Contumélia

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POV Lauren

Era em meu quarto que ela está agora, preciso ser firme, eu ainda não sei o que se passa com Camila e deixar transparecer meu interesse seria muito arriscado, era ainda muito cedo, ela poderia contar a alguém, sua mãe talvez e então tudo poderia se perder. O julgo da sociedade era o que eu menos precisava agora. Tenho que manter a calma.

Respira, Lauren. Conte, foi assim que aprendeu com o velho senhor budista, isso me ajuda.

1, 2, 3...Ela estava tão perto de mim, perto do beijo. Foco! 4, 5, 6, 7... Eu pude sentir o cheiro de flor-de-mel que vinha tão forte dela. LAUREN! É inviável não pensar em outra coisa, ela estava ali, centímetros a minha frente e eu não poderia fazer algo, eu tinha que me comportar como a dama que não se importa em ficar assim, que não se sente mexida ao ter alguém como Camila a sua frente, lhe acariciando a bochecha, tão entregue ao momento, penso que ela nem se deu conta do que acontecia. Provavelmente teve tal atitude mas sem sentir, ela espera um noivo, um marido, um pai para os filhos que um dia ela há de ter, penso que ela espera pelo príncipe encantado como quase todas esperam. Eu poderia ser uma princesa pra ela, se ela deixasse, se ela quisesse, se ela continuasse a me olhar daquela forma eu faria o que ela quisesse.

Ao sair do quarto, Camila ainda estava envergonhada pelas roupas que usava e era uma calça não muito justa, em couro amarronzado, própria para montaria, a camisa branca estava com quase todos os botões fechados, eu tenho várias dessa peça que foram desenhadas especialmente para mim. Camila calçava as botas que iam até a altura do joelho, notei que ela prendeu os cabelos em trança, estava ainda mais linda do que quando chegou. 

A escrava que havia enviado ao quarto para ajudá-la com suas roupas, logo saiu do quarto, indo em direção a cozinha, sorrindo e fazendo um sinal com a mão para que esperasse.

- Você está linda.

- É uma calça. Senhor, é uma calça. - Eu não conseguia deixar de rir, a situação estava cômica demais, ela nunca havia usado calça antes, o choque era notável, mas ela fazia de uma forma tão engraçada. - Não ria, Lauren. Talvez eu devesse tentar cavalgar apenas com o vestido, sem a crinolina. É melhor.

- Não. - Ela iria voltar ao quarto mas a segurei pela mão, impedindo que ela fosse. - Está tão bela assim, o vestido irá lhe incomodar, não terá tanta mobilidade. Veja, diga-me se está ou não mais confortável agora? Sem tantos panos lhe atrapalhando a andar ou o peso da armação usada.

- Confesso que estou me sentindo mais leve, mas também mais exposta, Lauren. Isso marca minhas pernas, não é certo se expor tanto assim, há homens pela fazenda. O que vão pensar?

- Vão pensar que tem pernas bonitas. - Meus Deus! Rapidamente ela soltou sua mão da minha. Eu preciso aprender a pensar antes de falar quando estou diante dela, tudo sai pela boca sem controle algum e pelo olhar dela, não sei se foi o comentário mais adequado a se dizer. - Digo, vão pensar que a senhorita é uma moça graciosa e que não se abala por tão pouco.

Eu conseguia entender o porque em relutar com tanta firmeza sobre uma questão que para mim não tinha importância alguma, Camila provavelmente foi criada debaixo da mão severa de seu pai, acredito que não havia viajado para outros países e nem tinha tanto contato com outras culturas, o seu mundo era uma concha. Fechada e isolada.

Muitas mulheres ainda pensam como Camila, algumas usam calça por questão de ofício, trabalham na lavoura e para não mostrar suas vergonhas, preferem usar calça, facilitando também para caminhar em meio ao mato alto ou pequenos arbustos. Mas pelo mundo tudo ainda era muito arcaico, algumas décadas atrás mulheres foram presas em Paris, pelo motivo mais absurdo que já vi, elas usavam calças em público, mas era a lei. Se quisesse usar calça, teria de pedir uma permissão prévia da polícia. 

Chains (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora