Desaguisado

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POV Camila

A dúvida sobre ir ou não para o café da manhã tomou conta de mim durante a noite, o que acarretou em dificuldade para dormir, não sabia o que estava acontecendo e o pontem experimentei um momento de muito intimidade com Lauren, algo que nunca havia me acontecido antes. Ela estava muito perto, pensei que fosse me beijar, mas sorte que não aconteceu. Eu não saberia o que fazer caso acontecesse, claro que a todo momento me lembrava da promessa que fiz a Calvin, mas eu sabia as consequências caso um fato como esse chegasse aos ouvidos de papai. Ele me mataria. Seria uma vergonha sem tamanho para ele e eu não sairia inteira dessa história.

O que estava acontecendo era algo que eu não poderia explicar, Lauren estava em meus pensamentos e a ausência dela ainda que por apenas algumas horas chegava a ser dolorosa, eu sei que é exagero, não sou tão imbecil assim, mas era a mais pura verdade. Eu anseio por estar novamente com ela, sentindo o perfume doce e tão bom que emana dela, ver aqueles olhos verdes que me causa tremores e um estranho frio na barriga. Eu iria vê-la hoje, por convite dela, disse que me aguardava para o café da manhã, não seria muito? Talvez sim.

Ontem após o banho pude conversar com Sofia, quando contei que retornaria a casa de Lauren hoje, ela insistiu muito para ir, mas não sei, poderia não ser de bom tom chegar com alguém que não havia sido convidado ou com sua presença não anunciada com antecedência, ainda que fosse minha irmã de 8 anos. Não quero que Lauren pense que sou mal educada, nem que me tome por inconveniente, mas a baixinha estava tão para a tal caça aos fantasmas. Como dizer não? Se eu decidisse levá-la comigo teria de me certificar que ela não contasse tudo o que poderia ver na fazenda Jauregui, depois de duas situações que observadas de fora por olhos maldosos poderiam ser mal interpretadas, não posso correr o risco de algo assim ser ouvido nem mesmo por Shani, a língua dessa atrevida poderia servir de ponte de tão comprida que é, o que é ótimo para meu pai e péssimo para mim.

E ainda havia Aaron, precisava arrumar algum tempo com ele, tínhamos alguns assuntos para por em dia, mas neste caso pediria ajuda para Dinah, ela tinha ideias fantásticas nesse campo.

Havia muitas questões para serem resolvidas e uma delas me incomodava bastante. Era o fato de Lauren estar ligada diretamente com o comércio de escravos e o lado confederado dessa guerra idiota ao qual ela apoiava, mas ela concordou em conversar com Matilde, minha mãe preta. Vou convidá-la para vir aqui após o almoço, elas poderiam conversar. Matilde contaria suas histórias e de tantos outros escravos que ela conheceu ao longo dos anos. A curiosidade em saber o que Lauren realmente achava dos negros era algo que também me tomava o tempo. Será que os via como animais assim como meu pai? Ou para ela era puramente comercial? Eu a ouvi com Ashley no outro dia, ela bateu em alguém, sua mão estava machucada da provável surra que deu. Minha esperança é Matilde, que ela a fizesse mudar de opinião e entender que os negros são pessoas como os brancos são.

A porta do quarto é aberta e por ela passa um Sofia com os cabelos pra cima, uma bagunça completa, minha irmã trazia no rosto o sorriso sapeca típico de crianças, principalmente as levadas.

- Bom dia, Kaki. - Ela deseja enquanto sobe na cama logo engatinhando na minha direção.

- Bom dia, Sofi. Tão cedo e já acordada?

- Sim, quero saber se poderei ir na fazenda. - A ansiedade era nítida em sua voz.

- Vai se comportar? - Eu não poderia negar nada a ela.

- Sim! Eu prometo que vou lhe obedecer.

- Ótimo, porque preciso que me prometa mais uma coisa. Preste atenção. - Ela se sentou melhor para me ouvir com a atenção pedida. - Me prometa que tudo o que você ver e ouvir na casa de Lauren irá guardar para você. Por favor, não conte coisa alguma, precisa ser um segredo. Pode fazer isso para sua irmã que você tanto ama?

Chains (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora