Charlotte olhava por trás das cortinas, dentro das caixas e panelas, deitava no chão para procurar embaixo do sofá e dos outros móveis, colocava a cabeça para fora da janela a fim de ver pelo parapeito, mas por fim concluiu que ele não devia estar em nenhum lugar daquele apartamento. Se jogou sentada no sofá, levando às mãos ao rosto e tentando abafar um grito de frustração, seu gato ingrato havia sumido. Tinha voltado a poucas horas do veterinário com ele, onde ele havia feito uma pequena cirurgia para retirar um clipe que havia engolido, até o momento a Page não fazia ideia de como ele havia conseguido aquele feito. O caso era que eles voltaram para casa e ela foi dormir um pouco, seu gatinho estava ainda sob efeito de anestesia então deveria demorar um pouco para voltar ao normal, mas ele voltou antes dela acordar e pelo visto achou uma ótima ideia dar uma volta longa sem avisar sua dona. Não que ela esperasse que ele avisasse, afinal, ele era um gato, mas podia ter tido pelo menos a consideração de ter esperado que ela acordasse antes de sumir pelo mundo.
- Gato ingrato, faço tudo por ele e ele some na primeira oportunidade.
Resmungou irritada, mas seu coração apertava ao pensar na possibilidade dele ter sumido ainda em fase de recuperação, ele poderia estar machucado, morto, ter sido sequestrado ou ter fugido com uma gangue de gatos de rua que pretendem dominar o mundo escravizando os humanos através de planos malignos. Ok, ela estava passando tempo de mais com Jasper, as teorias loucas dele estavam começando a impregna-lá. Charlotte tombou a cabeça para trás, sentiu o encosto duro de seu sofá velho apertar sua nuca, olhava para o teto que começava a dar sinais de infiltração e tentou não pensar no quanto aquilo iria custar. Era muita sorte ter encontrado um bom apartamento, sendo bastante otimista, naquela região, perto de seu emprego e do centro artístico da cidade. Soltou o ar de forma ruidosa pela boca e se pôs a pensar por onde seu gatinho andaria, não duvidava nada de que ele estaria roubando a comida de alguém ou se fazendo de pobre coitado para conseguir um carinho. Ele sabia ser bem manipulador quando queria, o que era a todo momento.
- Só volta pra casa, Felix. Não me faz ter que te procurar pelas ruas, por favor.
Pediu, a voz em um tom lamentoso que ela sabia que não iria servir de nada. Esperou por mais alguns minutos e como viu que ele não iria aparecer, resolveu sair para procurá-lo. A rua de seu prédio era bastante movimentado, o que tornava ainda mais perigoso a fuga de seu gato. O chamava alto, procurando em cada lata de lixo, espaços escondidos entre prédios, becos estranhos e por baixo de bancos pelos pontos de ônibus que passava. Andou por mais de duas horas, a blusa já grudando em suas costas por conta do suor, que por sinal escorria por seu pescoço. Se sentia suja e extremamente cansada, a vontade que tinha era mandar o felino para passar férias com sua mãe em Ioha. Estava quase desistindo quando avistou um gato cor caramelo com patinhas brancas, deitado no colo de alguém que ela nem fez questão de olhar o rosto, em uma parte da grade de incêndio que dava entrada para a janela de um apartamento no terceiro andar. Abriu um imenso sorriso de alívio quando viu a manchinha branca que rodeava o olho direito do gato, era mesmo Felix.
Entrou no beco entre os prédios e se pôs a subir os degraus da escada de ferro o mais rápido que pôde, quando chegou ao terceiro andar, deu de cara com a última pessoa que queria ver pelo resto de sua vida. Ele abriu um sorriso de lado que a fez querer dar meia volta e sair o mais rápido possível da sua frente, mas não podia, ele tinha o seu gato e ela só queria ir para casa com ele.
- Ele fugiu.
Não sabe porque disse aquilo, era óbvio que ele havia fugido. Com uma voz que deixava na cara o quanto ele estava adorando aquela situação, deu voz aos pensamentos dela.
- É meio óbvio que ele fugiu, mas gosto de pensar que ele veio atrás de mim.
Revirou os olhos dramaticamente e esticou os braços, abrindo e fechando as mãos para ele lhe entregar o gato.