Brilhantes

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POV Camila


Olhos verdes foram tudo o que eu vi.

Olhos verdes foram tudo que habitou os meus sonhos essa última noite. Olhos verdes como o mar que me lembro de conhecer e depois visitar todos os anos. Só não entendia porque tomaram conta da minha mente por toda uma noite.

Confesso que eram olhos verdes intimidadores, os mais lindos olhos. E que parecem enxergar o fundo de minh'alma. Foram poucos os minutos, mas foram minutos que fizeram esses lindos olhos se prenderem em minha mente e uma dúvida aparecer. Porque os olhos verdes lindos não saem da minha cabeça?

Seu nome é Lauren, pele branca, cabelos negros como a noite e olhos verdes como o mar.

- O que tanto pensa, minha filha? 

- Em Lauren Jauregui, mamãe. Ela virá hoje pela tarde e ainda não sei o que servir.

- Pergunte a Matilde se haverá tempo pela manhã para que possa preparar alguns biscoitos de nata. Ficaram uma delícia da última vez.

- Não tem o que perguntar. - Papai diz ao entrar na sala, batendo suas botas no chão de madeira. - Ordene e a escrava o fará. 

Ao olhar mamãe, ela apenas concorda com um aceno de cabeça.

- Não é assim, papai. Talvez ela não ten...

- Ordene e ela o fará. - Ele me interrompe de forma rude. - Você e essas ideias que os escravos possuem vontades. Não passam de negros. Mais nada.

- Sim, papai. - Respondo abaixando a cabeça.

Nos últimos anos isso é tudo que tenho feito. Abaixar a cabeça para as ações horríveis que papai tem tido em relação aos negros. A situação vem piorando com o tempo, agora com essa guerra entre abolicionistas e escravocratas, tudo está ainda pior. Aumentaram o número de açoitamentos e fugas.

De um lado grupos de extermínio aos negros fujões e do outro pessoas que não os vêem de uma forma animalesca.

Papai é um escravocrata que não aceita um negro sair sem punição e esse tem sido o motivo pelo qual ando sempre abaixando a cabeça.

Eu tinha 15 anos quando aconteceu. Um negro chamado Joseph tentou fugir, mas foi capturado por um capitão do mato. Papai sem a ajuda de ninguém o acorrentou. Após um longo dia de surras, disse que iria deixá-lo com fome por 5 dias e eu não pude aceitar. No terceiro dia, papai descobriu que eu estava alimentando Joseph, levando água, pão e remédios para curar suas feridas que estavam em carne viva.

Eu tinha 15 anos quando papai me esbofeteou pela primeira e até então única vez. Desde então só faço dizer "Sim, papai" e abaixar a cabeça para as suas ordens.

- Matilde! - Chamo alto ao entrar na grande cozinha, porém não a encontrando. - MATILDE!

- Que susto, menina. Não grite. Panhei uns limão bonito do pé. Não quero que o sr. Daniel veja ou vai me colocar no tronco. - Ela responde entrando apressada pela cozinha, deixando um limão cair no chão.

Matilde era escrava da casa, me viu nascer, veio conosco para Baker County assim que papai foi chamado para ser um dos fundadores da cidade. Matilde sempre foi a quem eu recorria quando queria aprender mais sobre a cultura dos negros. Já tinha seus 53 anos mas alma de uma jovem mulher. Ela era uma verdadeira inspiração para mim.

- Desculpe-me. - Pronunciei bem baixinho. - Mamãe falou sobre uns biscoitos de nata que você sabe fazer.

- E esse sorriso travesso é porque a menina quer que eu faça alguns?

Chains (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora