Conversando

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Sentamos uma de frente para a outra, observo sua reação, achei que não aceitaria que o médico lhe examinasse. Fiquei com um nervosismo aparente durante todo o tempo em que ele ficou em meu apartamento.

- Porque você disse que sou sua irmã?

Sou trazida de volta a realidade, sem ter certeza de que ela me fez uma pergunta.

- Não sei – respondo mexendo em minha comida. – Mas como se sente?

- Bem.

- Porque acordou gritando? Sonhou com o quê? – questiono olhando em seus olhos.

Ela baixa a vista para o prato com comida a sua frente.

- Acho que meus sonhos são lembranças do que eu passei. Não tenho certeza.

- O que aconteceu?

- Prefiro não falar. Não agora.

- Tudo bem.

Começo a comer, mas não sinto fome. Fico de olho nas ações da minha nova companhia e parece que algo lhe incomoda.

- Quer falar algo?

- Eu poderia...? – ela fica de pé, parece pensar se deve continuar – sentir seu perfume?

- Claro – respondo um pouco em dúvida.

Ela vem até mim lentamente, se inclina um pouco, fico um tanto constrangida, por ela cheirar meu pescoço. Ela se afasta de repente parecendo assustada.

- O que foi? Lembrou algo?

- Um rosto – responde com o olhar perdido.

- Sabe descrever?

- É mais velha, cabelos mais claros que o meu. Estava vindo em minha direção.

- O que mais?

- Não sei.

- Quer sentir de novo?

Ela balança a cabeça euforicamente negando minha proposta. Voltamos a comer e o silêncio toma conta, ouve-se apenas o som dos talheres ao contato com o prato.

Como havia dito, assim que acabamos de comer, vamos comprar seu remédios. Ao nos ver saindo, alguns dos meus vizinhos estranham, deduzo isto pelas expressões que são feitas ao nos ver passar, mais agora do que nunca, não me importo.

Também levo-a para dar uma caminhada numa área mais natural, ela parece confiar mais em mim, fala um pouco mais, conseguimos estabelecer um diálogo, ela me pede para falar do meu trabalho e comenta tudo que falo, ficamos fora até o fim da tarde.

- Vamos jantar. Você tá com fome?

- Um pouco.

- Vamos em um restaurante.

Ao chegarmos lá, vejo que não está cheio, contudo há mais pessoas do que esperava, a olho de soslaio ao meu lado e parece estar com frio, lhe passo meu terninho, o mesmo que estava pela manhã. Ajudo-a a escolher o que pedi, e faço também o meu pedido.

- Você deve ser alguém importante – fala olhando ao redor.

- Porque você acha isso?

- Esse lugar... – sinaliza com a mão – é?

- Não.

- Posso te fazer uma pergunta mais pessoal?

- Pode – respondo ainda em dúvida.

- Porque você mora sozinha?

- Nunca parei pra pensar nisto, acho que deve ser porque tenho mais privacidade.

Telhado de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora