Charlotte caminhava apressada em direção ao seu armário, olhava ao redor e por cima dos ombros como se estivesse sendo perseguida, o que estava perto da realidade. Se permitiu relaxar um pouco quando não viu nenhum sinal dos cachos volumosos de Willian, um garoto do segundo ano que havia desenvolvido uma paixão grudenta por ela. Aumentou o volume da música que saía por seus fones e andou diretamente até seu armário, encostado no armário ao lado se encontrava Henry, ele lia, ou tentava ler, um livro passado para a aula de literatura.
- A aula já é na próxima semana. - avisou, retirando os fones ao observar o pequeno progresso de seu amigo.
Henry fechou o livro e a olhou com uma expressão exausta.
- Eu sei, mas queria pelo menos saber quem é quem antes de você me dar um resumo.
- Por que eu faria isso? - indagou, tentando soar indiferente, mas um canto de sua boca levantou em um meio sorriso.
- Porque você é minha melhor amiga e nunca deixaria passar uma oportunidade de falar sobre um livro. - argumentou, tendo certeza de que havia conseguido seu resumo quando escutou uma leve risada dela.
Charlotte abriu seu armário e guardou rapidamente seus livros, só faltavam mais duas aulas para o fim do dia e depois iria para o trabalho com seus amigos. Ao trancar o armário, observou Henry analisando a capa do livro em uma concentração que a impressionou. Sabia que o Hart gostava de ler, possuía algumas dificuldades por conta do déficit de atenção, mas ela sempre o ajudava, porém nos últimos dias o trabalho na Caverna man se encontra mais cansativo e exigente, ele não possuía tempo para relaxar direito e se concentrar.
- A noite vamos para a minha casa e conversamos sobre ele. - falou, batendo com as unhas na capa do livro.
- Ótimo, estou curioso pra saber quem é Catherine Heathcliff. - afirmou animado e logo seu sorriso aumentou quando olhou sobre o ombro de Charlotte. - Seu pretendente está vindo.
- Onde? - perguntou em um quase desespero que o divertiu, ao olhar para trás viu Willian se aproximar a passos apressados com um buquê de rosas vermelhas na mão. - Ah, não.
- Não pareça tão infeliz, ele provavelmente só vai te pedir em namoro.
- Só?!
Estreitou os olhos irritada quando Henry teve a audácia de gargalhar de sua cara. Willian poderia parecer um amor, mas era extremamente grudento, estranhamente observador e muito intrometido. Cada vez que ele se aproximava ela sentia sua pele arrepiar, e não por uma boa causa. Poderia estar sendo injusta, mas não se sentia a vontade recebendo a atenção dele.
- É só dizer não. - Henry afirmou, sentindo o nervosismo dela, mas Charlotte olhou ao redor notando que o corredor não estava muito vazio e ele soube que ela não teria coragem de dispensar o garoto com uma platéia. - Pede pra conversar sozinha com ele e então recusa o pedido.
- Não quero ficar sozinha com ele. - a fala veio baixa, mas Henry escutou e logo se pôs em alerta. - Acho melhor só sair daqui.
Dessa vez havia falado em um tom mais alto e logo deu as costas ao amigo e começou a praticamente correr para longe, Henry rapidamente a acompanhou, mas antes reparou em como William começou a caminhar mais rápido na direção deles. Charlotte virou em um corredor quase deserto, olhou ao redor à procura de uma saída e respirou aliviada quando viu a porta do armário de limpeza.
- Char. - o Hart a chamou, segurando sua mão antes dela dar um passo em direção ao esconderijo.
- Preciso ir, Henry. Me solta, por favor. - pediu apressada, se sentindo uma paranóica por jurar que estava escutando os passos de Willian cada vez mais pertos.
- O que realmente está acontecendo? - perguntou preocupado, sua amiga nunca fora de fugir das situações, ela as enfrentava de frente não importava o quanto fossem assustadoras.
Charlotte abriu a boca para protestar, mas viu William na esquina do corredor e seus olhos caíram direto na caixinha vermelha que ele segurava na mão direita, seu queixo foi ao chão.
- Ai. Meu. Deus.
O tempo pareceu correr em câmera lenta e Charlotte viu sua vida passar praticamente diante de seus olhos, os futuros que poderiam ser gerados daquele momento a assombravam. Se via aceitando o pedido; negando o pedido e William sendo humilhado; Henry falando algo idiota e os dois acabarem discutindo na frente dela: ou pior, eles se tornando amigos!
Ela poderia ter corrido, fugido e se escondido no armário, se trancado até o colégio fechar, poderia até ter ignorado a todos e ido para casa. Porém ela estava há anos na companhia de pessoas inconsequentes e depois ela colocaria a culpa neles pelo o que estava prestes a fazer.
Henry se preparou para olhar para onde Charlotte parecia ter visto um fantasma, mas sentiu as mãos macias dela em seu rosto em questão de segundos e após delas os lábios da Bolton. Arregalou os olhos supreso ao vê-la de olhos fechados, segurando seu rosto para ele não se afastar, sentiu a hesitação dela e soube que ela iria recuar a qualquer momento.
Charlotte pensou em se afastar, iria continuar de olhos fechados pelo resto de sua vida só para não precisar encarar Henry, entreabriu os lábios inconscientemente e apoiou seus calcanhares no chão. Henry inclinou a cabeça para baixo e sentiu o braço dele rodear sua cintura, aproximando seus corpos. A mão direita da Bolton deslizou até se apoiar no peito de Henry, a outra permaneceu em seu rosto e ela começou um leve carinho com o polegar na bochecha dele.
Henry sorriu antes de aprofundar o beijo, sentiu Charlotte relaxar em seus braços e a ouviu suspirar quando levou uma mão ao pescoço dela. Se perderam no toque do outro, na proximidade dos corpos, no gosto de hortelã misturado com canela, nos corações acelerados, no calor que os tomava e na corrente elétrica que ativou cada célula de seus corpos. Ignoraram o mundo ao redor, esquecendo que estavam no meio de um corredor por onde passavam colegas supresos e animados.
- Ok, eu realmente não esperava por essa hoje. - Piper falou rindo ao ver seu irmão em um beijo nada casto com Charlotte.
- Tô tão feliz! - Jasper comemorou, com um celular em mãos gravando tudo para enviar à Schwoz.
Piper revirou os olhos dramaticamente e desviou a atenção do novo casal, era seu irmão que estava se agarrando no meio do corredor e aquilo a deixava desconfortável.
- Vocês não perderam nada aqui! Circulando! - gritou para os poucos alunos que ainda os observavam, eles rapidamente correram após o grito dela, menos um. - Se ficar plantado aqui por mais tempo talvez até façam uma estátua sua.
O garoto a encarou com os olhos injetados de raiva, a Hart estremeceu internamente ao reconhecer William, achava aquele garoto estranho de mais e não falaria em voz alta, mas ele a assustava um pouco. William se afastou deles a passos pesados, mas antes lançou um olhar gélido ao casal no meio do corredor que havia parado o beijo e se encaravam em um misto de vergonha e encantamento. Piper teve o terrível pressentimento de que ele ainda causaria problemas.
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