A Ajuda

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Não sei no que pensava quando a trouxe direto para o meu apartamento, sei que senti uma grande necessidade de ajuda-la, mas isso foi loucura minha. Se tudo que aconteceu no cemitério não passasse de uma bela encenação? Quem sabe o que ela poderia fazer comigo. Mas meus instintos me guiaram.

Agora estou lhe ajudando no banho, lavando seu cabelo, ela está com espuma até o pescoço, seu corpo tem mais hematomas do que imaginei. Ao vê-la assim, me pergunto: quem teria feito isso? Porque fez isso? Tantas questões que no momento não podem ser respondidas.

Agora ela parece mais relaxada, o pavor que via em seus olhos diminuiu, mas sei que não baixou sua guarda por completo, e não posso abusar querendo muitas informações. 

- Você consegue lembrar-se de onde veio?

- Não.

- O que consegue lembrar?

- Que precisava fugir.

- Sabe pra onde iria?

- Não.

Suas respostas são curtas, o que não facilita nosso diálogo, mas tento um pouco mais.

- Sabe quantos anos tem?

- Não.

- Tá com fome? 

Ela vira um pouco para me olhar e balança a cabeça afirmando.

- Sabe há quanto tempo você está assim?

- Não.

Termino de lavar seu cabelo com sentimento de revolta, sua cabeça está cortada em dois lugares, vou tentar convence-la de ir ao hospital, o que acho que não será uma tarefa fácil. 

- Vou separar uma roupa pra você - digo já saindo do banheiro.

Olho em meu armário a procura de uma roupa que seja confortável, que não a machuque, preciso também de roupas íntimas, sorte que sempre guardo umas novas, mas não sei se meu tamanho lhe servirá.

Lembro-me de ligar para a redação, para avisar que não poderei ir, por motivos superiores, mas sou indagada quais motivos são esse, decidida a não comentar nada sobre a garota, digo apenas que estou com cólica e ele parece aceitar.

Volto ao banheiro e a vejo ainda sentada, fico lhe observando brincar com a espuma, mas ela me ver na porta.

- Trouxe a roupa. Lembra como coloca-las?

- Lembro.

- Vou deixa-las aqui - coloco em cima da bancada - Quando se vesti me encontra na cozinha.

Preparo algo para que coma, mas do que gosta? Antes que termine, a vejo adentrar tímida na cozinha, já está vestida com minhas roupas, aparenta ter lhe servido bem. Sua aparência está bem melhor, a não ser pelas marcas roxas e cortes que estão por todo o corpo.

- Pode vir. Senta aqui - sinalizo o banco de frente a bancada, onde servi algo para ela comer - Não sei do que você gosta, então... Prova algo.

Enquanto come, tento conseguir mais algumas informações.

- Sabe do que você precisava fugir?

- Não tenho certeza - espero que continue - Sonhei com um homem me batendo. Não sei se foi realmente um sonho ou uma lembrança.

- Lembra-se do rosto dele?

- Não, eu via apenas uma sombra, mas sabia que era um homem.

Vejo que tudo que coloquei para ela acabou.

- Quer mais?

- Não.

- Você deve estar cansada. Quer dormir um pouco? Até a hora do almoço.

Ela aceita com certa relutância, a levo até o quarto de hospedes, e logo a deixo para que possa dormir.

Vou até meu quarto, sento na cama e tento pensar no que fazer, ela precisa de um médico, mas ela não confia em ninguém. Pego meu celular e ligo para o Ryan.

- Bom dia meu amor.

- Ryan, você tem o número de algum médico que possa vir aqui?

- Aconteceu algo com você? Você tá bem?

- Eu estou bem, não é pra mim. Tem ou não?

- Tenho, tem como anotar?

- Sim.

Anoto o número, e digo ao Ryan que ligo de novo assim que puder. Logo em seguida ligo para o médico, que se prontifica a vir. Digo-lhe que ao meio-dia ele pode chegar, peço que anote o endereço e fico aliviada ao desligar. 

Vou até o banheiro, coloco tudo em seu devido lugar, deixando como estava antes, pego o que um dia foram roupas, que ela estava usando e coloco no lixo. Mas pensando melhor, guardo para levar a polícia, talvez possa ser encontrado algo nos restos das roupas.

Penso em fazer eu mesma o almoço, mas não levo jeito com isso, então resolvo pedir comida em um restaurante próximo.

As horas se arrastam, tive tempo de adiantar meu trabalho de dois dias, ou boa parte dele, faço meu planejamento semanal, está tudo muito calmo, o silêncio chega a doer em meus ouvidos. Contudo parecendo ler meus pensamentos, ouço um grito romper o silêncio, e sou lembrada da garota a dormir no quarto, a única reação que me vem a cabeça é correr. Entro no quarto e a vejo agitada, se defendendo de algo que não é real, que está só em sua cabeça. Tento acorda-la segurando-a pelos ombros.

- Acorda. Garota. É só um sonho.

Ela abre os olhos parecendo realmente assustada, olha para todos os lados, buscando algo. Ela está tremendo. Me abraça por um período de tempo um tanto longo, sendo interrompida apenas ao som da campainha tocando. Penso que deve ser o médico.

Telhado de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora