* Texto não revisado
Por um período não calculado, porém longo, ficamos os três abraçados de joelhos no chão da sala, quando levantamos Pati pediu para dormir no meu apartamento, pois estava com medo de uma possível volta do Ítalo, pegamos algumas peças de roupas e saímos.
No caminho algumas pessoas nos olhavam de forma desdenhosa, afinal de contas o escândalo foi ouvido por muitos vizinhos que fizeram questão de espalhar para os que não ouviram.
- Patrícia, sei que você está muito abalada com tudo, mas preciso falar. – Eduardo a envolve em seus braços e diz: - Você tem que dar parte do Ítalo, isso não pode ficar assim Patrícia. Temos que ir pra delegacia agora.
- Verdade Pati, como sua amiga tenho que concordar com Eduardo.
- Eu sei gente, mas preciso tomar um banho antes, estou me sentindo suja. – Ela abaixa a cabeça e começa a chorar.
- Tudo bem Pati. Vai ficar tudo bem. – Eduardo diz com suavidade para que ela se acalme.
Subimos para meu apartamento e, enquanto Pati seguia para o banheiro fiz um café para Eduardo. Não conseguíamos falar nada toda nossa comunicação era por olhares e gestos sutis, não porque nossa relação era embaraçosa, mas pela situação da Pati que nos desestabilizou completamente. Acima de qualquer coisa nós somos amigos dela e vê-la sofrer, ser agredida, vê-la tão fragilizada nos deixou abalados.
Quando fomos até o apartamento da Pati a intenção era de ajudar com conselhos, eu não sabia que aquele canalha nojento estaria lá e muito menos que ela estivesse sendo agredida, ver minha amiga machucada foi como se eu tivesse levado um soco no coração, pensei que explodiria de dor e tristeza naquele momento.
Enquanto o silêncio toma conta da sala, tomamos o café aguardando o término do banho da Pati, ela está demorando só ouço o barulho do chuveiro ligado.
Algumas vezes Eduardo olhava para mim como quem pergunta "o que está acontecendo?", apenas dou de ombros. Depois de tanta impaciência resolvo ir até o banheiro e ver se ela precisava de alguma coisa.
- Pati, está tudo bem? – Digo depois de bater na porta. Não obtenho resposta, mais uma vez pergunto. – Pati sou eu Melinda, responde assim você me deixa preocupada. – Encosto o ouvido na porta e escuto um choro que misturava amargura e pesar, viro a maçaneta e por sorte ela não trancou a porta.
Quando entro vejo uma Patrícia indefesa, nua, sentada no chão do box debaixo do chuveiro de onde vinha uma água fria. Seu rosto e braços possuíam manchas em tons vermelhos e roxos que contrastavam com a pele branca e macia, estava tão magra que seus ossos se sobressaltam por todo corpo. Neste momento me senti culpada por toda felicidade que estava vivendo ao lado do Leon, enquanto minha amiga estava sofrendo calada.
- Amiga me fala como posso te ajudar. – Digo já em lágrimas junto com ela.
- Eu não sei Mel, só sei que preciso de você mais que nunca. – Sua voz está afogada pelo choro, ela abaixa sua testa em minhas mãos e fica em total silêncio.
Sem pensar duas vezes entro no Box vestida e com sapatos, sento no chão ao seu lado e, ficamos abraçadas até não suportar mais o frio que nos invadia.
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- Eduardo tem uma delegacia da mulher próximo do nosso escritório é mais perto.
- Tudo bem então, vamos pra lá. Você está bem Pati? – Eduardo pergunta visivelmente aflito com a situação.
- Estou sim Eduardo, com vocês aqui estou bem. – Ela dá um sorriso desolado.
No caminho para a delegacia Pati revelou que toda a briga começou porque ela estava conversando com um colega nas redes sociais e também não quis mais dar dinheiro para ele, ela então pediu o fim do relacionamento, contou que por diversas vezes ele chegava drogado e a agredia em seus surtos psicóticos, muitas das vezes a confundia com monstros de desenhos animados, alucinava com visões de pessoas deformadas e até mesmo falava com objetos dentro de casa.
- Pronto meninas, chegamos!
- Eduardo, Mel, por favor! Preciso contar algo muito importante pra vocês antes de entrar. - A voz da Pati saiu tão baixa que mal conseguimos escutar.
- Sim Pati pode falar. – Eduardo olha triste.
- Diz Pati o que foi? – Digo enquanto a abraço, pois uma lágrima solitária escorrega em seu rosto cabisbaixo.
- Eu... - Ela solta uma respiração pesada, absorvendo coragem para falar.
- O que foi Pati quer desistir de fazer a denúncia? – Eduardo pergunta com certo desânimo.
- Não, não é isso! É que...
- Fala Pati assim você me deixa nervosa. – Minha voz sai um pouco alterada devido ao nervosismo.
- Gente, eu estou grávida. – Ela diz e abaixa a cabeça sem nos encarar. Nos entre olhamos por um tempo até entender o que realmente ela disse.
- Há quanto tempo você sabe dessa gravidez Pati? Sou sua melhor amiga e você não me contou nada? Por isso estava passando mal, sempre indisposta e sem apetite?
- Sim Mel, esse era o meu mal-estar. Eu não sabia como te contar, na verdade estava envergonhada em engravidar de uma pessoa tão vil como o Ítalo, só descobri a duas semanas atrás.
- Pati o Ítalo sabe disso? – Diz Eduardo.
- Não eu não contei pra ninguém.
- Pati somos amigas, como você pode guardar isso tudo? Por que ficar sofrendo sozinha assim?
- Eu não queria te atrapalhar Mel, você está numa fase tão boa da sua vida, custou tanto pra você achar alguém legal que te fizesse realmente feliz. – Eduardo abaixa a cabeça e esfrega uma mão na outra. – Eu não podia simplesmente chegar e despejar um monte de desgraça na sua vida por causa da minha teimosia em ajudar o Ítalo. Vocês sempre me orientaram a largar o Ítalo e eu nunca dei ouvido. Eu não podia Mel, não podia. – Pati põe as mãos no rosto e chora.
- Pati você tem que entender eu não conseguirei ser feliz, se você também não estiver feliz. – Beijo seu rosto.
- E eu Pati por que não me chamou outra vez? Já te ajudei antes por que não agora? – Eduardo diz e no mesmo instante lembro no que Ítalo falou na hora da briga.
- Eu pensei em você Edu, mas, você já estava triste por causa da Mel. – Agora foi a minha vez de abaixar a cabeça. – Você fez tanto por mim naquele dia, não achei certo abusar assim da sua boa vontade.
- Eu posso saber do que vocês estão falando? O ítalo falou sobre você ter ido salvar a Pati em outra ocasião? Que história é essa? Me fala Eduardo, por favor!
- Posso contar Pati? - Ele olha para ela esperando a resposta.
- Claro Edu, não quero esconder mais nada da Mel. Pode contar.
- Melinda não sei se você se lembra de um show de rock em que a Pati machucou o pé?
- Sim lembro, ela me contou que escorregou de uma escada.
Pati escuta tudo de cabeça baixa sem dar uma palavra.
- Pois é. Na verdade, ela não caiu da escada, ela foi empurrada com violência pelo canalha do Ítalo, caiu na lama e ficou lá sem poder se levantar devido à torção do pé. Quando cheguei, a encontrei sentada na lama, com o pé inchado e sozinha.
- Ah Pati por que você me escondeu isso? – Digo com total decepção.
- Você não entenderia Mel. Pra ser sincera nem eu entendo mais, hoje não saberia te dizer o porque de tantas coisas fiz por ele. – E outra lágrima silenciosa escorre pelo rosto.
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QUANDO VOCÊ SURGIU
RomantizmEm um momento da vida encontramos nosso grande amor, e outro momento descobrimos que esse grande amor é uma ilusão. Nas reviravoltas da vida descobrimos que podemos ter uma segunda chance para o amor, o problema é quando descobrimos que essa segunda...