigo! Desde quando ele namora? Não me disse nada! Claro que não perguntei, mas achei que isso deveria ser uma informação imprescindível.
— O quê? — Não consigo conter a raiva e isso transparece em minha voz.
— É isso mesmo que você ouviu, Elena. Ele se chama Josh e está morando na Inglaterra, pois pretende terminar o curso de Medicina por lá mesmo. Mas ele deve vir aqui na próxima semana, já que está de férias.
Isso só pode ser sacanagem! Estou tentando processar suas palavras, mas meu cérebro se recusa a entender essa asneira que acabou de dizer. Então ele tem namorado? Droga. E ainda por cima faz medicina? E se for lindo? Merda, merda e merda. Não acredito que estou com ciúmes de outro homem! Subitamente, uma raiva me invade e percebo que ele mentiu e ainda por cima traiu seu namorado. E eu contribuí com isso sem ao menos saber! Detesto canalhice e ele foi um canalha assim como o babaca do Felipe.
— Não acredito que você traiu seu namorado! E ainda me usou pra isso...
Cuspo as palavras furiosamente e percebo sua surpresa misturada com uma ponta de arrependimento. Vejo confusão no seu olhar, mas não consigo pensar em mais nada. Eu estava disposta a conquistar esse homem, mas agora não sei. Estou decepcionada, pois, mesmo sendo gay, ele é igual a todos. Ele percebe meu desapontamento e diz:
— Sinto muito, Elena, não quis te decepcionar. Consegue me perdoar?
Ele parece realmente triste com esse olhar de cão abandonado. E o que farei agora? Irei perdoá-lo? Nós vamos morar juntos, então temos que ter uma convivência amigável. Vou exigir que fale a verdade para o seu namorado na próxima semana. Não compactuarei com mentiras, não mesmo.
— Juan, só vou lhe perdoar se contar o que rolou entre a gente para o seu namorado na próxima semana. —Imponho com olhar firme e dureza na voz.
— Está bem.
Está bem? Então é isso? Achei que ia pedir para manter segredo, pois não é qualquer um que trai e aceita contar de boa. Pior que eu sinto que tem alguma coisa errada. Ele corneou o namorado com uma mulher, o que acredito ser muito pior no caso deles, pois é um casal gay. E aceita assim facilmente? Ai, ai... Esse Juan é doido mesmo. Por fim, resolvo dizer:
— Ótimo.
Acabamos de tomar café em silêncio e percebo que não estou com clima nenhum para ficar olhando para ele. Vai ser difícil conviver com isso. Olhar para seu rosto perfeito e não poder beijá-lo. E o mais estranho é que não estou com ódio dele. Era pra estar, não? Não sei o que esse cara tem que só desperta coisas boas em mim. O mais louco é que, se ele é gay mesmo, por que deixou se seduzir por mim? O que eu tenho que o fez gostar da coisa? Será que é mesmo gay ou essa história de namorado é uma desculpa para se livrar de mim? Minha cabeça parece que vai explodir de tanta confusão. Decidi que preciso me distrair e pensar um pouco, então resolvo ir para praia munida da minha prancha de surf e meus livros do Nicholas Sparks. Coisas que me ajudam a relaxar e me distraem. Já são 10h e voltarei só no almoço, pois não conseguirei de jeito nenhum ficar aqui depois dessa revelação.
— Com licença. — Me levanto abruptamente.
— Aonde você vai? — Ele parece preocupado e sorrio sarcasticamente.
— Por que você quer saber?
— Só estou preocupado... Não quero que saia com raiva de mim.
— Deveria ter pensado nisso antes de me comer ontem. — Afirmo com sinceridade e vejo tristeza e angústia no seu olhar.
— Sinto muito, Elena, não quis te magoar.
Ele toca meu braço e mais uma vez um calor me invade. Que droga! Estou com raiva, mas o meu corpo ainda reage aos seus toques. Burra, burra e burra!
— Não se preocupe, Juan. Não agirei como uma garota chata e mal amada, só quero me distrair e tentar digerir o que me disse. Vou à praia e quem sabe encontre algum gato surfista que me distraia.
Sorrio sarcasticamente e percebo sua expressão se fechar. Que porra é essa? Ele está com raiva porque disse que ia encontrar um gato? Será ciúme? Deleito-me com sua reação. Se ele está com ciúmes é porque sente alguma coisa. Acho que o que rolou ontem mexeu com ele e por isso está querendo fugir. Graças a Deus as aulas começam na próxima sexta e será bem mais fácil estando longe dele.
Vou até meu quarto, coloco um biquíni branco, pego minha prancha atrás do guarda-roupa, coloco a saída de praia, minhas havaianas e saio. Decido tomar um copo d'água e o vejo temperando camarão. O que será que vai cozinhar? Espero que não queira me comprar com comida. Depois de beber água, observo que para de limpar e diz com uma carranca:
— Esse biquíni está indecente.
— Você acha? — Provoco, girando o corpo. Vejo que me olha com raiva e desejo ao mesmo tempo. Essa saída é transparente e deixa todo o corpo e o biquíni cavado a mostra.
— Não acha melhor pôr um que cubra mais? — Sugere ainda com a cara feia.
Quem ele pensa que é? Meu pai? Eu, hein, nem meu namorado ele é para me dizer como devo me vestir. Acaba de me dispensar e depois quer opinar nas minhas roupas?
— Não! Na verdade, estou me sentindo muito gostosa com ele. — Pisco maliciosamente e vejo raiva em seu olhar.
— Acho melhor você trocar. — Insiste secamente.
— Quem é você para achar alguma coisa? Você não é nada meu! Eu sou solteira e desimpedida e me visto como quiser!
Disparo morrendo de raiva e frustração. Se ele quisesse ficar comigo, talvez eu pensasse em colocar um biquíni maior, mas ele não quer nada comigo. Então me vestirei como bem entender.
— Você tem razão, desculpe.
Desconversa, evitando me olhar e voltando a temperar o camarão. Resolvo provocá-lo mais um pouco, dizendo perto do seu ouvido:
— Capricha no rango, querido, pois logo estarei de volta.
E assim eu saio pela porta, com a prancha e meus preciosos livros, deixando-o com cara de bocó.
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Por ela eu viro hétero. ♂♀ - DESGUSTAÇÃO.
RomancePROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS PLÁGIO É CRIME - Artigo 184- Que traz o seguinte teor: Violar o direito autoral: Pena- detenção de 3 meses a 1 ano, ou multa. ...