--- Eu espero que esteja bem claro para você, que se contar sobre isso para alguém, você estará com um pé dentro da cova.
Encostei a cabeça no vidro gelado da caminhonete velha de Luke e ele deu um singelo sorriso murmurando que eu havia repetido aquilo dezessete vezes.
Senti um pequeno arrepio percorrendo meu corpo e encarei a noite estrelada que insistia em me dizer que aquele ainda poderia ser um dia bom. A voz de Freddie Mercury enchia meus ouvidos com uma música animada e Luke batia com os dedos de forma padronizada sobre o volante do carro mexendo a cabeça de uma maneira engraçada acompanhando a música de uma forma tímida.
Estávamos a exatos dez minutos dirigindo para fora de Beverly Hills, e eu sentia metade de mim ansiando pelas adrenalina que era entrar no carro de um nerd e sair para sabe-se lá Deus onde, e outra metade apenas desaprovando as minhas ações me julgando de uma forma cruel e severa, mas me fazia se sentir quase que a menina tímida da França novamente, a que não tinha amigos, e no máximo saia com "esquisitos" para um passeio.
Enfiei uma jujuba na boca e enquanto o gosto doce me consumia Luke parecia mais e mais imerso em sua música, sorri constatando que ele tinha uma voz bonita, e apesar de envergonhado, mostrava grande potencial, mas em seguida deixei que minha mente me julgasse por pensamentos que ela mesmo criava.
--- Vo-você tá me en-encarando a dois minutos – Ele murmurou ajeitando os óculos e eu pisquei várias vezes, aquilo era bizarro, desviei o olhar e peguei outra jujuba.
--- Você é estranho, mas canta bem, e esse carro está fedendo.
--- é che-cheiro de graxa – Ele apontou para dois potes acima do painel da caminhonete e eu fiz um sinal de desdém com a mão.
A música terminou e tudo ficou silencioso por um tempo, Luke estava concentrado demais na estrada, mal piscava e eu apenas descascava o esmalte branco da minha unha de uma forma desesperada e impaciente enquanto acabava com o pacote de jujubas. Luke parou em um posto de gasolina velho, e desceu do carro falando animadamente com uma mulher no caixa, franzi o cenho e ele entregou um ensacado do Royal's para ela se despedindo e em seguida voltando para o carro.
Encarei Luke na esperança de que ele sanasse minha curiosidade, mas ele não comentou nada sobre quem a mulher era, apenas continuou dirigindo, abaixei a janela sentindo falta de ar fresco e enquanto Luke dirigia concentrado demais na música tocando no carro, eu apenas deixava que o vento gelado balançasse meus cabelos e brincava com as mãos para fora da janela, mais uma cena qualquer de um filme adolescente americano eu diria.
Casas e lojas começaram a compor a paisagem linda que as estrelas iluminavam, era tudo simples e diferente das coisas luxuosas do qual eu estava acostumada, mas eu gostava da forma como as coisas ali possuíam um ar de lareira crepitante em um dia frio, ou um grande pote de sorvete em dias quentes, parecia aconchegante e convidativo.
Luke estacionou o carro em frente uma casa amarela com um jardim bonito e bem cuidado, e me encarou coçando a nuca parecendo procurar as palavras certas para dizer algo.
--- Eu só pre-preciso pegar uma pe-pessoa, e depois podemos ir para o lugar que eu quero te mostrar, po-pode ser?
Franzi o cenho e enfiei a última jujuba do pacote na boca, o nerd iria me fazer segurar vela, era só o que me faltava.
--- Tudo bem – Abri a porta do carro pronta para tornar as coisas mais difíceis para ele como forma de vingança, era injusto ele se oferecer para "me fazer companhia" e enfiar uma piranha no meio de tudo me fazendo além de estranha por estar com um nerd em uma cidade de pobres e favelados, um grande candelabro para segurar vela.
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Descolados
Teen FictionISSO É UMA SÁTIRA NÃO UM CLICHÊ. Swaggart's Fields Academy, é a personificação do clichê americano. O Colégio carrega em seus gloriosos quarenta e nove anos de serviços a elite de Beverly Hills intermináveis histórias padronizadas e repetitivas. En...