Esmo

175 2 0
                                    


Camila e Lauren estavam a pensar sobre o passeio que fizeram ao longo do belo gramado na fazenda Jauregui, conversaram entre risadas e olhares de carinho. Estavam a se permitir serem amigas, a se conhecerem melhor e entender mais sobre gostos. Poetas e poesias favoritas. As cantigas que gostavam de cantar enquanto repousavam em seus quartos. 

Camila lhe cantou que por vezes cantava junto de Matilde que era grande conhecedora de músicas antigas. Já Lauren era mais reservada, contou sobre as músicas que aprendera com sua mãe e avó ainda nos tempos de criança sapeca que era. 

Camila a fez prometer que iria mostrar algumas fotografias de uma Lauren criança, estava curiosa para saber se desde tão tenra idade a morena carrega o bico enfezado que enfeitava seus lábios sempre que era contrariada e durante aquela tarde, Camila o fez surgir por várias vezes. Lauren só queria lhe ouvir, fosse o que fosse à ela não importava, só queria ouvir o que Camila tivesse a contar de si.

A todo instante elas se olhavam e se admiravam, conheciam mais e se gostavam mais. Gostavam do que ouviam, gostavam de entregar pequenos segredos de infância e desejos que acreditavam estar adormecidos. Lauren sobre sua vontade em ter uma família e Camila sobre como gostaria de um dia poder publicar um livro. 

Ambas sabiam que tais desejos beiravam o impossível, afinal quem iria publicar uma mulher? Como Lauren iria ter uma família se a simples ideia de considerar a hipótese de se casar com um homem lhe causava enjôos. Uma vivia sobre o julgo do patriarcado, sobre as leis regidas por homens que não faziam questão de partilhar o mundo com mulheres. Já a outra vivia sobre as asas do preconceito, da intolerância e correndo o risco de parar em um manicômio pelo ato de apreciar mulheres como os homens donos das leis apreciam.

Mas agora, pronta para dar início aos planos de salvar Baker de uma inconcebível falência moral e financeira, Lauren teria de tirar Camila de sua mente. Nada poderia atrapalhar o discurso que ela passara tanto tempo pensando sobre e escrevendo. Ela teria apenas uma única chance para entregar seus planos a sociedade e mostrar que eles poderiam confiar nela e em seus planos. Que ela seria capaz de ajudar a todos e que não é uma mulher com a cabeça vazia ou que seus planos se trata de loucura. Lauren não é desvairada e sabe disso, mas ter que provar a todo instante a cansava por vezes.

- Muitas boas tardes à todos, espero que estejam confortáveis. Meus caros colegas, hoje é um dia onde irei contar-lhes meus propósitos para a fazenda Jauregui e se gostarem, poderão repetir em suas próprias propriedades. Eu não sei vocês, mas eu sim tenho o máximo de interesse em salvar o bolso de minha família e eu ire conseguir. - Incredulidade tomava conta do rosto de todos que ali estavam, pessoa alguma acreditava que toda a situação teria um final feliz para os donos de escravos que fugiam, a maioria voltava a um passo da morte e de fato morriam. Uma pequena parcela conseguia fugir e viver para contar. - Quantos mais iremos perder? Será que não entendem que eles são nossas propriedades? Se não entendem por bem, então não há outra solução. Irão entender por mau. Na fazenda Jauregui estamos a terminar um projeto para prender e alocar muito mais escravos, todos hão de permanecer trancafiados por muito mais tempo.  Uma nova senzala, maior e mais fechada. Não me importa se dizem que a ausência da luz podem deixá-los constipados, se aquela gente tem tanta dificuldade em entender que não podem fugir, presos vão ficar. Eu prefiro perder um escravo por qualquer enfermidade que seja do que perder para a ilusão de liberdade.

- Senhorita Jauregui, se permite uma pergunta. - Senhor Chadwick pai, criatura que via maledicência até em um bom dia trocado entre uma moça e um rapaz, mas em sua fazenda torturava homens e mulheres ao lado de seus filhos. - Por qual motivo está a construir uma senzala maior? Acaso a atual já não abriga todos os escravos de sua família?

Chains (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora