Devolvendo a música

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POV LAUREN

Já fazem seis meses que eu sofri o acidente, cinco meses de tratamento, voltei a trabalhar, já que para isso não preciso ficar de pé ou andando, todos os dias, Cris ou Taylor me levam no ateliê e me buscam no final do dia.
Tenho dito uma boa recuperação, já consigo ficar de pé no andador, no começo fazia uma força descomunal para me sustentar naquela posição, hoje já é mais tranquilo.
O que está mais tranquilo também é minha relação com Camila, brincamos muito uma com a outra quando estamos juntas nos exercitando.
Não vou mentir, rola um clima forte entre nós, mas ela sempre desiste quando estamos perto demais.

Na última sessão, estávamos na piscina, da clínica dela, já consigo mexer minhas pernas... Meus pés.
Mas Camila pediu para me enroscar em sua cintura, suas mãos estavam nas minhas costas, e conforme me grudei nela, suas mãos foram parar na minha bunda, ficamos nos olhando em transe até que o clima foi cortado pela Jessica que entrou sem permissão na ala da piscina e fez o maior escândalo.
Eu tentei, defender a Camila, mas Jessica me mandou calar a boca.
Camila e ela brigaram na minha frente, foi feio a discussão... A minha vontade era de dar um soco na Jessica, não suporto ver pessoas gritando com mulher, ainda mais se a mulher for a Camila.

Na hora achei que Jessica tinha pegado o nosso clima e visto a Camila com a mão em minha bunda, mas o escândalo da outra foi só por Camila estar de biquíni trabalhando comigo na minha recuperação.
Estamos na semana do aniversário da Camila, ela vai dar uma festinha na casa dela... Festa essa que nem convidada fui, só fiquei sabendo da festa porque Dinah comentou comigo que não sabia o que comprar pra levar na festa.

Ela ficou magoada por eu não ter sido convidada, mas apesar do meu clima bom com ela nas sessões, eu sabia que ela estava sendo profissional, criando um ambiente legal para que meu tratamento corra bem.

- Papa. - Chamei meu pai que estava lendo o jornal.

- Sim filha.

- Me leva até o centro da cidade?

- Vai ao ateliê hoje?

- Não, quero comprar o presente da Camila.

- Filha, não precisa... Ela não merece.

- Pai, não seja rude com ela... Até porque amanhã ela vai vir aqui em casa pra sessão, não quero você com cara de bravo com ela... Ela tem os motivos dela por não ter me convidado.

- Não é justo... De qualquer forma, não é justo.

- Se você não quiser me levar, eu dou um jeito de ir assim mesmo. - Disse determinada, e eu iria mesmo, mesmo sem a ajuda dele.

- Ok, eu te levo. - Ele se rendeu a mim, e me levou.

Com muito custo consegui convencer meu pai, eu já sabia bem o que comprar para ela, eu nem sabia se ela iria um dia usar, mas eu me sentia no dever de devolver isso a ela.
Fui em uma loja musical e achei um violão lindo... Achei que ela iria gostar, comprei as melhores paletas, o melhor estojo e tudo mais que se precisa para um violão ser completo.
Voltei para casa com o instrumento, o dia passou rápido, trabalhei tanto, desenhei tanto e o dia passou.

Sexta feira, duas da tarde, Camila tocou a campainha de casa, eu mesma atendi, nos cumprimentamos e fomos para a sala, me segurei no andador

- Hoje sem andadores Lauren - Camila me disse com aquele seu jeito autoritário.

- Mas eu não consigo ficar de pé sem eles.

- Vamos dar uma volta pela sua sala, hoje você vai se apoiar em minhas mãos... Confia.

- Não quero cair.

- Não vou deixar, segura primeiro em meus ombros... Depois passaremos a caminhar segurando as mãos.

E foi feito isso, quase no final das duas horas de exercícios voltamos a caminhar pela sala, e ela do nada soltou suas mãos das minhas, ficando cinco passos na minha frente.

- Vem, me alcança. - Camila esticou seus braços em minha direção.

- Eu vou cair.

- Garanto que não.

Respirei fundo, minhas pernas doíam, e depois de quase dez minutos eu consegui chegar até ela, até porque a cada passo que eu dava em sua direção, ela dava um para trás, fui perceber isso depois.

- VOCÊ CAMINHOU LAUREN! - Ela disse toda animada, até parecia que seu time tinha ganhado a NBA.

- CAMINHEI?

- SIM! OLHA DE ONDE VOCÊ SAIU E OLHA ONDE NÓS ESTAMOS – Ela me abraçou forte e me deu um beijo na bochecha. – Agora é só aprimorar, você já voltou a andar, nada de cadeira de rodas, andador... No máximo muletas.

- Obrigada Camila, de verdade... Muito obrigada. – Comecei a chorar, eu achei que nunca mais iria conseguir andar, então ela me abraçou forte.

- Obrigada você... Obrigada você. – Ficamos em silêncio, abraçadas, em plena calma, já que meu pai tinha saído de casa. – Você é muito especial para mim Lauren.

- Você também é Camila. – Desfiz o nosso abraço e passei a mão no rosto enxugando as lágrimas que teimavam a cair do meu rosto. – Senta aqui no sofá. – Eu preciso te entregar uma coisa, você me autoriza a ir na cadeira de rodas?

- Ok, dessa vez, pode... Tome as muletas. – Camila me entregou o par de muletas para eu conseguir chegar até a cadeira.

Aos poucos cheguei a cadeira, me sentei e fui até meu quarto, coloquei o violão no colo e sai em direção a sala.

- Fecha os olhos Camila!

- Ok, fechei. – Fui indo a sua direção e quando fiquei na sua frente, coloquei o estojo no seu colo. – É um bicho?

- Não... Pode abrir. – Camila abriu os olhos e viu aquele estojo de violão em seu colo, senti que ela estava emocionada, ela abriu o estojo em uma rapidez, parecia uma criança quando ganhava um presente que queria muito, ela deixou o estojo de lado e pegou no violão, ela alisava ele com toda delicadeza. – Gostou?

- Muito. – Seus olhos estavam cheios de lágrimas que não demorariam a cair. – Obrigada.

- É meu presente de aniversário. – Camila me olhou surpresa. – Quem sabe você não faça um som com ele na sua festa, sua mãe vai amar ver você tocando.

- Lauren, sobre a festa... – Tampei sua boca.

- Está tudo bem, eu estou bem com isso... Juro que estou, não precisa me dar satisfação... Feliz aniversário. – Segurei sua mão e depositei um beijo em cada dedo dela, Camila começou a sorrir. – Tenho certeza que seus dedos jamais esqueceram como é tocar esse instrumento, dizem que é como andar de bike... Sei que tirei sua vontade de tocar violão no passado, hoje eu quero te devolver a música, traga música para sua vida e faça desse violão sua melhor companhia. 

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