A Surpresa

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Todos os meses, vou visitar o túmulo de minha mãe, certo que à meses em que vou mais e meses em que vou apenas uma vez. Estou a caminho do escritório, quando resolvo ir ao cemitério, dou a volta com o carro, e sigo em outra direção. Paro na floricultura próxima ao cemitério, onde já me conhecem.

- Olá Anne. As de sempre? - pergunta o filho da dona, que é sempre simpático.

- Sim John, obrigada.

Sempre compro tulipas, não sei exatamente o porquê, já que não eram as preferidas da minha mãe. Vou caminhando da floricultura ao cemitério, não é um longo percurso. Ao chegar lá, passo por entre vários túmulos, do qual não faço ideia de quem esteja enterrado, nunca me importei em olhar os nomes. O túmulo onde minha mãe foi sepultada é um pouco mais distante, um tanto escondido, o que me dá uma certa privacidade.

Porém ao me aproximar, me surpreendo com o que vejo. Alguém que parece dormir em cima do túmulo. Me aproximo com certo receio, imaginando de tudo. Mas vendo de perto, percebo que é uma garota. Ela está com vários hematomas, o cabelo bagunçado e sujo, com sangue e algo que não sei distinguir apenas olhando, suas roupas estão sujas e rasgadas. Vejo que está dormindo e pego sua mão.

- Ei - Chamo

Ela abre os olhos e começa a levantar rapidamente, sua expressão é de medo, continuo segurando sua mão, enquanto tenta de modo frustrado se desvencilhar, só então percebo que o medo é de mim.

- Calma... não quero te machucar - ainda lhe segurando com uma mão, coloco as tulipas em cima do túmulo com a outra.

- Me solta... me solta - pede desesperada.

- Calma garota, não quero te machucar, quero te ajudar - Ela parece se acalmar - Meu nome é Anne - digo lhe soltando - Qual o seu?

Ela olha para todos os lados, como se procurasse algo. - Eu não lembro - fala finalmente.

- Como assim, não lembra? Seu nome, eu perguntei seu nome.

- Eu não lembro - repete.

- Porque você está assim? - sinalizo as roupas.

- Eu não sei, só lembro de ter fugido.

Logo que termina de falar, um medo me percorre, pode ser que esteja fugindo da polícia, mas pode ser de um marido violento, ou até mesmo pode ter sido sequestrada. Anulo a primeira opção, e decido ajuda-la, sem medir consequências.

- Vamos, tenho de te levar a polícia.

- Não, não vou a polícia.

- Ok, deixa a polícia para depois, você tem de ir ao hospital.

- Não, eu não posso.

- Porque?

Ela me olha nos olhos e vejo que o medo a domina, e que está aterrorizada.

- Eu simplesmente não posso.

Paro para pensar um pouco, é evidente que ela está apavorada, e que fala a verdade.

- Vamos - digo pegando sua mão novamente, mas ela não sai do lugar.

- Pra onde?

- Meu apartamento, você precisa de um banho e roupas limpas.

Com receio, ainda me analisando, anda devagar, parece estar pronta para correr a qualquer momento. Ao aproximar da floricultura, para pegar meu carro, vejo que o John me ver vindo, sua expressão muda ao ver a garota ao meu lado.

- Tudo bem Anne?

Ver John lhe causa uma reação, que eu não esperava. Ela se esconde atrás de mim, a alguns minutos antes ela tinha medo de mim, agora me usa como uma proteção.

- Tudo sim John. Até mais - aceno abrindo o carro.

Ela senta no banco da frente, e coloco o sinto de segurança, como se ela fosse uma criança. E sigo em direção ao meu apartamento.

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