Dor nos pés

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POV CAMILA

- Você está tão linda! Meu Deus Kaki como você cresceu - Disse minha mãe colocando suas mãos no peito em sinal de orgulho.

- Obrigada mama, mas eu acho que não consigo descer as escadas de salto, desculpe eu vou tirar isso

- Não, não e não! Alejandro! Vem aqui meu amor.

Meu pai era um superpai e um super marido, se minha mãe o chamasse, ele aparecia como um passe de mágica, tipo o mestre dos magos naquele desenho, a caverna do dragão.

- O que foi meu amor? – Meu pai todo preocupado.

- Pegue a Kaki no colo e traga ela aqui para baixo, por favor.

- O que? Não mãe! Isso é humilhação demais! Deixa eu colocar meu tênis por favor.

-Minha filha, vem com o papa – Ele me colocou em seus braços – Não abuse da paciência de sua mãe, ela está de TPM, e está querendo que você mostre o seu melhor – Disse ele cochichando em meu ouvido.

- Mas papa, eu vou lá para cantar, não é seleção para ser uma Angel da Victoria Secrets, e além do mais vocês sabem bem como eu gosto de me vestir... Boné, blusa larga, calça jeans e meu mais velho all star... Esse é meu jeito.

- Eu sei Camila, e eu amo o seu jeito, mas pense que agora você pode se tornar uma estrela da música... Olha há coisas que é bom dividir. –Disse meu pai enquanto descia comigo todo o lance de escada e me colocou no chão, ajeitando minha roupa e meu cabelo.

- Papa, matemática agora não.

- Me escute, não é uma lição da matemática... Sabe os artistas tem uma coisa que chama válvula de escape, algo que eles só usam para se apresentar, um objeto... Uma cor de roupa. Pense que toda vez que você se apresentar o salto alto será o seu objeto, até achar outro... Porque uma hora você irá se acostumar com o salto. Sei que sua mãe está sendo rude agora, mas pense que uma hora você vai se lembrar desse momento e vai morrer de tanto rir

- Desculpa papa por fazer o senhor me carregar, eu já tenho 15 anos eu estou bem grandinha para isso.

- Filha, promete lembrar do que eu vou te dizer, certo? - Apenas afirmei com um gesto - Uma filha nunca estará velha demais para ser carregada pelo pai.

- Você é meu herói papa!

Dei um abraço apertado em meu pai e fui em direção a minha mãe que já estava me esperando no carro.

Minha mãe ficou muito brava quando chegamos lá, pois ela não poderia ficar comigo, e eu iria passar o dia inteiro.
Então ela me deu um dinheiro se caso eu precisasse e eles não oferecessem comida. E deixou o celular dela comigo. (sim, eu não tenho celular)

Fui andando, e parecia uma pata, mas foi o único jeito de conseguir andar sem cair... Lançando um pé na frente e deixando peso do salto me levar.

Muita gente tocando violão, cantando. E eu vagando por ali como um fantasma. Fui até um produtor, peguei uma plaquinha com meu número de competidora e fui caminhando até um lugar mais afastado e tranquilo.

Se tem uma coisa que eu aprendi naquele momento, é que se andar de salto no cimento para mim já era difícil, imagina na grama... Dei uns sete passos e tropecei, e foi como uma câmera lenta, eu estava prestes a beijar a grama até que algo me segurou pela cintura.

- Cuidado Cabello – Lauren não parava de rir - Vejo que está sofrendo um pouco hoje.

- LAUREN! AI DEUS, MUITO OBRIGADA, VOCÊ ME SALVOU – Eu gritei ao ver Lauren ali, e de imediato a abracei com toda a força que eu tinha.

- Por nada, estava indo se sentar perto da árvore ?

- Hurum, quer ir comigo?

- Claro, deixa eu te ajudar até sentarmos. - Ela segurou em minha cintura, e eu passei meus braços em volta do seu pescoço e fomos caminhando.

Quando finalmente me sentei na grama, estiquei meus pés o máximo que pude. Lauren pegou um chiclete no bolso de sua jaqueta de couro e me ofereceu um pedaço, óbvio que eu aceitei. - Então Camila, me fale de você.

- Bom eu me chamo Karla Camila Cabello, mas já adianto odeio o nome Karla, então continue me chamando de Camila. Eu tenho 15 anos, moro aqui mesmo em Miami, no bairro do parque industrial rua 32, eu tenho uma irmã e...

- Ei ei espera ai, eu também moro no bairro industrial! Na rua 27

- Deus! Somos praticamente vizinhas! Que legal isso...

- Desculpe te interromper, mas eu achei isso muito louco... Da gente morar próximo sabe? Mas continue, fale da sua escola seus amigos... Seus hobby's, quero saber de tudo.

- Bom... podemos pular essa parte de escola e amigos?

Lauren me olhou meio assustada, como se não entendesse a minha atitude, e voltou a olhar para frente em silêncio.

- Olha Lauren, não pense que eu não confio em você... Eu só não tenho amigos e odeio minha escola. As pessoas na minha escola não gostam de mim, sei lá porque, eu juro eu nunca fiz mal a eles.

- Você está exagerando, você é legal Camila.

- Não, não estou. Como todos os dias no banheiro, ninguém conversa comigo e quando dirigem a palavra a mim é para me chamar de perdedora ou para me zoar. Fora que eu já até perdi as contas de quantas vezes um prato de macarronada foi jogado na minha cabeça. Até sopa eles aproveitaram que eu estava distraída e jogaram dentro da minha mochila.

- Meu Deus, isso é o inferno... Eu não me imagino passando por isso, na minha escola eu sou "popular" –Lauren fez o sinal de aspas com o dedo - Pratico esportes, sou do clube de poesia, matemática e faço parte do coral e do grupo de teatro... Eu amo a minha escola, pena que já está acabando.

- Eu tenho mais dois anos de tortura.

- Mas vamos falar de coisa boa! Música, que tipo de música e que estilo você curte? Além do One Direction.

Eu me virei toda assustada para Lauren que falava olhando pra baixo arrancando a graminha do chão.

- Como você sabe que eu curto One Direction?

- Seu Twitter te entrega bem neste requisito Camila.

- Bom, eu curto One Direction, curto Alejandro Santz, Ed Sheeran, Demi Lovato, Jojo, Taylor Swift, Beyonce, Selena Gomez e Michel Teló.

- Quem é Michel Teló?

- É um cantor brasileiro, depois lhe mando o link da música dele pelo twitter ok?

- Tudo bem.

- E você Lauren, curte que tipo de música?

- Lana del rey, Tove lo, Ed Sheeran, Maná, Rihanna, Guns e Adele... É mais esse meu estilo. Mas gosto de One Direction também! Meu predileto é o Zayan, e o seu?

- Eu acho mais fofo o Harry... Gosta de comer o que?

- Nossa como você muda de seguimento rápido hein? - Fiquei super vermelha, e Lauren não conseguia parar de rir da minha cara. - Calma Camila, não foi uma crítica... Foi uma observação espontânea, relaxa está tudo bem.- Ela olhou para as minhas pernas como se estivesse analisando, e logo depois repousou sua cabeça nelas - Se importa, Camila?

- Não, pode ficar... Seu cabelo tem uma cor bonita. É macio.

- Obrigada, mas seu cabelo também é lindo. – Lauren segurou uma das mechas do meu cabelo, e eu fiz o mesmo com o dela, como se estivéssemos fazendo uma análise dos fios. – Seu cabelo é bem macio também... Respondendo sua pergunta, eu tenho uma filosofia gastronômica sabe Camila, eu estou disposta a experimentar de tudo! Se alguém me oferecer polvo... Eu como, afinal não sei que gosto tem

- Ai credo! Não me imagino comendo polvo... É nojento, seria como ir ao extremo da degustação, tipo cérebro de macaco...Tem gente que come isso sabia?

- Sim já sabia, mas até cérebro de macaco eu comeria, afinal eu não sei que gosto tem... Vai que eu goste! Mas o que eu mais gosto é de arroz doce... Minha mãe faz um arroz doce D.I.V.I.N.O, você tem que experimentar! Já que moramos na mesma cidade... No mesmo bairro, poderíamos ficar mais próximas. Meus pais vão gostar de ter amigos latinos.

- Seria ótimo Lolo.

Foi aí que eu percebi que Lauren me olhou com espanto, fiquei pensando se tinha dito alguma coisa de errado... Até que tinha percebido que tinha chamado de "Lolo"

- Ai, desculpa! Eu e essa mania super idiota de dar apelidos, desculpa.

- Calma...Tudo bem, nunca ninguém me chamou de Lolo... Gostei! Pode me chamar assim. Você tem algum apelido?

- Meus pais me chamam de Kaki, na verdade minha irmã também. Quando a Sofi nasceu, a primeira palavra que ela disse foi Kaki. Meus pais ficaram sem entender o porquê disso, um belo dia quando voltei de um passeio, ela estava no cercadinho brincando na sala e meu pai vendo TV, quando eu cheguei ela gritou KAKIIII e deu os bracinhos para mim. Ai desde então só me chamam assim lá em casa.

- Sua irmã é aquela linda garotinha que estava com você na audição?

- Hurum

- Ela é linda! Gostei do apelido, mas isso é algo só pra família... Vou te chamar de Ca... CAMZ!

- Camz?

- É Camz! Alguém já te chamou assim?

- Não.

- Ótimo, é um apelido exclusivo... Só eu que tenho o direito de te chamar assim.

- Fechado!

Escutamos o pessoal da produção pedindo para todos nós caminharmos para dentro do teatro, Lauren me ajudou a levantar e mais uma vez pegou em minha cintura e foi me guiando.

Lauren era mais legal do que eu pensava... Quando chegamos na parte onde já tinha um chão de cimento, ela soltou minha cintura, e deu suas mãos pra mim.

Eu nunca tinha andado de mãos dadas com ninguém a não ser meus pais.

Achei tão fofa a atitude dela. Antes de entrarmos ao teatro ela parou de andar e virou para mim.

- Camz, não temos muito tempo... Precisamos entrar logo, por isso preste atenção no que eu vou te dizer. Você é minha adversária nesta competição. Mas honestamente eu não consigo te ver assim, então lhe prometo... Eu vou dar sim o meu melhor aqui dentro, mas nunca vou competir com você, mesmo que mais para frente sejamos obrigadas a fazer um duelo de voz. Eu darei o meu melhor, você o seu. E pronto! Deixaremos a decisão nas mãos deles.

- Tudo bem, por mim está tudo ok Lolo.

- Mais uma coisa, nunca diga que você não tem amigos... Você tem a mim! Sou sua amiga a partir de agora, e já aviso! Sou bem possesiva, gosto de cuidar, de defender e de estar perto. Por isso se alguém te magoar, não fique remoendo isso, conte pra mim... Aí, ou eu dou uma lição de moral no idiota, ou eu quebro a cara dele, ou apenas te dou meu colo e te compro um chocolate para você melhorar... Somos amigas.

Meus olhos se encheram de lagrimas, eu nunca tive um amigo...Eu nunca tive alguém para me defender.

Eu abracei Lauren como quem abraçava o mundo inteiro, e sussurrei um obrigada em seu ouvido.

Quando nos desfizemos do abraço eu pude ver um sorriso tão lindo, ela é muito linda.

- Vamos Camz, está na hora do show!

Lauren me deu um sorriso que poderia iluminar o mundo...Eu tinha uma amiga.
Peguei em sua mão e entramos... E que comece o Bootcamp!

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora