C a p í t u l o 6

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Pelo canto do olho, me era possível observá-la.

Shivani estava radiante como se fosse o melhor momento de sua vida, enquanto eu sentia toda a pressão de estar atrás do volante. Dirigir parecia algo tão assustador para mim de certa forma.

Entretanto, eu me sentia confiante. Enquanto eu observava sua postura, eu conseguia notar seus olhos perdidos, pensativos, o cansaço a mil. Ainda não havíamos parado de dirigir, o que já estava na hora.

Notei quando ela arrumou as pulseiras pretas em seus dois pulsos, e se esticou, pegando o caderno pela milésima vez.

Ele era azul, pequeno e realmente apropriado para guardar no bolso, possuía um marcador de páginas. Me ocorreu de escrever essa lista pela primeira vez, em uma madrugada, minha mãe estava preocupada em como eu passaria minhas noites sozinho por um tempo, me dizendo que escrever era a melhor coisa a se fazer.

A intenção dela talvez fosse de me fazer esquecer o mundo fora daquele lugar, mas conforme eu escrevia era como se eu pudesse sentir as emoções a flor da pele, de tudo que eu queria viver ainda.

— Vamos parar pra comer. — Falou sonolenta, não ousei descordar.

Pelo GPS encontramos a lanchonete mais próximas, de certa forma era difícil não me incomodar com seu olhar sobre algo tão pessoal, mas eu conseguia manter a postura e fingir que não.

Sua seriedade repentina era estranha, sua personalidade em geral. 

Shivani mantinha uma postura indiferente, mesmo sorrindo e se divertindo, as vezes parecia que ela esquecia o papel de quem está sempre bem. Sua aparência também era um tanto peculiar, sem as diversas roupas de frio, eu notava sua madeixas escuras como a noite, suas pulseiras pretas que enchiam seus braços, os tênis escuros, mas seu sorriso com certeza era o mais bonito.

Era perfeito.

Pisquei algumas vezes, retornando meus pensamentos quando ela empurrou a porta do lugar, as portas eram de vidro, e o lugar aparentemente antigo, as mesas bem distribuídas, e uma mesa perto da grande janela de vidro — Na qual sentamos — Shivani me parecia tentar se manter focada.

— Você está bem? 

— Só cansada.

Acenei com a cabeça, encostei a mesma na janela encarando as pessoas passando de um lado para o outro, em suas monótonas vidas entediantes.

O garçom chegou o que me fez pedir em companhia da mesma, que pediu algo sem carne, depois de alguns minutos, as lembranças das últimas horas me atacaram e ficou difícil não me preocupar peguei o celular, pensando se já havia sinal do Noah.

Noah havia permanecido ao meu lado em um dos anos mais difíceis da minha vida, apesar de tudo, eu lhe amava como meu irmão.

— Onde está o número dez?

— O que? — Encarei a garota, seus olhos estavam intensamente marcados pela dúvida.

— É uma lista de dez coisas, mas você só tem nove itens na lista.

Pensei um pouco, o que eu deveria responder?

— Esse não precisa ser anotado, é bobo.

— Se está na sua lista, é porque é importante. — Ela apoiou o rosto na mão.

— É bobagem.

— Acho que você é um medroso Bailey, um bebê choram que está com medo de se arriscar, com medo de sair de baixo da asa dos pais. — Indagou de uma vez.

— Acha que isso vai me fazer te contar.—  baguncei sua franja. — nem morto.

Suspirei, percebi ela bater as mãos em um ritmo, como se não saber o que queria lhe deixasse muito incomodada, ou até ansiosa. 

—  O que vamos fazer agora?

— Não podemos ficar com a Van por muito tempo.

— É o que nós temos.

— Não podemos andar por aí com um veículo roubado! — Sussurrou "roubado", e pausamos a conversa quando nosso pedido chegou.

— Está preocupada com isto agora? — Ela suspirou. — Jura?

Vi seus olhos se perderem, e se tornarem... tristes?

— Desculpa.

Minha cabeça pareceu dar um giro de 360 graus, eu estava confuso.

Eu falei algo que a deixou incomodada? 

Desisti de tentar entender, matei minha fome, enquanto enchia Noah de mensagens, torcendo para que ele recebesse, Shivani pagou a conta e voltamos para o carro, sem qualquer enrolação, dessa vez, ela sentou no banco do motorista, e fechou os olhos por alguns segundos.

Em pé do lado de fora e com a porta aberta encarei seus movimentos.

— Você não parece nada bem.

— Estou ótima. — Ela me olhou e forçou um sorriso. — Só muito cansada.

— Podemos esperar aqui por um tempo, não dormimos à horas e...

— Para de bancar o papai preocupado, entra logo, senhor responsabilidade.

Provocou, era clara sua tentativa de me tirar a atenção, eu não deveria ficar preocupado, Shivani era a própria confusão, tudo que eu queria distância, mas se ela seria minha companhia, era importante saber se ela não morreria a qualquer minuto durante o caminho.

Cruzei os braços, o que lhe fez me encarar por longos segundos, que sobre seu olhar minucioso, parecia uma eternidade.

Pigarrei encarando meus pés, me sentido um tanto constrangido, ela bufou.

— O próximo item da lista é vistar a ponte de Katrina, Isso fica a uns vinte minutos de onde estamos, minha tia mora lá perto. Podemos descansar e pegar um carro, sem ser roubado, é o plano perfeito.

— Eu não sei porque ainda me deixo levar pelas suas loucuras.

Ela sorriu convencida, enquanto eu entrava no carro, fechei os olhos por alguns segundos, apenas tentando pensar, mas de repente, eu já estava distante, sentindo o peso do mundo sumir por alguns poucos instantes.

*** 1/2***

Alguns lugares dessa fanfic são totalmente ficcionais.

Capítulo curto, eu sei, mas não tenho como terminar hoje, então essa é a parte 1 do capítulo.

Number 10_ Shivley MaliwalOnde histórias criam vida. Descubra agora