Culpa

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POV CAMILA

Era minha culpa...

Era a única coisa que eu conseguia pensar naquele momento, eu não deveria ter colocado ela no carro e obrigado ela a dirigir, ainda mais um carro tão potente. Deveria ter dado um banho frio nela, dado uma sopa e colocado para dormir no quarto de hospedes.

Droga!

Sai correndo para o hospital, na avenida a beira mar, vi uma movimentação de policiais e percebi de longe, é o carro da Lauren.
O carro nem parecia um carro mais, o poste estava intacto, apenas um pouco torto, porem o carro destruído, a frente dele, o lado do motorista... completamente afundado.
Cheguei no hospital correndo, entrei na minha sala e vesti meu jaleco de qualquer jeito, e fui atrás da família de Lauren.
Chegando lá estava Clara e Mike sendo amparados pela Sofi e pela Taylor, Normani e Dinah em um canto.

- Kaki – Sofi veio correndo me abraçar. – Que bom que você chegou, a Lauren está muito machucada, por favor ajuda ela! – Sofi caiu em choro, então abracei minha irmã.

- Alguém sabe me dizer aonde ela está?

- Não, os médicos não querem dizer, as enfermeiras sabem, mas disseram que preferem esperar o procedimento terminar... Mila, na boa, eu não tenho mais unhas e nem mais lagrimas, usa a sua autoridade aqui no hospital e exija informações! - Dinah me pediu.

- Ok, - Apertei a campainha que chamava uma enfermeira.

- Posso ajudar? – A enfermeira ficou pálida quando me viu, eu realmente era respeitada naquele lugar. – Em que posso ajudar doutora Cabello?

- Um relatório completo da situação da paciente Lauren Michelle Jauregui por favor.

- Doutora eu não...

- Eu quero isso agora, depois se o médico que está com ela, achar ruim, peça para ele vir falar comigo.

- Ok, só um mim, eu vou atualizar o relatório e trago o mais rápido possível e trago para a senhora. – A enfermeira sumiu da minha vista.

- Obrigada Camila. – A mãe de Lauren me disse com voz baixinha. – Eu não consigo acreditar nisso, ontem ela estava bem, feliz no casamento e agora... – Ela caiu no choro então eu abracei-a.

Vi que o senhor Mike estava muito vermelho, isso não é normal, peguei um aparelho e medi sua pressão, e estava altíssima, chamei outra enfermeira.

- Clarice, que bom que é você. – Eu disse em tom cordial. – Eu preciso que você me traga um balão de oxigênio, pode ser do manual mesmo e por favor, você como chefe das enfermeiras, escale uma estagiaria para ficar aqui... O pai da paciente Jauregui está com a pressão altíssima, eu quero que fique aqui conosco um profissional da área para qualquer eventualidade... Tudo bem?

- Sim doutora, vou providenciar agora mesmo.

- Calma senhor Mike, sua filha é forte como um touro... Ela é uma Jauregui. – Dei um sorriso e ele me sorriu de volta. – Respire fundo.

Depois de cinco minutos a enfermeira me trouxe o relatório sobre o estado de Lauren.

- Leia logo Mila! – Dinah disse impaciente.

- Eu preciso ler primeiro, está tudo em linguagem médica... Espera ai. – Dei uma olhada nas três folhas do relatório e comecei a ler. – ok.

- Já pode falar o que minha filha tem?

- Sim dona Clara... A paciente Lauren Michelle Jauregui de 28 anos, deu entrada no hospital as 4:52 da manhã (o que me fez perceber, para piorar as coisas, que era próximo ao horário que ela estava em casa). Ela colidiu com o seu carro em um poste na avenida Miami 94. A paciente chegou desacordada ao hospital, com grandes cortes nas pernas, uma perfuração na barriga e com o pescoço imobilizado, fora arranhões e cacos de vidro inseridos em seu corpo na região do peitoral, cabeça e costas. – Todos começaram a chorar, inclusive eu fiquei com os olhos marejados, Lauren chegou em estado deplorável no hospital. – Ela foi encaminhada para o setor de cirurgias, para retirada dos cacos de vidro do seu corpo, por volta das seis da manhã ela teve uma parada cardiorrespiratória, entrando em estado de óbito por vinte segundos. – O choro se intensificou. – Porém voltou, ela foi transferida para um médico neurologista, pois foi detectado um traumatismo craniano nível 3 (que já é considerado grave). Entrou em operação, e se encontra na sala de cirurgia passando para os procedimentos, neste período sofreu mais duas paradas cardíacas e está totalmente dopada em trabalho cirúrgico.

- Minha irmã... Meu Deus! - Taylor se jogou nos braços do seu esposo.

- Eu não posso fazer nada, a não ser ajudar em busca de informações, eles irão me chamar, somente se for necessário uma fisioterapeuta.

- Obrigada Camila. - Clara me deu um sorriso.

- Não me agradeça... Vou ficar aqui com vocês.

As horas passaram, Jessica ficou sabendo que eu estava no hospital e mandou me chamar na sala dos médicos, discutimos porque ela acha que eu não deveria estar do lado da família dela... Por fim, fiz Jessica se acalmar e voltei a sala onde todos estavam.
Cancelei minhas consultas na clínica, pedi para minha secretária explicar a situação aos clientes.

No final da tarde, Lauren finalmente saiu da sala de cirurgias e foi encaminhada a UTI. Meus colegas de trabalho estavam exaustos, mais de sete horas de trabalho duro, eu preferi não contar esse detalhe para os pais de Lauren, mas os médicos me disseram que ela entrou em óbito por mais quatro vezes durante a cirurgia, que o coração dela parava.

Taylor e seu esposo resolveram dormir no hospital.
Dinah foi para a casa com Normani.
Os pais de Lauren foram para a casa, pois Cris iria chegar cedo da África, por conta do acidente de Lauren ele misteriosamente (digo, misteriosamente porque a ONU é super rígida com seus funcionários e Cris como medico é importantíssimo para eles, e ele não tinha férias para tirar, então não sei como ele conseguiu vir).

Sofi veio comigo para a casa, pedimos uma pizza e ela dormiu comigo.
Foi difícil pegar no sono, fechava os olhos e lembrava de Lauren me dizendo aquelas coisas no casamento... E me dando o anel de plástico.

Meu Deus, o anel de plástico! Sai da cama correndo e fui até a sala, ele estava lá intocável, peguei ele e coloquei em minhas mãos... Foi impossível não chorar, por mais que ela estivesse tonta, ela foi adorável... A bêbada mais adorável e eu a tratei como um lixo.

No dia seguinte, Sofi foi para a faculdade cedo, e eu voltei para o hospital, todos estavam lá, menos Dinah.

- Cadê a DJ? – Perguntei a Normani.

- Ela estava aqui, mas Ally ligou, e ela se afastou para as duas conversar.

- Ally? – Perguntei surpresa. - Você falou com a Ally?

- Não. – Disse Normani de um jeito triste.

Fui falar com os médicos que cuidam da Lauren, ela passou a noite totalmente sedada porém, seu cérebro estava trabalhando bem, era um bom sinal. Ficamos todos na sala, eu tinha meu trabalho e meus pacientes, então, fazia o que era preciso ser feito e corria para a sala onde todos estavam.

- O que foi Dinah? Perguntei para Dinah que voltou com a cara vermelha.

- Xinguei muito a Ally.

- E ela ficou brava? - Normani perguntou.

- Não, ela só escutou... Disse que eu tenho razão... Nem para brigar comigo ela se deu ao trabalho... Disse que sua tour termina daqui um mês, que vai vir visitar Lauren e que está torcendo por ela.

- Oque? Um mês? – Normani disse aumentando a voz.

- É! E fala baixo. – Dinah a repreendeu.

- Tenho um mês para fazer um plano para sumir de Miami.

- Normani! – Dinah chamou sua atenção. – Encare os fatos, você tem um mês para se cuidar, ficar maravilhosa e mostrar para ela que você está bem sem ela!

- Eu não vou aguentar ver ela! – Com os olhos marejados.

- Depois a gente pensa nisso. – Disse em tom calmo. – A prioridade é a Lauren ok?

Passaram se duas semanas e meia de agonia, e no meio da tarde Taylor me liga.
Lauren acordou.
Foi uma alegria misturada com uma incerteza, não sabia se deveria ir vê-la. Terminei de atender uma paciente e subi para a sala onde os familiares estavam... (ou melhor, eu achei que estariam) Encontrei o Dr. Aron é um excelente medico e operou Lauren.

- Aron, onde está todo mundo da sala?

- No quarto da paciência, a recuperação delas desde que acordou, foi muito rápida! Está em observação, mas ela pode tranquilamente receber visitas... Dra. Cabello, ela é sua amiga não é? – Afirmei com a cabeça. – Vai vê-la então! Ela está tão feliz de ver as pessoas que ela gosta perto, tenho certeza que ficará feliz com sua presença.

Cheguei no quarto e todos estavam sorrindo, Lauren estava fraca, mas sorriu pra mim.
Dinah me empurrou (afinal eu não tinha pernas para chegar nela) até a Lauren.

- Oi - Ela me disse dando um sorriso fraco.

- Oi. - Segurei sua mão.

- Tudo bem Camila? Você está tão branca quanto eu.

- Você nos deu um susto Lauren.

- É fiquei sabendo.

- Você como medica poderosa poderia me dizer quando eu saiu daqui?

- Não agora, mas assim que souber, juro que te conto em primeira mão.

Fomos interrompidas por um policial

- Desculpe atrapalhar, mas eu preciso pegar um depoimento da paciente, ou é isso, ou ela terá que ir a delegacia.

- Minha filha acordou não faz nem duas horas policial? Isso é necessário mesmo?

- É, e eu só estou aqui porque os médicos me garantiram que ela já está apita a responder.

- Pode falar oficial. - Lauren falou para o policial lhe dando um breve sorriso.

- O que aconteceu na noite do acidente, você se lembra?

- Perfeitamente. – Lauren pegou um pouco de folego. – Eu bebi muito em um bar, depois sai com o carro e bati no poste.

- Foi somente isso? - Policial disse desconfiado.

- Sim, tenho plena certeza.

- Ok, é só para finalizarmos o inquérito... Senhorita Jauregui, você sabe que se alguma pessoa a viu neste estado e não te impediu de dirigir essa pessoa pode ser presa.

- Sei sim, realmente foi exatamente o que eu te disse. Sai do bar, entrei no carro e bati minutos depois.

- Bom, se você saiu de um estabelecimento público, eu não posso atoar ninguém. Fecharei o inquérito.

- Muito obrigada policial. - Lauren sorriu e o policial logo foi embora.

Finamente aquele homem foi embora, eu não sabia que era crime deixar alguém bêbado dirigir, na verdade eu não só deixei Lauren dirigir como também a obriguei a sair com o carro dali, justo eu uma medica... Ai que vergonha. Ainda bem que a Lauren não lembra dessa parte.

- Boa tarde a todos, eu preciso que todos saiam agora, vou fazer exames na paciente, daqui meia hora no máximo, todos vocês podem voltar. – Dr. Josh disse e nós todos saímos.

Depois de um tempo o médico voltou não com uma cara muito boa.

- Tivemos que encaminhar a paciente para um exame de raio-x mais detalhado.

- Aconteceu alguma coisa com a minha filha? - Mike perguntou.

- Vamos esperar os exames saírem.

Quase uma hora depois, os médicos autorizaram a gente a ir ao quarto. Lauren estava calma.

- Oque você tem minha filha?

- Calma mãe, o médico já me disse e enfim, vamos deixar ele falar.

- A Lauren está bem, porém nos exames de rotina, foi detectado um problema em suas pernas, ela não está sentindo as pernas dela... Isso é normal em vista do que ela passou? Não, já respondo que não... Porém eu vejo isso como uma sequela.

- Então minha irmã vai ficar sem andar? – Cris perguntou.

- Depende, depende da força de vontade dela e da profissional que vai estar com ela. – Foi nessa hora que eu gelei. – Mas pelo oque eu vejo aqui a Dra. Cabello é amiga de Lauren, e Lauren tem muita sorte, pois a Dra Cabello é sem duvidas a melhor fisioterapeuta não só de Miami, mas me atrevo a dizer, do país, Lauren está em boas mãos!

Inventei uma desculpa e sai daquela sala assim que pude... Todos ficaram sem me entender, então fui correndo para minha sala.
Fiquei pensando em como recusar, eu não queria tratar Lauren, não saberia como fazer isso! Até que Dinah e Normani entraram na minha sala sem avisar.

- Bater na porta faz bem meninas.

- Eu saquei qual é a sua... Você não se atreva a negar ajuda a ela!

- Ela não vai ficar desamparada, eu vou achar um fisioterapeuta que vai ajuda-la

- Mila, pra que ela tratar com a segunda, terceira ou quarta melhor profissional se ela pode ter a primeira... Aquele medico sabe oque está dizendo, olha, eu nunca fui ligada a essas coisas de médicos, mas seus feitos falam por sí só, você é a melhor! - Normani disse.

- Mila, pelo amor de Deus, ajuda a minha irmã a voltar a andar - Dinah me encarou chorando.

- Não é certeza que ela volte!

- Mas pelo menos tente! Tenta por favor!

Voltei para o quarto de Lauren acompanhada de Normani e Dinah.

– Eu vou pegar o caso. – Todos vieram me abraçar.

- Minha querida, eu sei que isso não é fácil para você, pela parte pessoal, mas muito obrigada de verdade. – Clara me abraçou apertado.

- Eu não quero. – Lauren se manifestou. – Agradeço, mas eu não quero que a Camila me trate.

- Filha, você nunca foi burra... Não seja agora, Camila é a melhor do país! - Mike disse.

- Eu sei, não duvido da capacidade dela... Eu só não quero ela, não preciso. – Ela olhou para mim. - Você não precisa se sujeitar a isso Camila... Obrigada mas não.

- Mas eu quero - A rebati de imediato.

- Eu não quero.

- MAS EU QUERO - Gritei para ver se ela entendia.

- EU NÃO QUERO CAMILA!

- CHEGA! – Normani gritou. – QUE BOSTA! Lauren, você não tem que querer nada nesse momento! A Camila vai te tratar sim, e você vai fazer tudo o que ela pedir! E você Camila vai ser o mais profissional o possível! Esqueça que já tiveram algo.

- Normani... Não precisa falar essas coisas. - Pedi toda encabulada.

- Camila, esqueceu que você gritou no aniversário da abuelita que a Lauren tirou sua virgindade? Todo mundo sabe que vocês tiveram um namoro, e que a Lauren te chifrou e que você se tornou essa mulher amargurada por isso. Então sem tentar esconder o que todo mundo já sabe. – Normani cruzou os braços. - Gente, me desculpa, mas essas duas são como Tom e Jerry, eu morei cinco semanas com essas duas se alfinetando... Eu achei que não iria sobreviver! – Todos começaram a rir e eu e Lauren coramos de vergonha.

- Filha, aceita a ajuda da Camila. – Mike segurou a mão da sua filha. – Eu prometo que assim que você melhorar, eu te levo para pescar! Lembra? Sempre foi o nosso programa predileto de pai e filha mais velha... Aceita?

- Ok. – Lauren disse totalmente sem jeito.

- Ótimo, eu vou dar uma olhada nos seus relatórios e depois volto para conversarmos. - Disse me retirando da sala.

Sai de lá, e fui ao refeitório beber uma água, e digerir aquilo tudo... Mergulhei no quadro clinico da Lauren, ví fotos de como ela chegou e de como procedeu a cirurgia, definitivamente, é um milagre ela estar viva. Jessica deu um escândalo ao saber que eu cuidaria de Lauren pessoalmente, só não brigamos mais pois chamaram ela na emergência.
Voltei ao quarto de Lauren, Cris iria dormir lá... Mas aproveitou para comer algo enquanto a visitava.

- Vamos ter muito trabalho Lauren, coisa de meses...

- Imagino.

- Lauren, porque você não me queria como sua fisioterapeuta?

- Porque primeiro, sei que Dinah e Normani foram atrás de você te obrigando a aceitar e segundo porque eu sei que você também tem um sentimento de culpa... Não foi culpa sua.

- Como assim?

- Camila, eu lembro de tudo, lembro que fui na sua casa, que te pedi em casamento com um anelzinho de plástico, que gritei horrores até te convencer a abrir a porta e sei que você me expulsou de lá.

- E porque não falou isso para policia?

- Mais do que te indiciarem por algum crime, minha família, nossos amigos iriam ficar contra você... Eu não quero nada disso, já passou, eu estou viva... É o que importa, não sinta culpa. A culpa é minha por ter bebido demais, pensa, para chegar na sua casa, eu dirigi e eu já estava em um estado alterado... Muito alterado, então foi uma questão de tempo, não bati na ida para sua casa, mas bati na volta.

- Lauren, me desculpa... De verdade, eu fui uma insensível.

- Esquece isso, eu fui uma bobona patética vamos aos trabalhos ok? Prometo me dedicar. Já sabe me dizer quando eu saiu?

- Conversei com o Josh e o Aron, eles disseram que no máximo daqui uma semana você sai daqui, ai vamos trabalhar durante duas horas três vezes por semana... Você vai voltar a andar, eu sei que vai.

- Tomara Camila.

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