C a p í t u l o 19

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Noah:

Quando tinha quinze anos, Bailey me contou que queria cantar, se acertar com a irmã, e diversas outras coisas, ele desejou muito. E agora... Bom...

Parece confuso.

Acredito que seja mais doloroso que confuso.

Eram quase três da madrugada na cidade dos anjos, uma das primeiras noites calmas após tantos dias acordado tentando resolver tudo. Quando me dei conta do meu grande erro.

No momento em que eu e Bailey nos despedimos semanas atrás, eu soube que as coisas mudariam.

Quando o telefone tocou no meio da madrugada, e a voz de Matthew soou me questionando se Bailey estava na casa do lago. Sua voz era desesperada como se esperasse que eu tirasse um peso de suas costas, e pela primeira vez em dias falei a verdade.

O choque veio em seguida, cada célula do meu corpo gritava.

Não sei dizer o que aconteceu depois que deixei cair o telefone, e corri até meu pai nomeio da noite, como um garotinho assustado após um pesadelo.

Lembro de um longo caminho, e das muitas mensagens que mandei para seu celular como se ele fosse responder, lembro de chegar em Las Vegas sentindo o chão desaparecer na companhia dos pais dele.

Agora eu estava sentado, encarando uma parede branca vazia, sabendo das diversas mensagens de Raj, depois que eu contara que sua irmã voltaria logo.

Agora? Eu já não sabia de nada.

Aquela porra de hospital não possuía médicos para nos dar notícias?

Do outro lado da sala dois asiáticos, uma loira e uma morena estavam aglomerados,  a de olhos puxados prendeu minha atenção, ela chorava, sem muito barulho, apenas quieta e vermelha, sentada com os amigos.

Minha atenção desviou de seu rosto para algo em sua mão.

Pisquei algumas vezes para ter certeza de que estava enxergando certo. Levantei, certo de andar em sua direção, mas uma figura médica impediu que eu desse se quer dois passos.

— Familiares de Bailey Thomas Cabello May? — Vanessa levantou, abraçada ao tio Matt, ela ainda não sabiam bem sobre ocorrido, apenas que algo ruim tinha acontecido. Tio Matt aparentemente tinha um conhecimento maior que o nosso.

— Sim. — Vanessa disse estática e desperta.

— Seu filho está em um quarto se preparando para uma cirurgia, ele sofreu um acidente, que resultou em várias contusões. — Explicou na maior calma possível, Vanessa se sentou em choque. — Ele está consciente, entretanto, me preocupa que seu coração não consiga se manter funcionando por muito tempo.

— Como assim?  — Questionei, quase sem voz. 

— Estamos examinando, temos medo que haja algum dano. O coração do Bailey...—  Ele pensou se deveria dizer. —  Não está funcionado como deveria.

Me senti em queda livre.

— Ele estava acompanhado? —  Perguntei quando Vanessa começou a chorar.

O médico, que li pelo crachá se chamar J. Parker, fez uma feição bastante preocupada.

—  Na verdade tinha uma acompanhante. —  Me senti ainda mais tenso, Shivani e Bailey? Não...—  Ela não está bem, infelizmente, não posso lhe dar mais informações.

Pela sua feição ele não estava tentando me confortar, ela realmente não estava bem.

Suspirei frustrado.

— Como tudo aconteceu?

— Alguém cruzou o sinal vermelho, não foi culpa deles. —  Ele deu duas tapinhas em meu ombro, e antes de sair andando me falou.—  Os amigos disseram que eles estavam felizes. Saiba disso.

*

Fingi beber água, meu coração estava a mil, a sala estava proibida para entrada.

Eu só queria dizer uma única coisa a Bailey.

Olhei para os dois lados, empurrando a porta, encontrado o garoto seus olhos me olharam, ele estava quebrado.

Muito machucado.

Entretanto eu conseguia ver que não era o que lhe torturava.

Suas roupas indicavam que ele estava pronto, aparentemente não conseguia falar.

— Hey, quanto tempo. —  Me certifiquei que não vinha ninguém. —  Eu só queria te pedir, que volte vivo daquela sala.

Ele não esboçou reação.

Senti um aperto no peito e um sentimento de culpa.

—  Por favor.

Tentei lhe passar segurança com o olhar, mesmo que agora estivesse impossível manter a pose.

Sabendo que eu poderia me deixar levar, e deixar Bailey ainda mais tenso, me preparei, pra ir girei a maçaneta, quando sua voz, baixa, falha e forçada soou como um pedido de socorro:

—  A...—  Engoliu em seco. — A Shivani?

Suspirei, fechando a porta e voltando a me aproximar do mesmo.

***

Number 10_ Shivley MaliwalOnde histórias criam vida. Descubra agora